Você usa muito o celular? Pense no aquecimento global

Chineses no metrô de Pequim com os seus smartphones. Foto an weijun / Imaginechina

Até 2040, 14% das emissões globais de carbono virão desses aparelhos

Por José Eduardo Mendonça | ODS 12 • Publicada em 15 de janeiro de 2018 - 10:41 • Atualizada em 16 de janeiro de 2018 - 11:58

Chineses no metrô de Pequim com os seus smartphones. Foto an weijun / Imaginechina
Chineses no metrô de Pequim com os seus smartphones. Foto An Weijun / Imaginechina
Chineses no metrô de Pequim com os seus smartphones. Foto An Weijun / Imaginechina

Olhe à sua volta no metrô, ou mesmo em uma rua cheia de pedestres. Provavelmente vai ver muitas pessoas ao celular, falando, enviando e recebendo mensagens ou checando as novidades nos sites de notícias e nas redes sociais.

Agora imagine como isso pode contribuir para o aquecimento global. São quase 4.8 bilhões de aparelhos no mundo hoje. Em 2014, cerca de 38 por cento deles eram smartphones. Hoje esse índice chega a 50 por cento. Cada um deles consome muita energia na fabricação e no uso. A energia também é fundamental na extração de matérias primas, na embalagem e no transporte. Sem contar o necessário para fazer funcionar os milhões de servidores que alimentam esses aparelhos de informações. E toda esta energia vem em grande parte da queima de combustíveis fósseis.

A situação é alarmante. Temos um tsunami de dados chegando. Tudo que pode ser digitalizado está sendo. A geração de telefonia móvel 5G está chegando. O tráfego na internet é muito maior do que estimamos e todos as máquinas, carros e aparelhos que têm inteligência artificial são digitalizados

No final de seu ciclo de vida os telefones são descartados e enviados para centros de reciclagem manuais, em sua maior parte na Ásia e na África, comprometendo a saúde de pessoas que tiram matérias primas valiosas por processos rudimentares e perigosos.

Aos números. Um ano de consumo de um único celular com apenas 2 minutos por dia gera 47 kilos de CO2. Se você usar uma hora por dia, a conta sobe para 1.250 quilos, ou o volume produzido por uma viagem individual de avião de Londres a Nova York. No total, são 125 milhões de toneladas no uso global anual. Assim soltos estes dados podem não parecer impressionantes, mas eles vão significar 3.5 por cento das emissões globais de carbono em 10 anos, e deverão atingir 14 por cento em 2040. Somada a energia produzida em todo ciclo de vida de um aparelho, teremos 20 por cento do consumo total de energia em 2025.

Ilustração da Terra derretendo como uma bola de sorvete. MARK GARLICK / SCIENCE PHOTO LIBRA / MGA / Science Photo Library
Ilustração da Terra derretendo como uma bola de sorvete. MARK GARLICK / SCIENCE PHOTO LIBRA / MGA / Science Photo Library

Tudo isso vai contribuir para o estresse das redes de energia, e exigir grandes obras de infraestrutura que, mais uma vez, vão ajudar com altas emissões de carbono.

Novas tecnologias vão apenas piorar o quadro da utilização de energia, simplesmente porque todos os setores da economia vão sendo digitalizados em velocidade alucinante. Tomando os dados da economia global como um todo, a demanda por energia vai aumentar dos 200-terawatts (TW) de hoje para 3.000 TW em 2025.

“A situação é alarmante”, diz o pesquisador sueco Anders Andrae, “Temos um tsunami de dados chegando. Tudo que pode ser digitalizado está sendo. A geração de telefonia móvel 5G está chegando. O tráfego na internet é muito maior do que estimamos e todos as máquinas, carros e aparelhos que têm inteligência artificial são digitalizados. Isto produz quantidades imensas de dados armazenados nos data centers”.

Mas há outro aspecto preocupante da contribuição do uso de energia, que também envolve os celulares, e que não vêm de hoje – as frequências de micro-ondas, que existem desde o final da década de 1950. Satélites e antenas em terra transmitem por UHF e frequências mais altas de micro-onda em todo o planeta. Estas frequências são isoladas pelo vácuo do espaço. A Terra é um campo eletromagnético em rotação, contendo um material dielétrico chamado água. E o envio de frequências de rádio de micro-ondas através deste material cria o aquecimento por radiofrequência no nível molecular da água.

Como o campo eletromagnético do planeta aponta diretamente para o Polo Norte, as transmissões convergem para camadas de gelo polares, o que causa padrões de tempo erráticos. Mais gelo derrete, o nível do mar sobe, e cidades costeiras se encontram em risco.

Não vamos parar de usar nossos smartphones, isso é certo. Então só nos resta esperar a chegada de uma nova tecnologia que venha combater os danos dessa nova tecnologia.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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