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Veja o que já enviamosBranquitude, o racismo nas páginas dos quadrinhos
Lançado pelo Observatório Carioca de Histórias em Quadrinhos, livro discute a exaltação dos padrões europeus nas tirinhas e o silenciamento do heroísmo negro
Quem foi seu super-herói favorito? Peter Parker (Homem-Aranha), Doutor Estranho e Charles Xavier (Professor X)? Eles refletiam a realidade que você vivia? Porque não a minha, criado na maior favela do país – a Rocinha – e sem os tais privilégios ou ‘superpoderes’ que traziam, muitas vezes sendo considerados “intocáveis”, e ainda assim, consumidos como referências dentro de uma estrutura social racista que é a do Brasil.
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Questionando essa presença e protagonismo no ideário fantástico, surge “Branquitude, Representações e Privilégio”, lançada pelo Observatório Carioca de Histórias em Quadrinhos, organizado por Elbert Agostinho & Fernanda Pereira da Silva. A obra irrompe no cenário editorial para desmascarar o domínio da branquitude que, por décadas, o heroísmo negro foi silenciado e figuras brancas exaltadas com seus padrões. Longe de serem apenas entretenimento, os quadrinhos se tornaram um palco para a reprodução de desigualdades raciais, com heróis brancos no centro e personagens negros relegados a papéis secundários ou estereotipados.
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Veja o que já enviamosHouve um tempo em que os super-heróis brancos dominavam o universo e nenhum mortal tinha coragem de dizer algo sobre isso. “Esse tempo acabou”, comenta Elbert Agostinho, que também é um dos fundadores do Observatório, que primeiro publicou a obra “Negritude, Poderes e Heroísmos”, onde resgata-se histórias de personagens negros que foram apagadas e invisibilizadas: “Agora, como pesquisadores, conseguimos apresentar discussões sobre temas que nos incomodaram e/ou instigaram no decorrer de nossos caminhos. E a identidade branca em histórias de super-heróis é uma dessas questões’’, completa.
Para Fernanda Pereira, cofundadora do Observatório, a motivação foi “a necessidade de investigar e questionar as representações predominantes nas narrativas visuais”, ou seja, como o padrão branco foi naturalizado. “Buscamos ampliar o debate sobre as relações e oferecer aos leitores ferramentas para reflexão e desconstruir padrões raciais excludentes’’, enfatizando que o livro também destaca “a importância de representar a diversidade de identidades e vivências presentes em nossa sociedade”.
A obra não poupa críticas à maneira como os super-heróis, majoritariamente brancos, atuam como propagadores dos ideais da branquitude. Além disso, o livro estabelece um paralelo com a realidade brasileira, revelando a tensão entre a diversidade cultural do Rio de Janeiro – cenário versado em prosa e tela com imaginário de que só o Leblon existisse – e a hegemonia da branquitude presente nos quadrinhos. A cultura popular carioca, rica em elementos afro-brasileiros e indígenas, é apresentada como um contraponto à hegemonia branca nos quadrinhos, que naturaliza ideais eurocêntricos como padrões de beleza, heroísmo, moralidade e poder.
“Essa hegemonia da branquitude não é apenas uma questão de ausência, mas também de naturalização de um padrão de beleza, heroísmo, moralidade e poder’’, comenta Fernanda. Como Narciso acha feio o que não é espelho, o retorno nem sempre é bem digerido. “Revelar problemáticas de personagens como Peter Parker, Doutor Estranho, Charles Xavier causa incômodos profundos em pessoas que não estão preparadas para essas discussões. Em um de nossos lançamentos do livro no Espírito Santo, uma professora disse: “Vocês têm muita coragem de colocar esse material na rua”, rememora Elbert.
O chamado para um “despertar” está lançado, como uma convocatória à ação, afinal de contas, se é para ser herói, tem que ter diversidade, sobretudo para ser representativo. E ela, a diversidade racial, um dos filtros da sociedade, precisa não só ser reconhecida, mas celebrada no universo dos quadrinhos. Não é mesmo, Vixen, Blade, Lanterna, Tempestade e Pantera?
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