Investimento em pesquisa para aproveitar potencial econômico da biodiversidade

Plantação de açaí, típica da Amazônia: aproveitamento da biodiversidade gera 1 bilhão de dólares anuais com a produção do fruto na região (Foto: José Edmar de Carvalho/Embrapa)

Em webinar do CEBDS, especialistas defendem valor da floresta em pé e apontam oportunidades para o Brasil se aliar biodiversidade com tecnologia

Por Oscar Valporto | ODS 12ODS 9 • Publicada em 9 de julho de 2020 - 08:20 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 22:07

Plantação de açaí, típica da Amazônia: aproveitamento da biodiversidade gera 1 bilhão de dólares anuais com a produção do fruto na região (Foto: José Edmar de Carvalho/Embrapa)

Em webinar promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o cientista e climatologista Carlos Nobre cobrou das empresas maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento para assumir a liderança no potencial econômico da biodiversidade do Brasil. “Nunca conseguimos valor econômico na diversidade de espécies não apenas da Amazônia, mas de todos os biomas brasileiros, todos riquíssimos. O desafio das empresas é enxergar potencial. Mas, para isso, elas precisam investir em pesquisa e ciência para termos novos produtos e tecnologias para um desenvolvimento efetivamente sustentável”, afirmou Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da USP.

Há um imenso potencial biológico na Amazônia, milhares de microorganismos que podem ter incalculáveis usos para a humanidade. Para aproveitar tudo isso, temos que restaurar e proteger a floresta

O debate sobre Biodiversidade e Florestas foi o sexto webinar da série (Re)Visão 2050, realizada pelo CEBDS, com o objetivo de planejar e construir uma visão de futuro.  “É preciso compreender o valor da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos também para a geração de emprego e renda e para a redução das desigualdades sociais e econômicas”, disse Marina Grossi, presidente do CEBDS, na abertura do debate, que teve a participação também de João Campos Silva, presidente do Instituto Juruá; Patrícia Daros, gerente de Biodiversidade e Recuperação Ambiental da Vale e diretora-presidente do Instituto Ambiental Vale; e Yugo Matsuda, gerente de sustentabilidade da Suzano Papel e Celulose, com a mediação de Viviane Severiano, da ERM Consultoria Ambiental.

Carlos Nobre destacou que o Brasil ainda explora muito pouco o potencial econômico da biodiversidade da Amazônia, citando produtos como o açaí, o cacau, e a castanha, que têm rentabilidade muito maior por hectare do que a pecuária. “O açaí já passou a madeira e traz um bilhão de dólares para a Amazônia por ano. Esse potencial precisa de investimento para ser desenvolvido: ele gera riqueza e mantém a floresta em pé”, argumentou, lembrando que os outros biomas brasileiros têm biodiversidade igualmente rica. “A Mata Atlântica, relativamente ao seu tamanho, tem biodiversidade semelhante à da Amazônia. Nosso cerrado é a savana tropical mais diversa do mundo. A caatinga é a mais biodiversa deste tipo de bioma”.

O cientista afirmou que o Brasil tem tudo para ser uma potência ambiental da biodiversidade. “Nosso país tem o potencial para triplicar sua produção de alimentos, ser realmente uma potência alimentar em 2050. Mas, para isso, precisa começar realmente a praticar a agricultura do Século 21.Em todo o mundo desenvolvido, a área agrícola está diminuindo e produção agrícola aumentando, com tecnologia, com verticalização, em áreas peri-urbanas. O agronegócio brasileiro precisa praticar a agricultura regenerativa, que prevê a restauração dos ecossistemas”, enfatizou Carlos Nobre, lembrando ainda que a biodiversidade na Amazônia não tem apenas potencial alimentar.  “Há um imenso potencial biológico, milhares de microorganismos que podem ter incalculáveis usos para a humanidade. Para aproveitar tudo isso, temos que restaurar e proteger a floresta – não permitir que ela seja desmatada para dar lugar a pecuária de baixíssima produtividade”.

