Novo modelo para as Olimpíadas

Jogos são grandes e caros demais para uma só cidade

Por The Conversation | ODS 11Rio 2016 • Publicada em 8 de agosto de 2016 - 19:09 • Atualizada em 8 de agosto de 2016 - 22:55

Ironicamente, as Olimpíadas são vítima de seu próprio sucesso. Sua popularidade resultou num grave caso de gigantismo
Ironicamente, as Olimpíadas são vítima de seu próprio sucesso. Sua popularidade resultou num grave caso de gigantismo
Ironicamente, as Olimpíadas são vítima de seu próprio sucesso. Sua popularidade resultou num grave caso de gigantismo

(Paul Christesen*) –  O Rio de Janeiro tem desafios particulares para realizar os Jogos Olímpicos, como a ameaça do vírus da zika, a insegurança na cidade e dificuldades de mobilidade urbana, para citar alguns. Mas a verdade é que uma série de outros problemas vem atormentando todos os anfitriões de Olimpíadas, desde os custos estonteantes a preocupações com o impacto ambiental de enormes projetos.

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Quando os previsíveis excedentes forem levados em conta, os Jogos do Rio poderão custar mais de US$ 20 bilhões (mais de R$ 60 bilhões). Isto no momento em que uma severa crise econômica no Brasil resultou em cortes na área de serviços básicos de saúde.

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Os Jogos se tornaram grandes, caros e complicados demais para uma única cidade. O Comitê Olímpico Internacional (COI) deveria realizar as competições para cada esporte numa cidade diferente do mundo. Para um evento internacional que, tradicionalmente, está tão ligado à celebração da história e dos progressos de uma cidade, isto pode parecer exagerado.  Mas o mundo mudou fundamentalmente desde que o COI organizou os primeiros Jogos, no final do século XIX.

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Hoje, a descentralização das competições é a única maneira de assegurar que a população de cidades em países democráticos apoie a candidatura para sediar as Olimpíadas. E se o COI deseja tirar vantagem dos recentes avanços em tecnologia, poderá tornar os Jogos mais atraentes e mais capazes de cumprir sua missão.

Ironicamente, as Olimpíadas são vítima de seu próprio sucesso. Sua popularidade resultou num grave caso de gigantismo. Desde 1980, o número de eventos nos Jogos de Verão (como os do Rio) aumentou em 50%. O número de atletas e países participantes quase dobrou e o pessoal necessário para operar as competições triplicou. As Olimpíadas de Londres (2012), em que mais de 10 mil atletas tomaram parte, exigiram um staff acima de 350 mil pessoas.

Vista aérea do Parque Olímpico na Barra da Tijuca

Os custos dispararam. Quando os previsíveis excedentes forem levados em conta, os Jogos do Rio poderão custar mais de US$ 20 bilhões (mais de R$ 60 bilhões). Isto no momento em que uma severa crise econômica no Brasil resultou em cortes na área de serviços básicos de saúde. A situação ficou tão crítica que o governador do Rio declarou estado de emergência para ter acesso a mais verbas federais.

O número de cidades no mundo desejosas e capazes de sediar as Olimpíadas em sua forma atual é pequeno e está diminuindo. E elas não se encontram em boa posição para representar os ideais olímpicos: promover a paz mundial e os direitos humanos através do esporte.

Seria difícil, por exemplo, defender o argumento de que a Rússia de Vladimir Putin é um bom lugar para sediar um evento destinado a estimular a paz e os direitos humanos. Os Jogos de Inverno de 2014 em Sochi, entretanto, não estão sozinhos. Quatro cidades retiraram suas candidaturas aos Jogos de Inverno de 2022 (três delas por preocupação com custos, corrupção, impacto ambiental e destinação para as arenas após as competições). Apenas Almaty, no Cazaquistão, e Pequim mantiveram o interesse. Nem o Cazaquistão nem a China podem ser considerados exemplos de respeito aos direitos humanos.

Em 2014, o COI estudou propostas para reestruturar os Jogos. Uma delas – rejeitada como radical demais –  propunha a descentralização dos eventos em diferentes cidades de diferentes países. A lista de vantagens de sua adoção é longa. A começar pelo fato de que haveria centenas de cidades desejosas e capazes de receber a disputa de um esporte olímpico. Elas se candidatariam a sediar um esporte popular naquele local e para o qual uma parte importante da infraestrutura exigida já estivesse disponível, o que reduziria enormemente os custos e o impacto ambiental.

Por exemplo, a cidade de Louisville, no Kentucky (EUA), onde foi realizado o Campeonato Mundial de Equitação, em 2010, seria uma candidata natural à parte equestre dos Jogos. Da mesma forma, Manchester, na Inglaterra, que tem um velódromo excepcional, seria uma sede ideal para as competições de ciclismo.

A descentralização das Olimpíadas também resolveria o problema de achar usos para os locais de competições construídos para os Jogos, quase sempre a um custo muito alto, para depois serem pouco usados ou mesmo abandonados. Um estádio olímpico para softball em Atenas, Grécia (2004), tornou-se inútil no momento seguinte em que as Olimpíadas foram encerradas no país em que foram criadas, na Antiguidade. Softball não é um esporte popular na Grécia. O mesmo estádio em Athens, na Geórgia (EUA), seria extremamente útil por décadas.

A reconfiguração tornaria os Jogos, pela primeira vez, um evento realmente global. Dezenas de países que nunca seriam financeiramente capazes de recebê-los na sua atual forma – como Quênia, Tailândia ou Chile, para citar apenas três – poderiam facilmente hospedar um único esporte olímpico. Ao invés de ser uma ocasião de exibição nacionalista de um único e poderoso país anfitrião, os Jogos se tornariam uma celebração da diversidade humana.  Os telespectadores em todo o mundo poderiam sintonizar num evento de atletismo em Nairóbi, num jogo de badminton em Bangcoc ou num triatlo em Santiago.

*Paul Christesen é professor do Darmouth College (EUA).

(Tradução: Trajano de Moraes)

The Conversation

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