Diário da Covid-19: Europa passa de 1 milhão de casos e ultrapassa 100 mil mortes

Em Nova York, outdoors e telas digitais exibem mensagens de agradecimento ao trabalho desempenhado pelos profissionais de saúde. Foto Timothy A. Clary/AFP

Brasil, Rússia e Turquia batem recordes e dão os maiores saltos no número de casos e mortes no planeta

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 20 de abril de 2020 - 11:03 • Atualizada em 28 de julho de 2020 - 11:32

Em Nova York, outdoors e telas digitais exibem mensagens de agradecimento ao trabalho desempenhado pelos profissionais de saúde. Foto Timothy A. Clary/AFP

No domingo, a Europa atingiu mais de 1 milhão de casos de covid-19 e ultrapassou 100 mil mortes. O continente europeu é o território mais atingido pela pandemia, mas os EUA são o país mais afetado, com 760 mil casos e mais de 40 mil mortes. Contudo, na última semana, Turquia, Rússia e Brasil foram os países da comunidade internacional que deram os maiores saltos no número de casos (sendo que o Brasil também deu um grande pulo no número de mortes).

O panorama nacional e global

O boletim do Ministério da Saúde, da tarde de domingo (19/04), indicou um montante de 38.654 casos e 2.462 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 6,4%. Como costuma acontecer nos fins de semana, a variação diária foi menor do que nos dias “úteis”. Mesmo assim, o Brasil, junto com a Turquia e a Rússia, foram destaques na semana, apresentando crescimento diário de dois dígitos.

Nos últimos 30 dias, o Brasil passou de 904 casos em 20/03 para 38,7 mil em 19/04 (um crescimento diário de 13,3%), sendo que no mesmo período, a Turquia passou de 670 casos para 86,3 mil (aumento de 17,5% ao dia) e a Rússia passou de 253 casos para 42,9 mil (aumento de 18,7% ao dia). O Brasil, mesmo tendo um ritmo acelerado do crescimento do número de pessoas infectadas, em relação à média mundial, foi ultrapassado pelos outros dois países que avançaram em velocidade ainda mais rápida, como mostra o gráfico abaixo.

Mas a situação se inverte, quando consideramos o número de mortes, pois o Brasil foi o destaque mundial. A Rússia tinha um número muito baixo em 01 de abril (24 óbitos) e passou para 361 mortes em 19/04, um aumento de 15,3% ao dia, mas um valor relativamente baixo em 19/04. A Turquia tinha 277 mortes em 01/04 e passou para 2.017 em 19/04, um aumento de 11% ao dia. Já o Brasil tinha 240 mortes em 01/04 e passou para 2.462 óbitos em 19/04, um aumento de 13,1% ao dia. Mas, como mostra o gráfico abaixo, o Brasil ultrapassou a Turquia no período em questão e está bem à frente da Rússia. A taxa de letalidade, no dia 19/04, era de 0,8% na Rússia, de 2,4% na Turquia e de 6,4% no Brasil

Os dados acima mostram não somente que o Brasil tem um número de mortes muito elevado, mas a alta taxa de letalidade pode indicar que o número de casos esteja subestimado, pois de fato a quantidade de testes realizados no Brasil foi de somente 296 por milhão, na Turquia foi de 7,5 mil por milhão e na Rússia foi de 13,3 mil por milhão.

A pandemia nos continentes

A distribuição geográfica da pandemia do novo coronavírus é bastante diferente conforme a análise dos dados dos continentes. A Europa, que assumiu o epicentro da difusão do novo coronavírus, registrou 1,089 milhão de casos no dia 19/04 (com ritmo de aumento de 3,4% ao dia entre 09/04 e 19/04) e passou de 100 mil mortes (com ritmo de aumento de 4,5% ao dia entre 09/04 e 19/04). Portanto, a taxa de letalidade subiu e chegou a 9,3% em 19/04.

A América do Norte (incluindo América Central) mantém a segunda posição e teve 820,3 mil casos no dia 19/04 (5,1% ao dia no período) e 43,4 mil mortes (9,4% ao dia no período) e taxa de letalidade de 5,3%.

A Ásia, que foi a origem da pandemia, estava em 3º lugar entre os continentes e apresentou 383,2 mil casos no dia 19/04 (3,8% ao dia) e 14,8 mil mortes (aumento de 4,1% ao dia no período) e taxa de letalidade de 3,9% no dia 19/04.

A América do Sul vem em quarto lugar, apresentando 82,3 mil casos (aumento de 7,6% ao dia no período) e 3,8 mil mortes (aumento de 9,1% ao dia) e uma taxa de letalidade de 4,7%.

