Na Riviera Maya, o luxo é aliado da preservação ambiental

Pássaro no Hotel Mayakoba

Mangue, floresta tropical e lagunas cercam resorts e se tornam atrações turísticas

Por Carla Lencastre | Economia VerdeODS 14 • Publicada em 22 de novembro de 2015 - 00:46 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:47

Pássaro no Hotel Mayakoba

O azul estonteante do Mar do Caribe está de um lado. Do outro, há o verde luxuriante da floresta tropical e do manguezal. Entre uma cor e outra, a Riviera Maya tem um punhado de hotéis de luxo que somente puderam ser erguidos, a partir do início do século XXI, depois de um estudo de impacto ambiental exigido pelo estado mexicano de Quintana Roo. E uma das melhores coisas desta apaixonante região litorânea repleta de atrações turísticas é justamente o cuidado com a preservação da exuberante biodiversidade local.

A Riviera Maya começou a desenvolver sua infraestrutura para receber turistas há pouco mais de dez anos e hoje disputa com Cancún o posto de principal destino de visitantes (a lazer e de negócios) do México. Do ponto de vista turístico, esta área de natureza extraordinária e cultura milenar estende-se por pouco mais de cem quilômetros na Península de Yucatán. É uma faixa de terra plana que vai do Sul de Cancún até Tulum, e passa por Playa del Carmen. Enquanto na cidade mais famosa o turismo gira em torno de compras e festas sem hora para acabar e os hotéis ficam em prédios altos à beira-mar, na Riviera Maya a estadia tende a ser mais contemplativa e mal se nota os resorts em meio à vegetação. Em Playa del Carmen até há uma filial da animadíssima boate CocoBongo, de Cancún; bares e restaurantes, e recentemente foi inaugurado um shopping center, o Quinta Alegría. Mas com a exceção de Playa, o dia a dia na Riviera Maya gira mais em torno de apreciar o mar, a flora e a fauna bebericando uma margarita ou passeando.

Panorama do Fairmont, o primeiro hotel de luxo em Mayakoba, na Riviera Maya
Panorama do Fairmont, o primeiro hotel de luxo em Mayakoba, na Riviera Maya

O exemplo mais importante de como o turismo de luxo pode ser um aliado da preservação do meio ambiente está no complexo Mayakoba. A 20 minutos do Centro de Playa del Carmen, Mayakoba reúne três hotéis (um quarto está a caminho), todos construídos em torno de cinco diferentes ecossistemas: mangue, floresta tropical, lagunas, canais e dunas costeiras. Os empreendedores dizem que primeiro consultaram biólogos sobre o projeto, quando a terra foi comprada pela empresa espanhola OHL, no fim do século passado. Arquitetos e engenheiros vieram depois. E é assim até hoje. Cada um dos três luxuosos empreendimentos tem um biólogo residente que supervisiona as demandas cotidianas e orienta as visitas guiadas.

Quartos com varanda sobre os canais do hotel Fairmont Mayakoba
Quartos com varanda sobre os canais do resort Fairmont Mayakoba

A Riviera Maya tem o maior conjunto de rios submersos do mundo. Antes da construção dos hotéis de Mayakoba, alguns dos cenotes (como são chamados os poços e rios submersos característicos da região) foram abertos para melhorar o fluxo de água. Em 2011 Mayakoba ganhou um prêmio de sustentabilidade e turismo responsável da Organização Mundial do Turismo (UNWTO, na sigla em inglês). Hoje, a vegetação do manguezal alcança até dez metros de altura em alguns pontos. “Um projeto de luxo que seja um luxo para o meio ambiente” é o slogan da OHL para Mayakoba.

O Fairmont Mayakoba foi o primeiro hotel a ser inaugurado, em 2006. Desde então, o compromisso da rede com a preservação do meio ambiente fez com que seus hotéis em todo o mundo reduzissem em 20% as emissões de dióxido de carbono. É um dos índices mais altos entre os grandes grupos de hotelaria de luxo. Em Mayakoba, o Fairmont se destaca pelas varandas de seus 400 quartos e suítes debruçadas sobre o manguezal. A diversidade de aves emociona. Há colibris, papagaios, pelicanos e cormorões, para citar uns poucos entre as mais de 200 espécies. Iguanas também estão por toda a parte.

