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Brasil? Que nada. Quero torcer para seleções africanas

ODS 10 • Publicada em 2 de dezembro de 2022 - 09:27 • Atualizada em 5 de dezembro de 2022 - 08:59

É certo como o ar que respiro: na última terça-feira (29), minha energia de torcedor estava ligada à nossa seleção contra o time suíço (que jogo, hein?). Mas o que não esperava horas antes era ter um misto de atenção, ampliando o que se chamaria de devoção ou admiração por um outro time: o de Gana.

A atuação quase que inacreditável contra a Coreia fez do jogo uma das melhores partidas da Copa do Mundo até aqui. Não faltou emoção para ambos os lados – só que com particularidade e profundidade a mais para os jogadores que, sem respiro, emplacaram 3×2, com riscos de se garantir uma vaga nas oitavas-de-final.

Leu essa? A mais infame de todas as Copas (junto com uma outra)

Além de Gana, outros quatro países do continente africano foram ao Qatar defender suas camisas, que mais surgem como mantos sagrados e abençoados pelos ancestrais. Camarões, Senegal, Marrocos e Tunísia também empunham o que de melhor se pode ter quando possibilitado acesso por si só e não apenas quando capturado o capital humano para ser empregado em outro lugar.

O que se tem refletido em números já que, segundo a lista oficial de convocados da Fifa, das 32 Seleções que disputam a Copa do Mundo 2022, 14 possuem pelo menos um jogador de origem africana. Coincidência? Não sei. Mas o que nos mostram os dados obtidos pela Deustche Welle é só uma coisa: a realidade se impõe e nem todos partem do mesmo lugar quando o árbitro apita.

Reportagem publicada pelo veículo alemão, com levantamento junto ao site Transfermarkt.com, comparou as trajetórias esportivas dos atletas em relação aos anos passados em seus países de origem. E a evidência foi só uma: jogadores europeus permaneceram, em média, 95% de suas carreiras “em casa”. É o oposto quando se analisa, com os mesmos filtros, as seleções africanas e também sul-americanas. No caso das seleções da África, os jogadores passaram, em média, mais de 80% de suas carreiras em um time estrangeiro

Um exemplo da disparidade é justamente o time de Senegal (sim, cante ‘Sene-Sene-Sene, Senegal’, hit da banda Reflexus que explica a História) , que recentemente avançou para as oitavas-de-final e é o atual campeão da Copa Africana de Nações. Por lá, os jogadores passaram menos tempo defendendo o seu próprio país, que também registra e encara ser o local onde os atletas nunca sequer representaram um time nacional depois de completar 16 anos. “Aqueles que jogaram por um time local não o fizeram por muito tempo, com a maioria mudando para o exterior antes de completar 20 anos (…) Senegal pode ser o exemplo mais extremo, mas uma tendência semelhante pode ser observada ao examinar as outras quatro seleções africanas na Copa do Mundo”, enfatiza a reportagem.

O capitão Koulibaly puxa a comemoração de Senegal pela vaga na próxima fase: torcida pelas seleções africanas (Foto: Fifa/Divulgação)
O capitão Koulibaly puxa a comemoração de Senegal pela vaga na próxima fase: torcida pelas seleções africanas (Foto: Fifa/Divulgação)

Ter a chance de vê-los driblar as desigualdades impostas nos faz religar e resgatar nossa ligação com o solo mãe do mundo, justamente na Copa mais racista, misógina e homofóbica que se viu, sob mão de obra de refugiados escravizados. E querer ver mais e sempre, sem contentamento apenas com a reunião de cinco dos 55 países do continente.

“Na Copa do Mundo, nunca houve um ponto zero. A África tem 55 países e acho que merece mais vagas”, sentenciou o treinador da seleção de Gana e ex-jogador, Otto Oddo, numa das entrevistas coletivas no Qatar. “É muito difícil o continente evoluir com cinco vagas. Se você tem 12 ou 15 vagas, não lembro quantas são na Europa, você tem a probabilidade de crescer mais rápido, não importa a qualidade”, ensejou o técnico, símbolo de esperança e resistência no campeonato.

Otto é o comandante que vai tentar guiar as Estrelas Negras (Gana) a repetirem o feito de 2010 na África do Sul, quando alcançaram às quartas-de-final. Para isso, contam até com intervenção divina. O presidente Nana Akufo-Addo instituiu o “Dia Nacional de Oração e Jejum” para a seleção no fim de outubro. “Tomara que ajude”, torceu em post Alexandre dos Santos, jornalista e professor de História da África e de África Contemporânea da PUC-Rio.

Se vai ajudar, não sei ao certo. Mas o que garanto é a felicidade em torcer para os irmãos de lá. E confesso até divisão para Brasil X Camarões. Só não digo o placar.

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Um comentário em “Brasil? Que nada. Quero torcer para seleções africanas

  1. Observador disse:

    Estatisticas mostram o Brasil como o País mais ansioso. Só que stress e felicidade é opção pessoal! Minhas origens são mais européias e um dos meus ancestrais afrodescedente! Inicio desse ano, o que foi decisivo para um romance foi de um lado: marido sem conjugal com a esposa depois da menopausa dela e, eu há 4 anos sem “Homem”(penetração)! Mesmo cisgeneros, nos relacionando normal e ele o inverso da minha origem (predominando a afrodescendencia)! Chegamos a ir a restaurante juntos e, oferecem prato para dois, normalmente! Vamos trabalhar para a volta dos Anos Dourados (Década de 60) em que o importante era ser feliz, Independente se com mesmo genero ou como bissexual! A beleza de sermos um povo colonizado por várias etnias!

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