Economia regenerativa no centro da Visão 2050 de empresários

Centro de Triagem de Resíduos Recicláveis no Paraná: reaproveitar é ponto de partida para economia circular e regenerativa (Foto: Divulgação)

CEBDS lança estudo com agenda para as empresas, com novas formas de fazer negócio e na direção de um futuro sustentável

Por Oscar Valporto | ODS 12ODS 6ODS 7 • Publicada em 26 de março de 2021 - 09:52 • Atualizada em 27 de março de 2021 - 09:16

Centro de Triagem de Resíduos Recicláveis no Paraná: reaproveitar é ponto de partida para economia circular e regenerativa (Foto: Divulgação)

Regeneração, inclusão, responsabilidade, distribuição e, naturalmente, sustentabilidade. Essas foram as palavras mais ouvidas no lançamento, através de seminário digital, do estudo Visão 2050, documento do CEBDS (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável) para delinear o futuro desejado pelo setor empresarial e os passos necessários nessa trajetória. “Para chegarmos a uma economia regenerativa e distributiva, na qual a necessidade de todas as pessoas seja atendida sem esgotar os recursos do planeta. Isso exige uma transformação sistêmica das empresas e da sociedade”, afirmou a presidente do CEDBS, Marina Grossi, na abertura do webinar.

A publicação Visão 2050 – com 89 páginas – é a conclusão de um trabalho iniciado com a realização, entre abril e agosto de 2020, de oito seminários temáticos, com mais de 4.000 participantes, reunindo empresários, executivos, acionistas, representantes da sociedade civil. São estes oito temas que serviram de pilares para o estudo do CEBDS: Pessoas, Cidades, Economia Circular, Água e Saneamento, Biodiversidade, Alimentos, Energia e Finanças.

No lançamento, o CEBDS reuniu oito executivos de empresas integrantes do conselho para falar sobre os temas. “As empresas precisam começar a tomar as decisões de negócio para atender a necessidade das pessoas em todas as esferas. Estamos pavimentando esse caminho no sentido de substituir o capitalismo de shareholders (acionistas) para o capitalismo de stakeholderss (parceiros, no sentido de fornecedores, consumidores, sociedade). Todas as empresas estão deixando a missão. visão, valores para tratar de propósito. O grande desafio é ter o ser humano no centro de todas as decisões”, disse Marcos Bicudo, presidente da Vedacit.

A precificação do carbono, soluções econômicas baseadas na natureza e a transição energética representam trilhões de dólares em oportunidades e o potencial de consagrar o Brasil na liderança da nova geopolítica de uma economia circular, de baixo carbono, regenerativa e inclusiva

Presidente da Ticket Log, Jean-Urbain Hubau apontou o papel da tecnologia como ferramenta para tornar as cidades mais sustentáveis e inclusivas. “São fundamentais parcerias público-privadas para avançar tornar centrais temas como transporte sustentável, reuso da água e gestão dos resíduos”. Thiago Trecenti, presidente da Lwart, destacou a importância do engajamento da sociedade para desenvolver a economia circular. “As empresas são fundamentais mas é preciso a participação efetiva do poder público e da própria sociedade para termos uma economia regenerativa”, disse Trecenti.

Presidente da BRK Ambiental, Teresa Vernaglia mostrou otimismo, ao falar sobre água e saneamento, com a aprovação do novo marco legal do setor. “São necessários R$ 700 bilhões em investimentos para alcançar a meta de toda a população ter acesso a agua e esgoto. Só chegaremos lá com recursos da iniciativa privada”, disse. André Clark, diretor da Siemens Energia, frisou o potencial brasileiro no setor. “Nossa matriz energética já é uma das mais sustentáveis. Investimentos em energia eólica e solar podem aumentar ainda mais essa presença”, argumentou Clark, lembrando que é fundamental reduzir o desmatamento para preservar os recursos hídricos.

Também participaram do seminário o diretor-executivo de Relações Institucionais e Comunicação da VALE, Luiz Eduardo Osorio, que falou sobre biodiversidade (“O fomento da cadeia produtiva da sociobiodiversidade é fundamental”); Rodrigo Santos, presidente da divisão Crop Science para América Latina, da Bayer (“Com inovação e tecnologia, nossa agricultura pode produzir 50% a mais usando a mesma terra”), que tratou de alimentos; e Luciana Nicola, superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Banco Itaú (“Precisamos discutir como criar acesso ao capital de forma sustentável”, que teve como tema Finanças.

