Chacina do Curió: policiais militares são condenados a 275 anos de prisão

Parentes de vítimas da Chacina do Curió em frente ao tribunal do Ceará: quatro PMs são condenados a 275 anos de prisão após quase oito anos de mobilização por justiça (Foto: Rannjon Mikael / TJ-CE)

Julgamentos dos quatro primeiros réus durou mais de 60 horas; outros 20 PMs vão a júri em agosto em setembro pela execução de 11 jovens em 2005

Por #Colabora | ODS 16 • Publicada em 25 de junho de 2023 - 13:22 • Atualizada em 22 de novembro de 2023 - 18:54

Parentes de vítimas da Chacina do Curió em frente ao tribunal do Ceará: quatro PMs são condenados a 275 anos de prisão após quase oito anos de mobilização por justiça (Foto: Rannjon Mikael / TJ-CE)

O Tribunal do Júri de Fortaleza condenou, na madrugada deste domingo (25), quatro policiais militares acusados de participação na chamada Chacina do Curió – a execução de 11 jovens, ocorrida na capital cearense, em 2015. A sentença foi anunciada após mais de 60 horas entre depoimentos, debates e deliberação.

Os réus Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio – na época, soldados da Polícia Militar do Ceará – foram considerados culpados pelo cometimento de 11 homicídios qualificados consumados, três homicídios qualificados na forma tentada, três crimes de tortura física e um de tortura mental. Os policiais foram condenados a 275 anos e 11 meses de prisão em regime fechado, com imediato cumprimento da pena já que a sentença fixada foi superior a 15 anos de prisão As defesas dos réus manifestaram interesse em apelar da decisão.

Leu essa? Análise de 21 mil casos de violência tem polícia como protagonista

No massacre em 11 de novembro de 2015, foram executados – na região da Grande Messejana, próxima à Fortaleza – Álef Sousa Cavalcante (17 anos); Antônio Alisson Inácio Cardoso, (17 anos); Francisco Enildo Pereira Chagas (41 anos); Jandson Alexandre de Sousa (19 anos); Jardel Lima dos Santos (17 anos); Marcelo da Silva Mendes (17 anos); Marcelo da Silva Pereira (17 anos); Patrício João Pinho Leite (17 anos); Pedro Alcântara Barroso (18 anos); Renayson Girão da Silva (17 anos); e Valmir Ferreira da Conceição (37 anos).  De acordo com a acusação do MP, as mortes no bairro ocorreram em represália pelo assassinato do policial Valtemberg Chaves Serpa, que tentou defender a namorada de um assalto na época dos fatos.

O julgamento dos primeiros quatro condenados começou na manhã de terça-feira (20/06) e só terminou nas primeiras horas de domingo. Outros 16 PMs acusados serão julgados nas sessões do Júri previstas para agosto e setembro, quando os acusados vão para o banco dos réus. No total, a Justiça transformou 34 PMs em réus, em processo desmembrado em três ações penais – além dos policiais julgados no Tribunal do Júri, outros responderão na Auditoria Militar.

Parentes das vítimas e representantes de entidades de defesa dos direitos humanos acompanharam o julgamento. “Essa noite eu fiz valer o que eu prometi pro meu filho quando eu enterrei ele. Eu jurei pra ele que eu ia procurar justiça, e eu vi a justiça acontecer”, disse Maria de Jesus, mãe de Renayson Girão da Silva, que tinha 17 anos ao ser assassinado em 2005. “Essa é uma resposta dada, e essa vitória não é exclusivamente do movimento Mães do Curió. Não, essa vitória é da periferia. É do nosso povo periférico, é dos nossos jovens”, afirmou Edna Carla Cavalcante, mãe do adolescente Álef Souza, outra vítima da Chacina do Curió.

Mães e outros parentes garantem que vão continuar mobilizadas. “Ainda não está tudo resolvido, porque têm os outros (acusados), né? Mas sim, é uma alegria. É uma alegria, sim, porque a gente não quer o mal da polícia. A gente quer apenas a condenação de quem praticou um crime bárbaro com 11 pessoas e deixou sete feridos”, acrescentou Edna.

O julgamento da Chacina do Curió tem número recorde de policiais militares no banco dos réus, desde o massacre de Eldorado dos Carajás (em 2006, no Pará, com 149 acusados). É considerado, pelo próprio Judiciário estadual como “o maior julgamento nos 150 anos da Justiça cearense” – são 13 mil páginas de processo.

O caso confirma a trajetória do estado no aumento da letalidade policial. Entre agosto de 2021 e julho de 2022, a Rede de Observatórios da Segurança registrou 1238 eventos violentos no Ceará. Do total, mais da metade tinha relação com ações da Polícia. Neste mesmo período, a entidade também identificou a ocorrência de 21 chacinas cometidas por criminosos, policiais, grupos de extermínio ou milícias no Ceará – no Rio de Janeiro, foram 40; na Bahia, 22. O estado do Ceará apresentou o maior número de registros de corrupção policial monitorados na Região Nordeste, com oito ocorrências.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *