Com El Niño, calor bate recorde e mata no Hemisfério Norte

Fumaça dos incêndios florestais no Canadá cobre a cidade de Nova York: recordes de calor com a chegada do El Niño em todo o Hemisfério Norte (Foto: Selcuk Acar / Anadolu Agency / AFP – 30/06/2023)

Centro meteorológico dos EUA confirma dia com a temperatura média mais alta da história e ondas de calor fazem vítimas fatais da América do Norte à Ásia

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 5 de julho de 2023 - 11:32 • Atualizada em 22 de novembro de 2023 - 18:46

Fumaça dos incêndios florestais no Canadá cobre a cidade de Nova York: recordes de calor com a chegada do El Niño em todo o Hemisfério Norte (Foto: Selcuk Acar / Anadolu Agency / AFP – 30/06/2023)

Os recordes de temperatura em junho e calor avassalador dos primeiros dias de verão no Hemisfério Norte já apontavam para as notícias divulgadas nesta terça-feira (4/7). O Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos informou que a segunda-feira (3/7) foi o dia mais quente já registrado em todo o mundo: a temperatura média global atingiu 17,01º C anteontem, acima do recorde anterior, de agosto de 2016 (16,92º C). A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que o Pacífico central já está sob as condições climáticas do fenômeno El Niño, o que pode persistir nos próximos meses. De acordo com a agência da ONU, as chances do El Niño continuar ao longo de todo o segundo semestre de 2023 são de 90%.

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A crise climática reforçada pelo El Niño – que, em geral, provoca a elevação da temperatura média global – vem provocando ondas de calor por todo o Hemisfério Norte: em, pelo menos, dois países, na Índia e no México, mais de 100 mortes atribuídas às altas temperaturas foram registradas no fim de junho, nos primeiros dias do verão por lá. O México é um dos países onde as temperaturas já romperam a barreira dos 50 graus em 2023: os outros são  Estados Unidos, Irã e Omã.

Dados preliminares apontam que o mês passado foi o junho mais quente da história. “Infelizmente, esses são apenas os primeiros de uma série de novos recordes que serão estabelecidos neste ano, à medida que as emissões crescentes de dióxido de carbono e gases de efeito estufa, juntamente com um evento de El Niño em desenvolvimento, empurram as temperaturas para níveis cada vez mais altos”, escreveu o climatologista Zeke Hausfather, pesquisador do centro de estudos da Universidade de Berkeley, no Twitter. As temperaturas de junho ficaram 1,46º C acima da temperatura típica da era pré-industrial (1850-1899), alertou o cientista.

Em maio passado, a OMM já tinha alertado para o risco significativo de que, impulsionado pelo El Niño, a média da temperatura global nos próximos cinco anos fique próxima do limite de 1,5oC de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais, com chance de superá-lo em pelo menos um ano. “O início do El Niño aumentará muito a probabilidade de quebrar recordes de temperatura e provocar mais calor extremo em terra e mar”, advertiu o secretário-geral da WMO, Petteri Taalas, que também alertou para a necessidade dos países se prepararem para as consequências imediatas do El Niño. “Avisos precoces e ações antecipadas de eventos climáticos extremos associados a esse grande fenômeno são vitais para salvar vidas e meios de subsistência”.

Os recordes de calor espalham-se por todo o Hemisfério Norte.

No México, o Ministério da Saúde confirmou que o paí registrou 104 mortes no mês de junho, todas relacionadas à onda de calor. Números oficiais indicam que o maior número de mortes ocorreu em Nuevo León (no norte do país), com 64 mortes, seguido pela vizinha Tamaulipas, com 19 e Veracruz, com 15. Em junho, a temperatura mais alta chegou em Aconchi, Sonora, com 49º C. Mas foi a 51º C, em Mexicali, no primeiro dia de julho.

Nos Estados Unidos, uma onda de calor atingiu todo o sul do país por duas semanas, com temperaturas acima dos 40 graus. Ao menos 16 pessoas morreram nos últimos dias devido ao calor – a maioria no estado do Texas. A temperatura chegou ao recorde de 52 graus no Vale da Morte, na Califórnia.

O Canadá enfrenta a pior temporada de incêndios florestais da sua história: em todo o país, mais de três mil incêndios queimaram oito milhões de hectares – uma área do tamanho da República Tcheca, na Europa. A fumaça dos incêndios florestais chegaram, inclusive, a cidades dos EUA como Nova York e Chicago.

Na Índia, agora o país mais populoso do mundo, foram registradas mais de 150 mortes devido ao calor extremo em junho, principalmente nos estados de Uttar Pradesh e Bihar.

Na China, a temperatura chegou a 40 graus em junho mas vai piorar em julho. “Na China, está começando uma das piores ondas de calor da história do país. Hoje, há temperaturas generalizadas acima de 40°C, inclusive na capital Pequim, chegam a 43,7°C em Xinajang. Nos próximos dias o calor vai ser extremo numa zona muito grande com temperaturas a chegar perto dos 45ºC mesmo em zonas úmidas”, escreveu o climatologista Maximilian Herrera, em sua página no Twitter com foco no calor extremo.

No norte da África e no Oriente Médio, as temperaturas também estão se aproximando dos 50 graus em vários países. Na Argélia, foi registrado calor de 49,6º C em Adrar, na terça (4/7): no último dia de junho, os termômetros alcançaram 45 graus também no Marrocos e na Tunísia. As temperaturas também passaram dos 45 graus na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes nos primeiros dias do verão no Hemisfério Norte.

Na Europa, a Espanha ja viveu sua primeira onda de calor do verão com as temperaturas ultrapassando os 44 °C na Andaluzia, no sul do país. No Reino Unido, junho foi o mais quente desde que os registros começaram há quase 140 anos. A temperatura média chegou a 32,2°C, após uma onda de calor de duas semanas. A França registrou o segundo junho mais quente de sua história (atrás apenas de 2003).

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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