Copernicus confirma: 2023 foi o ano mais quente da história

Lago seco perto de Manaus: estiagem extrema na Amazônia foi um dos retratos de 2023, o ano mais quente da história (Foto: (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real – 31/10/2023)

"As temperaturas em 2023 provavelmente foram as mais altas ao menos nos últimos 100 mil anos", afirmou diretora-adjunta do Serviço de Mudanças Climáticas da União Europeia

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 9 de janeiro de 2024 - 14:32 • Atualizada em 18 de janeiro de 2024 - 09:43

Lago seco perto de Manaus: estiagem extrema na Amazônia foi um dos retratos de 2023, o ano mais quente da história (Foto: (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real – 31/10/2023)

Relatório anual do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, confirmou a previsão dos cientistas: 2023 foi o ano mais quente desde o começo dos registros de dados de temperatura global que remontam a 1850. “2023 foi um ano excepcional com recordes climáticos caindo como dominós. Não apenas 2023 foi o ano mais quente registrado, como é o primeiro ano com todos os dias pelo menos 1°C mais quentes do que na era pré-industrial. As temperaturas em 2023 provavelmente foram as mais altas ao menos nos últimos 100 mil anos”, enfatizou Samantha Burgess, diretora-adjunta do Copernicus, na divulgação do relatório nesta terça (9/1).

Se quisermos gerir com sucesso a nossa carteira de riscos climáticos, precisamos urgentemente descarbonizar a nossa economia, utilizando simultaneamente dados e conhecimentos climáticos para nos prepararmos para o futuro

Carlo Buontempo
Diretor do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus.

A publicação também destaca que 2023 foi 0,60°C mais quente do que a média de 1991-2020 e 1,48°C mais quente do que o nível pré-industrial de 1850-1900 – 1,5º ₢ acima do nível pré-industrial é a meta limite de aquecimento global estabelecida no Acordo de Paris. O Copernicus informou que 2023 teve uma temperatura média global de 14,98°C – ultrapassando em 0,17°C o recorde anterior registrado em 2016 “É provável que um período de 12 meses terminado em janeiro ou fevereiro de 2024 exceda 1,5°C acima do nível pré-industrial”, alerta o relatório. Em 2023, quase metade dos dias registrou temperaturas 1,5°C acima do nível de 1850-1900; dois dias de novembro, pela primeira vez, foram 2°C mais quentes. As temperaturas médias anuais do ar foram as mais quentes já registradas, ou próximas das mais quentes, em partes consideráveis de todas as bacias oceânicas e de todos os continentes, exceto a Austrália.

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De junho a dezembro de 2023, as temperaturas mensais foram as mais altas da história para o mês. “Os extremos que observamos nos últimos meses fornecem um testemunho dramático de quão longe estamos agora do clima em que a nossa civilização se desenvolveu. Isto tem consequências profundas para o Acordo de Paris e todos os esforços humanos. Se quisermos gerir com sucesso a nossa carteira de riscos climáticos, precisamos urgentemente descarbonizar a nossa economia, utilizando simultaneamente dados e conhecimentos climáticos para nos prepararmos para o futuro”, afirmou Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus.

O relatório também destaca que, com a chegada do fenômeno El Niño, no início de junho, “as temperaturas médias globais da superfície do mar (TSM) permaneceram persistentemente e anormalmente altas, atingindo níveis recordes para a época do ano, de abril a dezembro”. Essas TSMs “sem precedentes” provocaram ondas de calor marinhas em todo o mundo – partes do Mediterrâneo, Golfo do México e Caraíbas, Oceano Índico, Pacífico Norte, e grande parte do Atlântico Norte.

De acordo com o Copernicus, o calor extremo de 2023 teve impacto tremendo para o gelo marinho da Antártida, que, em oito meses do ano, teve baixas recordes para o período. As extensões diária e mensal atingiram os mínimos históricos em fevereiro de 2023. No Ártico, a extensão do gelo marinho do Ártico no seu pico anual em março foi classificada entre as quatro mais baixas para a época do ano no registro de satélites desde 1978. O mínimo anual em setembro foi o sexto menor.

Segundo o relatório do Copernicus, as concentrações de gases de efeito estufa alcançaram níveis alarmantes.  “As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e metano continuaram a aumentar e atingiram níveis recordes em 2023, atingindo 419 ppm e 1.902 ppb, respectivamente. As concentrações de dióxido de carbono em 2023 foram 2,4 ppm superiores às de 2022 e as concentrações de metano aumentaram 11 ppb”. O documento lembra ainda que os eventos extremos registrados em todo o planeta em 2023: ondas de calor, inundações, secas e incêndios florestais. “As emissões globais estimadas de carbono dos incêndios florestais em 2023 aumentaram 30% em relação a 2022, impulsionadas em grande parte por incêndios florestais persistentes no Canadá”, destaca o texto.

Os primeiros sinais de como anormal 2023 se tornaria começaram a surgir no início de junho, quando as anomalias de temperatura relativas ao nível pré-industrial de 1850-1900 atingiram 1,5°C – o limite do Acordo de Paris – durante dias consecutivos. Embora não tenha sido a primeira vez que as anomalias diárias atingiram este nível, isso nunca tinha acontecido naquela altura do ano. No restante de 2023, as anomalias diárias da temperatura global acima de 1,5°C tornaram-se regulares.  ocorrência regular. Segundo o documento, a previsão não significa que mundo tenha ultrapassado o limite, já que esse é referente “a períodos de pelo menos 20 anos em que essa anomalia de temperatura média é ultrapassada”. Ou seja, é preciso que a temperatura de 1,5º C seja excedida por um período prolongado. Mas diz que a estimativa abre um “precedente terrível”….

O relatório divulgado nesta terça tem como base o conjunto de dados do modelo ERA5, que reúne milhares de informações climatológicas e apresenta um resumo geral dos extremos climáticos mais relevantes de 2023 e dos seus principais impulsionadores. “Sabíamos, graças ao trabalho do programa Copernicus ao longo de 2023, que não receberíamos boas notícias hoje. Mas os dados anuais aqui apresentados fornecem ainda mais provas dos impactos crescentes das alterações climáticas”, disse o chefe de Observação da Terra da União Europeia.  A União Europeia, em linha com a melhor ciência disponível, concordou com uma redução de emissões de 55% até 2030 – daqui a apenas 6 anos. O desafio é claro. O Programa Copernicus é uma das melhores ferramentas disponíveis para orientar as nossas ações climáticas, manter-nos no caminho certo com os objetivos do Acordo de Paris e acelerar a transição verde”, acrescentou .

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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