ODS 1
Os cinco estados brasileiros com maior número de pessoas vivendo na pobreza estão nas regiões Nordeste e Norte do país. Praticamente a metade ou mais da metade da população desses estados vive com menos de US$ 5,5 por dia – ou R$ 12,90 (pela correspondência da moeda estrangeira em 2016). Por mês, essas pessoas ganham o equivalente a R$ 387,07 ou 40% do salário-minimo. É o que revela a Pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais no Brasil 2017, do IBGE. A linha de pobreza de US$ 5,5 é fixada pelo Banco Mundial e utilizada internacionalmente como parâmetro. A pesquisa do IBGE não inclui moradores de rua, apenas brasileiros com residência fixa.
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Veja o que já enviamosNo Maranhão, 52,4% dos habitantes são pobres, seguido da Amazonas (49,2%), Alagoas (47,4%), Acre (46,6%) e Pará (45,6%). No extremo oposto, estão os estados com menos de 20% das pessoas vivendo na pobreza. Liderando o ranking está Santa Catarina (9,4%). Em segundo lugar, vem São Paulo (12,2%), na frente do Rio Grande do Sul (12,3%), do Paraná (14%) e do Rio de Janeiro (18,3%). O IBGE também mediu o número de pessoas vivendo na extrema pobreza no país, com até US$ 1,90 por dia – ou R$ 4,46. A ONU estimou que, em 2013, esse contingente no mundo era de 767 milhões. No Brasil, são 13,4 milhões ou 6,5% da população. Em Marajá do Sena, visitado pela reportagem do #Colabora, 60,72% sobrevivem em meio à extrema pobreza, como a família de Eva Gonçalves da Silva, que ganha menos de R$ 2,5 por dia.
Pobreza: rendimento diário per capita dos mais pobres
Brasil
Segundo classificação do Banco Mundial
Nas grandes regiões
O abismo regional permanece entre os extremamente pobres. No Nordeste e no Norte, eles somam mais de 10% da população. No Sul, são apenas 2,4% afligidos pela situação. “Avaliar as diferenças regionais é importante para apontar os lugares onde maiores e menores contingentes de pessoas estão passando por dificuldades econômicas em razão de não ter acesso a recursos monetários que permitem aceder a bens e serviços “, aponta o relatório do IBGE.
Jovens, mulheres e negras representam os contingentes mais vulneráveis à pobreza. A situação é particularmente alarmante entre as mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos, que somam 64% da população que vivem com até US$ 5,5 por dia. O segundo grupo mais atingido pela pobreza é o das mulheres sem cônjuge e com filhos de até 14 anos, que representam 55,6% dos pobres. “A população idosa está mais protegida do que as crianças devido à aposentadoria”, observa o pesquisador Leonardo Athias, do IBGE.
O perigo está nas “armadilhas da pobreza”, adverte Athias. São situações que se perpetuam, num círculo vicioso difícil de ser rompido. “Por exemplo, uma mãe que mora no interior, têm filhos e não têm acesso a creches nem aos serviços de prevenção à saúde”, cita o pesquisador. “Dificilmente ela conseguirá trabalho e as circunstâncias vão se perpetuar pela geração seguinte se não houver políticas públicas de proteção social”, afirma. No Brasil, 42 a cada cem crianças de 0 a 14 anos vivem na pobreza. No mundo, 50% dos pobres têm até 18 anos.
Além das desigualdades regionais, fica evidente o desequilíbrio entre os brancos e os pretos atingidos pela pobreza. Enquanto homens e mulheres pretos ou pardos respondem por 33,3% e 34,3% dos pobres vivendo com até US$ 5,5 por dia, apenas 15% dos homens e mulheres brancas vivem nessa situação. Entre as pessoas com os 10% menores rendimentos, pretos ou pardos eram 78,5%, contra 20,8% de brancos. No outro extremo, dos 10% maiores rendimentos, pretos ou pardos eram apenas 24,8%. “Altos níveis de desigualdade estão relacionados a comportamentos não cooperativos, à criminalidade e ao baixo crescimento econômico no médio e longo prazo”, afirma o relatório, enfatizando que os indicadores são observados em comparações internacionais.
Embora a pobreza deva ser encarada como um fenômeno multidimensional, que avalia outros indicadores além da renda – tais como o acesso à moradia adequada, à saúde e à educação – ainda há pouca disponibilidade de dados e acaba prevalecendo a concepção de pobreza monetária, baseada na renda per capita. No Brasil, não há linha oficial de pobreza, que seria o valor necessário para as famílias viverem dignamente. Existem linhas de pobreza administrativas, como o Programa Brasil sem Miséria, que considera a renda per capita de R$ 85 como pobreza extrema e R$ 170 como pobreza. Há também a linha do Benefício de Prestação Continuada, definida como o rendimento domiciliar per capita abaixo de 1⁄4 de salário mínimo. O programa contempla idosos e pessoas com deficiência.
A linha de pobreza extrema internacional, no valor de US$ 1,90 por dia, foi construída pelo Banco Mundial a partir dos 15 países mais pobres. Atualmente, para países de nível médio-alto de desenvolvimento, como os da América Latina, o Banco Mundial usa a linha de pobreza de US$ 5,5. De uma forma geral, as linhas de pobreza monetárias adicionam ao valor mínimo para aquisição alimentar (linha de pobreza extrema) outras necessidades como habitação, transporte e higiene, que definem o que seria o “necessário” para as famílias “viverem dignamente”, esclarece o relatório.
Há problemas na adoção de uma única linha, ressalta Athias, tais como a equiparação das desigualdades regionais. “A pobreza é medida segundo os mesmos critérios em Santa Catarina e no Maranhão, apesar das diferenças no custo de vida”, aponta o pesquisador. “No geral, faz sentido trabalhar com indicadores, mas há exceções, como um idoso que mora em Copacabana e pode não ter o ensino fundamental completo ou os indígenas, para quem pode não importar a tenda”, afirma. Ele lembra que uma das linhas, que está sendo revista pelo Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), baseia-se no consumo calórico regional. “O importante é trazer várias linhas para a discussão para que se possa enxergar as diferenças regionais”, sustenta.
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É jornalista com experiência nas redações de O Estado de S.Paulo, IstoÉ e O Globo, onde ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com a série de reportagens “A história secreta da Guerrilha do Araguaia”. Pelo #Colabora, foi vencedora do Prêmio Vladimir Herzog, em 2019, na categoria multimídia, com a série "Sem Direitos: o rosto da exclusão social no Brasil", em um pool jornalístico com a Amazônia Real e a Ponte Jornalismo. Professora Adjunta do Instituto de Arte e Comunicação Social (Iacs), na Universidade Federal Fluminense (UFF), é autora dos livros “Jornalista em mutação: do cão de guarda ao mobilizador de audiência” e "Uma história da primeira página: do grito no papel ao silêncio no jornalismo em rede". É colaboradora no #Colabora e acredita (muito!) no futuro da profissão.
Parabéns Adriana Barsotti muito boa a matéria que qualifica a informação e faculta aos cidadãos formarem opinião sobre a gravidade deste problema, desta divisão que cria tão diversas realidades para os mesmos brasileiros, impondo a necessidade de políticas públicas efetivas de promoção de equidade.
obrigada, Hylton. os números são tristes e precisam ganhar mais visibilidade do que têm
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