Na Riviera Maya, o resort Rosewood
Villas sobre a laguna no luxuoso Rosewood, o segundo hotel a ser construído em Mayakoba

O Rosewood Mayakoba, aberto 2007, tem entre suas 130 villas algumas às quais só se chega de barco. No caminho entre a recepção e o quarto é possível ver jacarés e tartarugas. O terceiro hotel do complexo é o belo Banyan Tree, de 2009. Desde meados da década de 1990, Banyan Tree é uma das redes hoteleiras asiáticas mais comprometidas com turismo sustentável. Em Mayakoba, suas 132 villas com piscina ficam em torno do manguezal e das lagunas repletos de pássaros. O restaurante Saffron também está debruçado sobre os canais. E todas as diárias do hotel incluem uma doação compulsória para as comunidades locais.

Jacaré nos arredores de uma das villas do resort Rosewood
Jacaré nos arredores de uma das villas do resort Rosewood

Cada hotel em Mayakoba tem seu próprio trecho de praia com serviço de bar, e piscinas. O complexo hoteleiro oferece ainda com campo de golfe, e acaba de inaugurar uma atração chamada El Pueblito, que simula uma praça de um pequeno povoado mexicano, com igreja, galeria de arte, lojas e restaurante. Mas a atração que faz mais sucesso nos três hotéis é um passeio de barco guiado pelo manguezal, gratuito, com duração de uma hora. Durante o percurso, além da vegetação, é possível ver jacarés, tartarugas e aves variadas. Os mesmos canais ligam os três hotéis, e dá para ir de barco almoçar em um ou jantar em outro.

Barco no ecotour, a atração de Mayakoba que faz mais sucesso
Barco durante o ecotour, a atração de Mayakoba que faz mais sucesso

Para o fim de 2016, Mayakoba espera a inauguração de seu quarto hotel, o Andaz, do grupo Hyatt. Enquanto isso, outra propriedade administrada pelo grupo americano acaba de ser aberta um pouco mais ao Sul. Com 314 quartos, o Grand Hyatt Playa del Carmen foi inaugurado em julho, em frente a um trecho de praia com 150 metros de extensão e perto de La Quinta, a principal rua comercial da cidade. Aqui também foi feito um esforço para manter a vegetação local, e a sensação que se tem no lindo spa, por exemplo, inspirado nos cenotes, é a de estar no meio de uma floresta. São 8.500 metros quadrados de área verde preservada, e o hotel foi construído em volta dos mangues, que ocupam quase 30 mil metros quadrados na região.

Na Riviera Maya, o Grand Hyatt Playa del Carmen
O recém-inaugurado Grand Hyatt Playa del Carmen, que preservou a vegetação local

“Temos orgulho de dizer que mudamos nosso projeto para melhor cuidar do ecossistema original. Nosso hotel foi construído em torno dos belos manguezais”, diz Samantha Castrejon, gerente de marketing.

Entre Maykoba e Playa del Carmen, o Grand Velas Riviera Maya, inaugurado em 2008 e a cinco minutos do Centro de Playa, também reúne três hotéis. Dois são de frente para o mar, em uma faixa de areia de 300 metros de extensão. O terceiro, Zen Grand, valoriza a vegetação exuberante e fica escondido no meio da floresta. A bonita piscina é cercada de verde. Os três hotéis estão em uma área de 32 hectares de mangue, floresta e cenotes. Como o Grand Hyatt, o Grand Velas também foi projetado para valorizar o cenário no qual está instalado. No Zen Grand, por exemplo, todas as 239 suítes têm terraços, varandas ou pátios com vista para a floresta de Yucatán.

Piscina cercada de verde no hotel Zen, do Grand Velas
Piscina cercada de verde no hotel Zen, do Grand Velas

Recentemente, o hotel passou a oferecer aos hóspedes tours ecológicos. O passeio, gratuito, leva os visitantes ao manguezal e à floresta, onde foram plantadas mais de 15 mil árvores para proteger as espécies nativas. Na visita à praia é apresentado o projeto de recifes artificiais ao longo da costa e de dunas costeiras. O objetivo é evitar a erosão, e a faixa de areia está mais larga nos últimos quatro anos. Além de preservar a praia, os recifes criaram condições para a presença de peixes, pequenos polvos e lagostas. A costa da Riviera Maya tem a segunda maior barreira de corais do mundo. O melhor ponto para mergulho é a ilha de Cozumel, a 45 minutos de barco de Playa. São mais de 60 espécies de corais e 500 de peixes.

