Amazônia e Cerrado: maior número de queimadas em junho desde 2007

Floresta em chamas: dados do Inpe mostram que Amazônia e Cerrado registraram, em 2023, o maior número de queimadas para junho dos últimos 16 anos ( (Foto: Nilmar Lage/Greenpeace/30/08/2022).

Dados do Inpe mostram avanço de fogo nos dois maiores biomas brasileiros; situação na floresta é mais alarmante porque período de seca ainda não começou

Por #Colabora | ODS 15 • Publicada em 4 de julho de 2023 - 11:00 • Atualizada em 22 de novembro de 2023 - 18:46

Floresta em chamas: dados do Inpe mostram que Amazônia e Cerrado registraram, em 2023, o maior número de queimadas para junho dos últimos 16 anos ( (Foto: Nilmar Lage/Greenpeace/30/08/2022).

Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o mês de junho de 2023 registrou o maior número de queimadas para o período dos últimos 16 anos na Amazônia e no Cerrado. Foram 3.075 focos de incêndio na Floresta Amazônica, número que só é menor do que os 3.519 contabilizados no mesmo mês de 2007. O Cerrado brasileiro também apresentou aumento no mês, mas menor do que o avanço na Amazônia: foram 4.472 ocorrências, um crescimento de 5%, em relação aos 4.239 focos de incêndio registrados em junho de 2022 no bioma. De acordo com o Inpe, os dados para o mês no Cerrado também só ficam atrás dos registrados em 2007.

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Os dados também apontam que o primeiro semestre de 2023 também apresentou aumento da quantidade de queimadas em relação ao mesmo período do ano passado na Amazônia: foram 8.344 registros, ante 7.533 em 2022, um crescimento de 10% no bioma. Os resultados são ainda mais preocupantes porque o auge do período de estiagem na Região Norte ainda não chegou e os especialistas preveem um aumento no número de incêndios florestais com a volta do fenômeno El Niño.

Segundo Alberto Setzer, coordenador do Programa Queimadas, do Inpe, junho costuma ter um número de focos 12 vezes menor que setembro, o auge da temporada de fogo. Um El Niño forte já atua no oceano Pacífico, o que permite antecipar um segundo semestre muito seco e com muito fogo – mesmo com as taxas de desmatamento em queda. Fenômeno semelhante já aconteceu em 2007, também de El Niño forte, quando o número de queimadas no bioma Amazônia cresceu 29%, enquanto o desmatamento caiu 18%.

Análise dos dados de fogo feita pelo próprio Inpe dá um panorama da devastação: a Sala de Situação do portal Terra Brasilis, do instituto, indica que a maior parte dos focos de queimada detectados entre 3 de junho e 2 de julho está em Mato Grosso: 64% (1.982 focos). O Pará vem em segundo lugar com 624 focos. Em Mato Grosso, 81% das queimadas aconteceram em áreas inscritas no Cadastro Ambiental Rural – ou seja, em propriedades rurais. Na Amazônia inteira, 68% dos focos aconteceram em propriedades rurais. O fogo está sendo ateado por fazendeiros.

Análises do Inpe também mostram queimas extensas em propriedades no médio-norte e nordeste de Mato Grosso, duas das principais regiões produtoras de grãos e carne da Amazônia. Em Querência, no nordeste mato-grossense, a equipe de Setzer detectou uma única queima de área desmatada de 3.200 hectares entre os dias 24 e 25 de junho. Em Nova Maringá, centro-oeste do estado, uma outra grande queima de vegetação desmatada, de 1.500 hectares, foi detectada em 28 de junho.

Setzer diz ainda ser cedo para tirar conclusões, já que a temporada de fogo está apenas começando. Uma hipótese é que os produtores anteciparam a queima das áreas desmatadas para junho, de forma a não correrem risco de fiscalização a partir de 1o de julho, quando começou a vigorar o período de proibição de fogo em Mato Grosso. “Chamam atenção as queimadas nas regiões de Feliz Natal [médio-norte] e Peixoto de Azevedo [norte], que foram as campeãs de alertas de desmatamento neste ano em Mato Grosso, juntamente com os municípios do noroeste do estado, que ainda não estão queimando porque a vegetação derrubada ainda não secou totalmente”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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