ODS 1
#Colabora 8 anos: O que estamos fazendo aqui?
Um olhar um pouco mais sustentável sobre as virtudes e as mazelas do Brasil
Depois que um grupo de amigos lançou o #Colabora, em novembro de 2015, uma pergunta aparecia sempre, em quase todas as conversas: Afinal, o que é o #Colabora? A indagação embutia duas outras que pareciam não ter ficado muito claras. A primeira era de ordem prática ou editorial. Se o projeto se propunha a cobrir temas ligados à sustentabilidade, por que diachos publicávamos reportagens de educação, saúde, gênero etc? A resposta já estava meio decorada e saía rapidamente: “Sustentabilidade não é só bichinho e plantinha, nossa cobertura tem uma visão muito mais ampla do tema”.
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A segunda questão sobre o #Colabora, que ficava na cabeça de algumas pessoas, tinha uma conotação claramente política, mas nem sempre era explicitada. Dois ou três anos depois, apresentando o site para um grupo de alunos de jornalismo da UFRJ, um deles me fez a pergunta de forma muito clara e objetiva: “O #Colabora é de esquerda?”. Aqui vale fazer um parênteses para explicar o contexto. Estamos em 2017 ou 2018, não lembro com precisão, em pleno governo Michel Temer. Já havíamos passado pelas manifestações de junho de 2013; a presidente Dilma já havia sido vaiada em pleno Maracanã, durante a Copa do Mundo; o PT vencera as eleições presidenciais de forma muito apertada; o Congresso já tinha aprovado o impeachment (ou golpe) da presidenta e estávamos às vésperas de um novo pleito com o país completamente dividido.
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Veja o que já enviamos“O #Colabora é de esquerda?”, indagou o jovem estudante. Confesso que a questão me pegou meio de surpresa, não havia me preparado para aquela prova. Depois de alguns segundos, respondi com outra pergunta: “Defina o que é ser de esquerda?”. O menino parece ter ficado surpreso também. Aí eu continuei: “Se ser de esquerda é defender a universalização do saneamento básico no Brasil, nós somos de extrema-esquerda. Se ser de esquerda é desejar que saúde e educação de qualidade sejam oferecidas para todos os brasileiros e não apenas para quem pode pagar, nós somos os Tupamaros (*) do jornalismo nacional”.
Tá bom, eu sei, talvez eu tenha pego pesado demais com o aluno da Escola de Comunicação (ECO). Mas o fato é que voltando para casa me dei conta de que estava falando dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O objetivo 6 trata exatamente de “assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todas e todos”. Já os objetivos 3 e 4 falam em garantir saúde e educação de qualidade para todas e todos”. Ou seja, graças ao estudante da UFRJ, a quem eu agradeço a pergunta, mas de quem eu não lembro o nome, desde então o #Colabora passou a adotar os ODS como âncora ou marca de todas as suas reportagens. Com duas vantagens claras: não precisamos mais explicar que sustentabilidade é muito mais do que bichinhos e plantinhas e não é mais necessário discutir se somos de esquerda ou de direita. Queremos, basicamente, que os 17 Objetivos, desenhados por cientistas, técnicos da ONU e representantes da sociedade civil do mundo todo, sejam cumpridos, como decidiram em 2015 os representantes de 195 países, entre eles o Brasil.
Nossa história mostra isso e são muitos os exemplos. Quando o planeta foi atingido pelo flagelo da covid-19, uma das nossas primeiras reportagens perguntava: “E quando o coronavírus chegar nas favelas?”. Quando um ministro da educação, que não merece ter seu nome repetido, disse que as universidades brasileiras eram “centros de balbúrdia”, nós ficamos cem dias publicando reportagens sobre a relevância e a contribuição das pesquisas nas universidades públicas. O nome da série era “Balbúrdia Federal”. Enquanto jovens gays, lésbicas e trans eram agredidos nas ruas, publicamos uma série emocionante de vídeos sobre a resistência LGBT +60 ao longo da história. Aliás, aguarde, em breve lançaremos a terceira temporada. Outro, entre os muitos motivos de orgulho, é o projeto “#Colabora com Inclusão e Diversidade”, que está na sua segunda edição e tem como objetivo ampliar o acesso de jovens jornalistas e comunicadores periféricos ao mercado de trabalho.
Hoje, depois de oito anos de existência, mais de 500 colaboradores, duas dezenas de prêmios e de quase seis mil reportagens publicadas, parece que o #Colabora já tem uma cara. Entendemos melhor o que estamos fazendo aqui e qual é o nosso papel. Queremos um Brasil e um mundo politicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Queremos também agradecer a cada um dos nossos leitores e colaboradores pela confiança e dedicação. Nada disso seria possível sem vocês. Ainda temos muito o que construir, muito o que melhorar, mas estamos fazendo a nossa parte. Obrigado
(*) Os Tupamaros foram um grupo de guerrilha urbana que atuou no Uruguai nas décadas de 1960 e 1970.
Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.