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Entender o Carnaval é ler um livro

Dá pra ser cult e sambar, sem perder o ritmo em nenhum instante

ODS 4 • Publicada em 16 de fevereiro de 2024 - 07:54 • Atualizada em 16 de fevereiro de 2024 - 16:35

Assumo ser do time que acredita que as pessoas podem e devem, sim, receber o mais alto manancial de informação, sem distinção. Sem escolha, opção, sem cor, e credo. E a ela, a decisão de fazer, pelo livre arbítrio, o que bem entende, sem que se pense antes: “peraí, será que ela consegue compreender?”; “será que não vai achar chato?”.

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Sem julgar valor, disseminar a palavra aos quatro cantos do mundo. Haveria melhor e maior possibilidade de um feito chegar a tanto ou mais gente, ao mesmo tempo, que durante a festa que catalisa milhares de pessoas? Democrática? Não. Inclusiva? Estamos no caminho…

Assim, apropriar-se do Carnaval, festa pagã pega para Cristo – o Cordeiro que imola-se 40 dias depois – como objeto para escrever ou descrever a História. Aqui, o trio e o carro têm suas luzes ligadas para frente e, sobretudo, para trás, como uma espécie de retenção e atenção aquilo que se viveu no segundo que passou. E o melhor: ensinando. 

O desfile da Portela inspirado no livro Um Defeito de Cor: deu samba misturar Carnaval e livros na Sapucaí (Foto: Alex Ferro / Riotur)
O desfile da Portela inspirado no livro Um Defeito de Cor: deu samba misturar Carnaval e livros na Sapucaí (Foto: Alex Ferro / Riotur)

Não à toa, para o Carnaval 2024, o melhor resultado foi casar agogô, tamborim e tambor, com páginas de livros. Sim! Dá pra ser cult e sambar, sem perder o ritmo em nenhum instante. 

Dessa forma, promover um arrebatamento para o combalido mercado editorial, durante um período onde as folhas dão lugar aos confetes e serpentinas. “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, por exemplo, bateu recorde de vendas após o desfile da Portela, que teve seu enredo inspirado pelo livro. Mas não é caso isolado: “A queda do céu”, livro do yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo Bruce Alberts (que deu enredo pro Salgueiro); o cordel escrito há mais de 100 anos pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, o Testamento da Cigana Esmeralda (Imperatriz); além do livro “Sacerdotisas Voduns e Rainhas do Rosário”, que deu título à Viradouro, fazem coro ao estardalhaço literário que varreu a “quarentinha” Passarela da Marquês de Sapucaí. 

Tudo isso numa festa que teve como criador do seu palco a figura de Darcy Ribeiro (professor, historiador  e integrante da Academia Brasileira de Letras, provando mais uma vez a vocação da vida ser cíclica. 

Na Sapucaí ou na Intendente Magalhães (onde desfilam as escolas menores das séries Prata e Bronze), cruzando todas as ruas, o dever de casa é um só: curtir o Carnaval acompanhado de um bom livro.

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