Marina Grossi, do CEDBS, e executivos no lançamento da Visão 2050: empresas por um futuro sustentável, regenerativo, distributivo, responsável e inclusivo (Foto: Reprodução/YouTube)
Marina Grossi, do CEDBS, e executivos no lançamento da Visão 2050: empresas por um futuro sustentável, regenerativo, distributivo, responsável e inclusivo (Foto: Reprodução/YouTube)

O documento Visão 2050 foi elaborado com base em quatro questões discutidas em profundidade: 1. Como as empresas podem reorientar os seus negócios para atender às necessidades das pessoas sem esgotar os recursos planetários?; 2. Qual é a sua visão de futuro sobre esse tema específico no Brasil em 2050? Quais são os elementos viabilizadores para se chegar lá?; 3. Quais as principais transformações que precisam acontecer até 2030 para se chegar a essa visão em 2050? O que as alavanca e quais as principais barreiras?; e 4. Eventos disruptivos como a Covid-19 se tornarão mais frequentes? Como os negócios devem se preparar para lidar com esse maior grau de imprevisibilidade?

Marina Grossi destacou a importância de incluir a covid-19 e seus impactos nos debates das empresas. “A pandemia antecipou situações que já estavam colocadas nos cenários como as consequências da mudança climática e do uso indiscriminado da biodiversidade. Foi provocado uma reviravolta na nossa forma de ver o planeta, evidenciando as relações de interdependência. Tudo isso exige mudanças profundas nos estilos de vida e na forma convencional de se fazer negócios”, apontou a presidente do CEBDS.

Os palestrantes destacaram o potencial do Brasil para liderar uma recuperação verde no pós-pandemia. “A precificação do carbono, soluções econômicas baseadas na natureza e a transição energética representam trilhões de dólares em oportunidades e o potencial de consagrar o Brasil na liderança da nova geopolítica de uma economia circular, de baixo carbono, regenerativa e inclusiva”, destaca Marina Grossi na apresentação da Visão 2050.

O documento traz ainda dez princípios para o Brasil desejável pelos empresários do conselho em 2050.

1. Tomar decisões de negócio centradas em atender às necessidades das pessoas em todas as esferas sem esgotar os recursos planetários e com base na ciência moderna.

2. Atuar com fundamento na corresponsabilização e na convergência dos esforços dos setores público e empresarial na implementação de políticas, compromissos públicos e investimentos que combatam a desigualdade social e a corrupção e garantam os direitos humanos, a ética e a prosperidade.

3. Aplicar a tecnologia e a transformação digital em todos os setores como elementos viabilizadores de inovação e de inclusão social e assegurar a segurança e a privacidade dos dados.

4. Adotar a economia regenerativa e distributiva por meio de modelos de negócios inclusivos e participativos que promovam a educação, a saúde, a proteção social e a sustentabilidade e ter como foco metas e indicadores que atendam às necessidades de todas as pessoas dentro de um limite que seja aceitável para o planeta.

5. Assegurar a integração de pessoas de menor renda à cadeia de valor e, ao mesmo tempo, ter finanças que incorporem os aspectos ASG em todas as suas decisões e sejam orientadas pelo longo prazo, de forma a tornar o capital acessível para organizações e negócios que geram impacto socioambiental positivo na sociedade.

6. Garantir a soberania alimentar de forma equilibrada, assegurando que a produção de alimentos atenda às necessidades de segurança alimentar e nutricional das pessoas com dietas mais saudáveis e, igualmente, utilizar práticas regenerativas em toda a cadeia, valorizando a sociobiodiversidade e combatendo o desperdício.

7. Mitigar as mudanças climáticas por meio do desenvolvimento sustentável com negócios e investimentos verdes, como a precificação de carbono, e promover a transição energética e a oferta de energia renovável acessível e distribuída para todas e todos.

8. Desenvolver Soluções Baseadas na Natureza que promovam a bioeconomia, principalmente na Amazônia, e garantir a sustentabilidade e a conservação da biodiversidade para o desenvolvimento da sociedade e o combate à desigualdade social.

9. Trazer a economia circular e a inovação proveniente dela para o centro de tomada de decisão dos negócios e adotá-las, junto com o design, como abordagem para endereçar os desafios nos processos de urbanização como destinação de resíduos, escassez de recursos, emissão de gases de efeito estufa (GEE), mudanças climáticas, novos hábitos de consumo, entre outros

10. Assegurar que as cidades do futuro sejam espaços sustentáveis, inclusivos, acessíveis e acolhedores para todas e todos, possibilitando a convivência harmônica entre as pessoas e a operação por meio de uma gestão humanizada que promova o bem-estar e a qualidade de vida.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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