MapBiomas: Amazonas tem a menor superfície de água desde 2018

Estiagem afeta os portos e acessos a comunidades próximas do rio Tarumã-Açu, em Manaus: nota do MapBiomas alerta que Amazonas tem a menor superfície de água desde 2018 (Foto: Juliana Pesqueira / Amazônia Real – 08/10/2023)

População do estado sofre com seca extrema e avanço das queimadas

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 16 de outubro de 2023 - 15:35 • Atualizada em 21 de novembro de 2023 - 09:06

Estiagem afeta os portos e acessos a comunidades próximas do rio Tarumã-Açu, em Manaus: nota do MapBiomas alerta que Amazonas tem a menor superfície de água desde 2018 (Foto: Juliana Pesqueira / Amazônia Real – 08/10/2023)

Setembro de 2023 registrou a menor extensão coberta por água no estado do Amazonas desde 2018, de acordo com nota técnica divulgada nesta segunda (16/10) pelo MapBiomas, com dados obtidos a partir de imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel. “O impacto na biodiversidade aquática tem sido reportado em várias localidades, mas ainda não foi estimado, podendo atingir proporções alarmantes. Além disso, o Amazonas encontra-se com alta vulnerabilidade a queimadas, o que aumenta o risco às populações e à economia”, afirma Carlos Souza, coordenador do MapBiomas Água e principal autor da nota técnica.

Leu essa? Mais de 100 botos morrem pela seca extrema no Amazonas

Os 3,56 milhões de hectares de superfície de água no Amazonas em setembro passado representam uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares registrados em setembro de 2022 – que foi um patamar acima da média histórica acompanhada pelo MapBiomas, com início em 1985, e que marca também o pico de superfície de água desde 2018.

Um grupo de 25 municípios do estado tiveram uma queda na superfície de água superior a 10 mil hectares. O ranking é liderado por Barcelos, no centro do Amazonas, com perda de 69 mil hectares entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Em seguida vem Codajás (47 mil hectares), Beruri (43 mil hectares) e Coari (40 mil hectares) – todos com perdas superiores a 40 mil hectares de água.

Parintins (36 mil hectares), Maraã (36 mil hectares), Manacapuru (29 mil hectares), Itacoatiara (25 mil hectares), Anori (24 mil hectares) e Autazes (23 mil hectares) formam o grupo com perdas superiores a 20 mil hectares de superfície de água entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Outros dez municípios perderam entre 10 mil e 20 mil hectares. Todos esses vinte municípios que mais perderam superfície de água no Amazonas estão em estado de emergência ou de alerta, afetando comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, indígenas e áreas urbanas.

Os pesquisadores também mapearam alguns pontos afetados de forma aguda pela redução da superfície de água. Além da seca no Lago Tefé, que culminou na morte de mais de 100 botos, imagens de satélite mostram que lagos inteiros secaram em áreas de várzea na RESEX Auatí-Paraná. O mesmo aconteceu com a seca no Lago de Coari, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o calendário escolar. Entre Tefé e Alvarães, a seca forma bancos de areia extensos.

O coordenador do MapBiomas Água explica que a redução de água foi detectada em rios, lagos e em áreas de úmidas. “Os efeitos do El Niño severo de 2023 e do aquecimento do Atlântico Norte têm sido considerados, por especialistas, como os principais fatores que estão contribuindo com a seca severa na região, o que pode ser de maior intensidade do que a seca de 2010. As mudanças climáticas e o desmatamento, por sua vez, são considerados a principal causa das secas, cada vez mais frequentes e severas na Amazônia”, destaca Carlos Souza.

O mapeamento da redução da superfície de água no Amazonas no mês passado foi feito combinando imagens Landsat com imagens Sentinel-1 (radar) para poder mapear áreas cobertas por nuvens. Com o Landsat, por sua vez, é possível detectar água em área de várzea o que ainda não foi desenvolvido pelo MapBiomas Água para as imagens Sentinel 2. Os dados, porém, resultam de uma análise mais conservadora, o que significa que a extensão de perda de água pode ser mais crítica. As análises foram realizadas por Bruno Pereira e Carlos Souza Jr., pesquisadores do Imazon que integram o MapBiomas.

Combate às queimadas

Neste fim de semana, mais 119 brigadistas do Ibama chegaram ao Amazonas para ajudar a combater as queimadas, que impactam principalmente o sul do estado e áreas próximas à capital, Manaus. O reforço já havia sido anunciado em entrevista na sexta-feira (13/10) pelo presidente do Ibama, Rodrigo Agostini, e pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. “A redução do desmatamento é uma das principais estratégias adotadas para a redução de focos de incêndio. Estamos intensificando a fiscalização por meio da aplicação de multas e realização de embargos em áreas ilegais. Apenas este ano, o Ibama já aplicou 11 mil multas de desmatamento”, destacou o presidente do Ibama.

A ministra Marina Silva destacou ainda que, mesmo com a redução de 64,4% nos alertas de desmatamento no Amazonas entre janeiro e setembro deste ano (na comparação com o mesmo período do ano passado), a situação é de emergência – os dados mostravam 1.664 focos de calor ativos no Amazonas. No entorno de Manaus, o município mais afetado é Autazes, com 140 focos. Os dados do sistema Deter, do Inpe, mostram que entre 1 e 10 de outubro houve queda de 71% nos alertas de desmatamento no Amazonas, em comparação com o mesmo período do ano passado. “Imagine se tivéssemos mantido o padrão que tínhamos no ano passado”, alertou Marina.

O presidente do Ibama acrescentou que, entre 2019 e 2023, 73,5% dos focos de incêndio no estado do Amazonas ocorreram em áreas já desmatadas, sendo 55% deles em áreas recém desmatadas.“As pessoas derrubam a floresta, que é úmida, esperam ela secar e queimam; a floresta tenta se regenerar e é queimada no ano seguinte; regenera de novo e queima no terceiro ano. Normalmente, são de três a cinco anos de queimada em uma mesma área para que haja o fim da floresta naquele local”, afirmou Agostini na entrevista, destacando que a seca está tão intensa que o fogo dessas áreas têm fugido do controle e agora começa a atingir também a floresta em pé.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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