Aqui jaz o Bolsonarismo

Terroristas partidários de Bolsonaro agridem um policia militar da cavalaria do Distrito Federal. Foto Sergio Lima/AFP

Tentativa violenta e fracassada de golpe em Brasília põe fim a um dos mais tristes capítulos da história política do Brasil

Por Agostinho Vieira | ODS 16 • Publicada em 9 de janeiro de 2023 - 14:39 • Atualizada em 15 de janeiro de 2024 - 09:44

Terroristas partidários de Bolsonaro agridem um policia militar da cavalaria do Distrito Federal. Foto Sergio Lima/AFP

Aos oito dias de janeiro de 2023, em Brasília, capital da república, faleceu o movimento de extrema direita conhecido como Bolsonarismo, responsável por um dos capítulos mais tristes da história política do Brasil. A facção criminosa, que começou com o slogan “bandido bom é bandido morto”, terminou com 1.200 bandidos presos por invadirem e depredarem o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Os partidários da seita, derrotados na última eleição presidencial, fracassaram na tentativa de tomar o poder e estabelecer uma ditadura militar. O criador do movimento, o ex-capitão do Exército Jair Messias Bolsonaro, que um dia foi acusado de planejar explodir bombas em unidades militares, não participou diretamente da invasão e da destruição, mas foi o principal inspirador e incentivador do atentado à democracia.

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Bolsonaro, que está refugiado na Flórida, nos EUA, passou toda a sua carreira política menosprezando as instituições democráticas, os direitos civis e incentivando o ódio. São dele frases terríveis como: “Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso”, “Se o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro e pronto, ele muda o comportamento”, “Competente sim foi a cavalaria americana, que dizimou os seus índios no passado”, “Eu não empregaria mulheres com o mesmo salário…”, “Fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”, “Eu não vou te estuprar porque você é feia, não merece”, “O grande erro da ditadura foi torturar e não matar”. Algumas dessas frases, durante muito tempo, foram classificadas como folclóricas, ou mesmo autênticas.

Apoiadores de Bolsonaro destroem as vidraças do Palácio do Planalto. Cerca de 1.200 bandidos já foram presos. Foto Sergio Lima/AFP
Apoiadores de Bolsonaro destroem as vidraças do Palácio do Planalto. Cerca de 1.200 bandidos já foram presos. Foto Sergio Lima/AFP

Inspirado por ultradireitistas americanos, como Steve Bannon e Jason Miller, ambos ex-assessores de Donald Trump, o bolsonarismo foi o primeiro movimento populista de direita, radical e digital do Brasil. Eles souberam usar como poucos os algoritmos, as mentiras e direcionar o debate público de acordo com os seus interesses imediatos. E esse conhecimento não será perdido, alguém vai herdá-lo. É verdade que o Bolsonarismo não teria prosperado no Brasil sem uma sociedade reacionária, preconceituosa, machista, racista e violenta como a nossa. No entanto, mesmo para os ouvidos conservadores de alguns brasileiros, os atentados do último domingo parecem ter ido um pouco longe demais. Terrorismo, não.

O fim do Bolsonarismo, como ideologia política, obviamente, não significa o fim do pensamento de direita e conservador no Brasil. Muito pelo contrário. Ele sempre existiu, sempre foi relevante, e depois de Bolsonaro, ficou claro que tem bastante viabilidade política. O que deve acontecer daqui em diante é que o bode será retirado da sala. Ninguém vai querer mais brincar com fogo. O cheiro de enxofre que todos sentiam, mas alguns fingiam ignorar, agora se tornou insuportável. Se é possível identificar alguma notícia boa em meio aos escombros de Brasília, talvez seja essa: a morte do Bolsonarismo.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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