A África apresentou 22,9 mil casos no dia 19/04 (6% ao dia) e 1127 mortes (6% ao dia no período) e uma taxa de letalidade de 4,9%.

Os números da Oceania são bem menores com 8,1 mil casos (aumento de 0,9% ao dia no período) e 83 mortes (4,8% ao dia) e uma taxa de letalidade de somente 1% no dia 19/04.

O Brasil, no dia 09/04, possuía 1,1% dos casos de covid-19 do mundo e 45,1% da América do Sul e passou para 1,6% e 47% no dia 19/04, significando que os novos casos no Brasil cresceram mais rápido do que a média mundial e do que a média da América do Sul.

Em relação aos óbitos, o Brasil tinha 1% das mortes do mundo e 58,3% das mortes da América do Sul e passou para 1,5% e 63,9%, indicando que as fatalidades no Brasil cresceram mais rápido do que a média mundial e do que a média da América do Sul.

Enfim, o Brasil ainda está subindo a curva da pandemia, enquanto a Europa já está descendo a curva. Depois do Brasil e da América do Sul é o continente africano que possui as maiores taxas de crescimento do número de casos.

A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados

A pandemia e os Pangolins

Os Pangolins foram associados ao surto inicial da doença Covid-19 na China. As evidências são inconclusivas, mas o governo chinês, pressionado pelo drama do surto do novo coronavírus, tomou a decisão de proibir a comercialização e o consumo de diversos animais selvagens, como mostrou reportagem de Michael Marshall, no jornal The Guardian (18/04/2020).

Os pangolins são parecidos com os tamanduás escamosos e seus corpos são cobertos por escamas protetoras duras feitas de queratina: o mesmo material de nossas unhas. Alimentam-se de insetos, como formigas e cupins, geralmente são tímidos e de hábitos noturnos. Embora pareçam tamanduás, eles não estão intimamente relacionados a eles e seus parentes vivos mais próximos são na verdade carnívoros: o grupo que inclui lobos e gatos.

Os pangolins eram caçados e comercializados ilegalmente por dois motivos principais. Primeiro, sua carne é considerada uma iguaria em vários países do sudeste asiático, especialmente na China e no Vietnã. E segundo, suas escalas são usadas na medicina tradicional chinesa. Como resultado, eles são os mamíferos mais traficados do mundo.

Agora, enquanto centenas de milhares de pessoas morrem ao redor do mundo em decorrência da pandemia da covid-19, a nova realidade impôs um ponto de virada para a sobrevivência dos Pangolins e para a preservação da espécie.

A pandemia é uma doença e o especismo é um crime

O especismo é a discriminação existente com base nas desigualdades entre espécies. É a discriminação humana contra os demais seres vivos da Terra. Ocorre, porque os seres racionais se consideram superiores aos demais seres vivos. O especismo é uma das consequências do antropocentrismo, que é a concepção que coloca o ser humano no centro das atenções do mundo, definindo a humanidade como a única espécie sujeita de direitos, inclusive no direito de maltratar e matar seres sencientes perfeitamente adaptados ao habitat e que vivem no Planeta há milhões de anos.

Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam menos de um décimo de um por cento da biomassa dos vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento. A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. Desta forma, o ser humano está reincidindo cotidianamente nos crimes de especismo e ecocídio. O crime de especismo está longe de ter o mesmo reconhecimento de outros crimes, como o  racismo, o escravismo, o sexismo, o classismo, o homofobismo, o xenofobismo, etc.

Durante a quarentena da pandemia de covid-19 as pessoas deveriam aproveitar para se informar sobre o assunto e visitar o site que defende o fim do especismo: <http://end-of-speciesism.org/>

A pandemia e a 6ª extinção em massa das espécies

Existe uma pandemia quase silenciosa que está provocando uma aniquilação biológica e que é pouco considerada pelas pessoas. O último Relatório Planeta Vivo, divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), mostra que o avanço da produção e consumo da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos ecossistemas globais e gerado um ecocídio da vida selvagem do planeta: as populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios, sofreram uma redução de 60% entre 1970 e 2014.

O relatório da WWF é baseado no acompanhamento de mais de 16.700 populações de 4 mil espécies, utilizando câmeras, análise de pegadas, programas de investigação e ciências participativas. A perda de biodiversidade é inquestionável e indica que o monopólio humano não tem sido bom para a riqueza da vida na Terra e está provocando uma verdadeira pandemia no reino animal e vegetal, também chamada de 6ª extinção em massa das espécies, ou 1º evento de exterminação em massa de espécies.

Frase do dia 20 de abril de 2020

“A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”

Mahatma Gandhi (1869-1948)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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