Uma das piscinas do Nizuc Resort, ao Sul de Cancún, cercada de verde e azul
Uma das piscinas do Nizuc Resort, ao Sul de Cancún, cercada de verde e azul

O Nizuc Resort & Spa, um lindíssimo hotel inaugurado há dois anos em Punta Nizuc, do lado oposto de Playa del Carmen, no limite Norte da Riviera Maya, aposta tanto no fascínio que o verde local exerce nos visitantes que tem uma categoria de quartos nos quais você se sente quase em uma casa na árvore. Não são simplesmente apartamentos com “vista para o jardim”, o que geralmente significa os piores quartos dos resorts de praia. São suítes com mais de 130 metros quadrados e piscinas privativas cercadas de verde.

“Temos um número significativo de hóspedes que prefere estes quartos para ter o melhor de dois mundos: estar em meio a uma floresta com a praia logo ao lado”, diz Mariana Acosta, que coordena as visitas ao hotel de 274 quartos e faz questão de mostrar aos hóspedes as áreas de floresta e os manguezais preservados.

O Hotel Nizuk na Riviera Maya
O manguezal e o Mar do Caribe visto de um dos quartos do Nizuc Resort, ao Sul de Cancún

Desde o início da construção, o Nizuc segue um programa para recuperar as áreas de mangue e integrá-las ao hotel. As aulas de stand up paddle e os passeios de caiaque, por exemplo, são no trecho da praia onde começa o manguezal. Mas nos dias de chuva dá até para esquecer que o Mar do Caribe está logo ali. A vegetação fica ainda mais exuberante. E chove muito na Riviera Maya no verão e no outono (de junho a outubro), que também é a época de furacões. Este é um dos pontos fracos da região, ainda que o último furacão devastador tenha sido o Wilma, em 2005, quando a faixa de areia em Cancún foi destruída.

 

O Mar do Caribe e o manguezal no Nizuc
O Mar do Caribe e o manguezal no Nizuc

Outro fenômeno natural que atrapalha a beleza local são os sargaços. As algas escuras são frequentes em praias caribenhas, e nesta temporada apareceram em grande volume. Hotéis de luxo têm funcionários para manter as praias limpas, mas é impressionante a quantidade de algas que amanhece a cada dia nas areias brancas. Com vegetação, calor constante e chuva, mosquitos são onipresentes. Alguns hotéis se preocupam em oferecer repelentes biodegradáveis que podem ser usados inclusive em mergulhos nos cenotes.

A fauna no Hotel Nizuk, na Riviera Maya
A fauna no Nizuc Resort, ao norte da Riviera Maya

Ano passado, o número de turistas na Riviera Maya aumentou 20,5% em relação a 2013: foram 4,4 milhões de visitantes em 2014. A região contava com 42 mil quartos em 399 hotéis ano passado, e a rede hoteleira teve 81,6% de taxa média de ocupação. No verão no Hemisfério Norte, a maioria dos turistas vem da Europa. No inverno, é a vez de americanos e canadenses. Mesmo com furacões, algas e mosquitos, os números do turismo na Riviera Maya são de causar inveja ao Brasil.

Carla Lencastre

Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou por mais de 25 anos na redação do jornal O Globo nas áreas de Comportamento, Cultura, Educação e Turismo. Editou a revista e o site Boa Viagem O Globo por mais de uma década. Anda pelo Brasil e pelo mundo em busca de boas histórias desde sempre. Especializada em Turismo, tem vários prêmios no setor e é colunista do portal Panrotas. Desde 2015 escreve como freelance para diversas publicações, entre elas o #Colabora e O Globo. É carioca e gosta de dias nublados. Ama viajar. Está no Instagram em @CarlaLencastre 

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2 comentários “Na Riviera Maya, o luxo é aliado da preservação ambiental

  1. Hilda Fagundes-Bonnebas disse:

    Carla,
    Obrigada pela maravilhosa matéria sobre a Riviera Maya. Gostei muito de rever o Caribe que me é especialmente querido: passei uma temporada em Pointe-à-Pitre, estudando.
    Quando você escreve sobre os lugares que visitou a gente tem vontade de fazer as malas e partir no dia seguinte. Bravo!
    Hilda Fagundes-Bonnebas

  2. José Antonio Porto de aoliveira disse:

    Poderíamos fazer o mesmo no litoral fluminense , preservando a natureza sem duvida, mas a esquerda caviar é assim, quando se trata dos outros uma maravilha, mas quando falamos do Brasil, para gerar renda e emprego, todos são contra. Vejo neste momento um torneio de GOLFda PGA TOUR que se realiza em Mayacoba, dentro da reserva. Uma maravilha, os animais nativos circulando entre os jogadores. Combinando Mayacoba com Cancun que é pertinho, devido a grande estrutura construída dentro da reserva, o local recebe mais turistas que o Brasil inteiro em um ano. Uma pena andarmos como caranguejos, para trás!

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