As empresas investem bastante hoje para reduzir ou recuperar seus impactos. Mas a tendência é esse processo evoluir de maneira que as políticas sejam orientadas para evitar quaisquer impactos ambientais e sociais

Presidente do Instituto Juruá, João Campos Silva alertou que as oportunidades com o potencial econômica da biodiversidade da floresta trazem também uma responsabilidade social enorme. “A Amazônia, além de celeiro alimentar, é também um grande celeiro cultural, com 120 povos indígenas de culturas diferentes. Se as empresas aliarem o conhecimento científico ao tradicional, terão sucesso com um novo modelo de negócios com base na diversidade”, observou Campos. O presidente do Instituto Juruá, projeto para o desenvolvimento da pesca sustentável do pirarucu, defendeu que grandes empresas associações locais e ONGs precisam trabalhar juntas para alavancar o desenvolvimento da região. “Assim, temos a oportunidade de inovar em produtos e saídas logísticas. Colocando ciência ao lado do conhecimento tradicional. podemos gerar riqueza com a floresta em pé e também transformação social na Amazônia onde ainda existe uma enorme desigualdade”, destacou.

A moderadora Viviane Severiano, da ERM Consultoria, Yugo Matsuda, da Suzano, Patrícia Daros, da Vale, João Campos, do Instituto Juruá, e o cientista Carlos Nobre: biodiversidade e florestas em debate promovido pel CEDBS (Rprodução)
A moderadora Viviane Severiano, da ERM Consultoria, Yugo Matsuda, da Suzano, Patrícia Daros, da Vale, João Campos, do Instituto Juruá, e o cientista Carlos Nobre: biodiversidade e florestas em debate promovido pel CEDBS (Rprodução)

Empresas apostam em parcerias e colaboração

Do lado das empresas, evolui o entendimento de que colaboração e parceria são cruciais para os negócios. “A visão 2050 é de mais colaboração. E não só por convicção, mas por uma questão de estratégia de negócios”, disse Yugo Matsuda, gerente de Sustentabilidade da Suzano.  Na sua visão, a reorientação dos negócios nesse sentido passa necessariamente por estratégias sustentadas em metas. “As empresas investem bastante hoje para reduzir ou recuperar seus impactos. Mas a tendência é esse processo evoluir de maneira que as políticas sejam orientadas para evitar quaisquer impactos ambientais e sociais e para também gerar valor”, comentou.

Yugo Matsudo destacou ainda que as  empresas devem evoluir de responder a demandas mercado consumidor para educar seu mercado consumidor. “É responsabilidade das empresas não apenas ter melhores práticas ambientais como também trabalhar para o engajamento dos seus clientes em ações sustentáveis, citando iniciativa da Suzano para reduzir o uso de plástico. “As empresas também serão cada vez mais cobradas por seus compromissos públicos; os consumidores vão quer que elas se posicionem”, disse o gerente de Sustentabilidade.

Patrícia Daros – gerente de Biodiversidade e Recuperação Ambiental da Vale, diretora de Operações do Fundo Vale e diretora-presidente do Instituto Ambiental Vale – afirmou que as empresas têm cada vez mais consciência da sua responsabilidade ambiental. “Não tem setor produtivo que sobreviva sem água. Os investidores analisam de perto as práticas das empresas com foco na sustentabilidade. A biodiversidade precisa ser um elemento-chave para a gestão dos negócios agora e no longo prazo”, afirmou Patrícia, acrescentando que, desde 2018, a Vale estabeleceu metas de redução do impacto ambiental e de recuperação e restauração de florestas.

Moderadora do debate, a consultora ambiental Viviane Severiano disse que vê o Brasil como referência em biodiversidade em 2050. “Mas, para isso, é preciso uma ação articulada. A meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030, por exemplo, assumida pelo Brasil em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) no âmbito do Acordo de Paris, somente será atingida se contar com o apoio da iniciativa privada”, frisou. Os próximos debates da série (Re)Visão 2050 terão como tema Economia Circular (22/07) e Cidades (05/08). Os webinares são uma realização do Cebds, com patrocínio do Itaú, da Vale, apoio da ERM, da KPMG, da SITAWI e apoio de mídia do #Colabora.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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