Onda de calor no inverno atinge nove estados brasileiros

Termômetro ao sol marca 41 graus no Rio de Janeiro: Inmet alerta que onda de calor, com temperatura cinco graus acima da média para o período, atinge nove estados brasileiros (Foto: Fernando Frazâo/ Agência Brasil – arquivo)

Com crise climática e El Niño, temperaturas podem ficar 5°C acima da média até o fim da semana

Por Observatório do Clima | ODS 13 • Publicada em 19 de setembro de 2023 - 11:26 • Atualizada em 21 de novembro de 2023 - 16:54

Termômetro ao sol marca 41 graus no Rio de Janeiro: Inmet alerta que onda de calor, com temperatura cinco graus acima da média para o período, atinge nove estados brasileiros (Foto: Fernando Frazâo/ Agência Brasil – arquivo)

(Priscila Pacheco*) – A última semana de inverno começou com um inferno: nove estados brasileiros entraram em alerta de onda de calor nesta segunda-feira (18/09). Temperaturas mais altas na transição entre inverno e primavera costumam ser comuns, mas as regiões em alerta estão com previsão de mais de 40ºC durante muitos dias em várias cidades. Uma onda de calor é caracterizada quando a temperatura fica pelo menos 5°C acima da média por no mínimo três dias consecutivos, explica o meteorologista Heráclio Alves de Araújo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária.

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Isso é o que tem acontecido no Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Mato Grosso do Sul, por exemplo, está com todo o território sob domínio de altas temperaturas. No domingo, a cidade de Água Clara (MS) alcançou 40,6 °C. A previsão é que áreas do Centro-Oeste continuem ultrapassando 40 °C. Os municípios da região do Pantanal devem registrar temperaturas ainda mais elevadas — entre 43º C e 45º. Em Cuiabá, a própria sucursal da Geena, as temperaturas mínimas noturnas devem chegar a quase 30ºC.

a exposição ao calor extremo agrava outras condições de saúde que já são preexistentes

Gabriela Couto
Pesquisadora do Inpe

O Norte também deve passar de 40 °C até o fim da semana. O Tocantins, inclusive, tem cidades na lista das maiores temperaturas da tarde desta segunda-feira, casos de Santa Rosa do Tocantins (39,1°C), Lagoa da Confusão (39°C), Pedro Afonso (38,9°C) e Pedro do Araguaia (38,9°C). A temperatura mais alta desta tarde no país, no entanto, foi registrada em Urussanga (39,8 °C), em Santa Catarina, que ainda não é considerado sob domínio de uma onda de calor.  No Rio de Janeiro, a temperatura pode alcançar 40 graus no fim de semana – a primavera começa no sábado (23/09).

O meteorologista Saulo Barros Costa, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, comenta que as temperaturas podem começar a diminuir entre domingo (24) e a próxima segunda-feira (25). Em alguns locais, as altas temperaturas estão acompanhadas de baixa umidade do ar. A cidade de São Paulo lidera nesta segunda-feira com apenas 11% de umidade, em seguida vem Seropédica com 12%, no Rio de Janeiro.

Os nove estados estão classificados como em perigo para a saúde. Costa comenta que a falta de chuva contribui para a poluição, o que traz alguns problemas. “Você tem uma concentração maior de poluentes. Quando chove, a chuva tem o potencial de limpar a atmosfera”, diz Costa. O climatologista também ressalta que, em regiões onde faz muito calor durante o dia e a temperatura cai na madrugada, como no oeste paulista, quem tem rinite e sinusite pode sofrer mais.

Cuiabá, capital mais quente do país, nesta última semana de inverno: Centro-Oeste deve registrar temperaturas acima de 40 graus (Foto: Luís Alves / Prefeitura de Cuiabá)
Cuiabá, capital mais quente do país, nesta última semana de inverno: Centro-Oeste deve registrar temperaturas acima de 40 graus (Foto: Luís Alves / Prefeitura de Cuiabá)

Apesar dos riscos à saúde, especialistas alertam que é preciso cautela ao dizer que há risco de vida nas regiões onde há ondas de calor no Brasil. José Marengo, do Cemaden, afirma que, por enquanto, não se antecipam no Brasil condições como a das ondas de calor que arrasaram o hemisfério Norte em 2022, causando 61 mil mortes, e em julho deste ano (o mês mais quente da história humana).

Gabriela Couto, pesquisadora do Inpe, lembra que no Brasil o calor extremo tem o menor número de mortes em comparação com outros riscos naturais, por exemplo, raios e enchentes. Segundo Couto, as mortes causadas devido a altas temperaturas são muito difíceis de notificar por uma relação direta. “Isso porque a exposição ao calor extremo agrava outras condições de saúde que já são preexistentes”, completa.

De acordo com os especialistas, neste momento é preciso ter cautela ao se expor no sol e seguir recomendações médicas, como beber bastante água, evitar praticar atividades físicas ao ar livre entre 11h e 15h e usar protetor solar.

Mapa do Climate Reanalyzer mostra temperaturas máximas na América do Sul (Imagem: UMaine)
Mapa do Climate Reanalyzer mostra temperaturas máximas na América do Sul (Imagem: UMaine)

As altas temperaturas no Brasil já estão na conta dos climatologistas devido à combinação entre a tendência de aquecimento global de fundo e o El Niño, que chegou chegando em 2023. Só intervenção divina direta impedirá 2023 de ser o ano mais quente da história humana. O Climate Reanalyzer, ferramenta da Universidade do Maine que cruza modelos climáticos computacionais, vem mostrando que desde 3 de julho as temperaturas da Terra não param de bater recordes históricos. No último sábado elas chegaram a 1,1ºC acima da média verificada de 1978 a 2000, ou seja, mais de 1,5ºC acima da média pré-industrial.

Segundo uma nota técnica publicada pelo Cemaden no último dia 11, as temperaturas em setembro no Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste devem ficar acima dos 20% mais quentes da média histórica, e ondas de calor são esperadas de outubro a dezembro. Com o calorão vem a secura: a previsão é de precipitação 40% abaixo da média no Sudeste e no Centro-Oeste. Pela mesma moeda, o Sul deve continuar com chuvas acima da média neste ano, por conta do El Niño.

O Cemaden fez 28 sugestões de ações de prevenção e resposta, que vão da adoção de protocolos para atender idosos vítimas do calor até a criação de uma sala de situação entre vários órgãos federais para coordenar o atendimento a várias emergências climáticas simultâneas.

* Priscila Pacheco é jornalista, colaboradora do Observatório do Clima e co-fundadora da Mural – Agência de Jornalismo das Periferias
** Colaborou Claudio Angelo, jornalista e coordenador de Comunicação do Observatório do Clima

Observatório do Clima

O Observatório do Clima é uma rede que reúne entidades da sociedade civil para discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro.

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