Jovens LGBTs revelam experiências de intolerância em igrejas evangélicas

Nesta série, o #Colabora traz depoimentos emocionantes de quem sentiu na pele o preconceito do discurso anti-LGBT+ de denominações neopentecostais

Por Yuri Alves Fernandes | ODS 16 • Publicada em 26 de agosto de 2019 - 10:16 • Atualizada em 29 de outubro de 2021 - 19:29

Nesta série, o #Colabora traz depoimentos emocionantes de quem sentiu na pele o preconceito do discurso anti-LGBT+ de denominações neopentecostais

Por Yuri Alves Fernandes | ODS 16 • Publicada em 26 de agosto de 2019 - 10:16 • Atualizada em 29 de outubro de 2021 - 19:29

“Antes de ecoar amém na sua casa e no lugar de adoração, pensem. Pensem e lembrem-se. Uma criança está ouvindo”. A célebre frase da norte-americana Mary Griffith tornou-se mundialmente conhecida, sobretudo entre a comunidade LGBT+, por causa do filme Orações para Bobby, de 2009. O longa retrata a história real de uma mãe presbiteriana, Mary, que tenta curar o filho homossexual por meio das teorias bíblicas e da religião. Porém, arrepende-se após ele pular de um viaduto e morrer, aos 20 anos, em 1983. A citação faz parte do depoimento de Mary em uma reunião do conselho municipal sobre a celebração de um dia para o orgulho gay. Quase 40 anos após o acontecimento narrado no filme, crianças e jovens LGBTs continuam ouvindo dentro de diversas igrejas o mesmo discurso de intolerância, que condena e dita suas vidas e práticas como pecado.

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Uma realidade que está longe de ter o seu ponto final. Segundo levantamento do jornal O Globo, por exemplo, cerca de 25 “organizações religiosas ou filosóficas” são abertas por dia no Brasil (dados de janeiro de 2010 a fevereiro de 2017). 

Jovens LGBTs revelam experiências de intolerância em igrejas evangélicas
Ex-evangélicos, Larissa, André/Rebecca Foxx e Gabriel são três dos quatros entrevistados da nova série do #Colabora: “LGBTs: fora do culto” (Fotos: Yuri Fernandes)

No Brasil, a expansão de tais doutrinas e discursos é fortalecida por uma política cada vez menos laica, na qual políticos ligados à denominações religiosas assumem o poder e a Frente Parlamentar Evangélica consegue exercer forte influência sobre as decisões no Congresso Nacional. Não é à toa que a famosa “cura gay” vira e mexe volta a virar pauta e é alentada por fiéis mais radicais. 

Nessa conjuntura, o movimento neopentecostal, formado dentro do cristianismo em meados dos anos 1970 e 1980, cresce a todo vapor. Consequentemente, o discurso conservador também. Seguidores dessas denominações já seriam 24 milhões no país, o que faz o Brasil ser a nação mais neopentecostal do mundo. As com maior representação aqui são a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo, a Igreja Batista Nacional, entre outras. 

Dado o contexto, o #Colabora decidiu ir atrás de jovens que assim como Bobby, do filme citado no início da reportagem, cresceram ouvindo que sua orientação sexual significava perversão, maus espíritos ou um teste espiritual. Por um tempo, André Gomes (mais conhecido como a drag queen Rebecca Foxx), Larissa Rios e Gabriel Pires suplantaram sua sexualidade para adequar-se ao que era pregado, assim como milhares de LGBTs mundo afora. Porém, diferentemente do jovem que inspirou o longa, eles conseguiram resistir e, hoje, são conscientes e orgulhosos de quem são. 

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Jovens LGBTs revelam experiências de intolerância em igrejas evangélicas
Neopentecostal inclusiva, Igreja Cristã Contemporânea no Rio tem como lema: “Sorria, Jesus te aceita” (Foto: Yuri Fernandes)

É importante deixar claro que, à contramão de denominações que promovem a segregação, algumas neopentecostais acolhem sem julgamentos pessoas independentemente da orientação sexual, como a Igreja Cristã Contemporânea. Sua sede na Lapa, no Rio de Janeiro, tem dois pastores LGBTs. Foi lá onde encontramos nossa quarta entrevistada: Laisa Calixto, uma pastora lésbica. 

Nasce assim, a nova série do #ColaboraLGBTs: fora do culto”, em quatro episódios, com histórias de pessoas criadas em igrejas evangélicas neopentecostais que resistiram à intolerância de suas educações e, atualmente, ressignificam seus ideais de amor e compaixão ao próximo. 

Leu essa? O problema não é ter dúvida sobre qual sigla LGBT+ usar, é achar que é um alfabeto e debochar

Saiba um pouco sobre cada episódio e clique no link para conhecer mais sobre a história

Episódio 1: A DJ e youtuber drag Rebecca Foxx, criada pelo hair stylist André Gomes, relembra a adolescência conturbada dentro de grupos de louvor que participava na igreja. Ele foi obrigado a se converter após descoberta da homossexualidade e era visto como um “ex-gay” internamente. 

Episódio 2: Larissa Rios, 20 anos, bissexual, teve problemas ao contar para os pais sobre a sua sexualidade e percebeu, após série de conflitos, que não pertencia mais ao mundo dito pela igreja que seguia. Sem subterfúgios, a estudante comenta sobre “cura gay”, sexualidade dentro da igreja e deixa um emocionante recado para jovens que estão passando por o que ela vivenciou. 

Episódio 3: Gabriel Pires, estudante de arquitetura, relembra um retiro da igreja onde pedia a todo momento para não ser gay, já que foi ensinado a ele que isso era errado. O jovem reflete ainda sobre identidade, fanatismo religioso e conta como começou a ressignificar as passagens bíblicas interpretadas como contrárias aos homossexuais. 

Episódio 4: Laiza Calixto é uma pastora lésbica da Igreja Cristã Contemporânea, conhecida por apoiar o casamento LGBT+. Durante a entrevista, elucidou assimetrias entre escrituras bíblicas e discursos anti-LGBT+.

Yuri Alves Fernandes

Jornalista e roteirista do #Colabora especializado em pautas sobre Diversidade. Autor da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, vencedora do Prêmio Longevidade Bradesco e do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+. Fez parte da equipe ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”. É coordenador de jornalismo do Canal Reload e diretor do podcast "DáUmReload", da Amazon Music. Já passou pelas redações do EGO, Bom Dia Brasil e do Fantástico. Por meio da comunicação humanizada, busca ecoar vozes de minorias sociais, sobretudo, da comunidade LGBT+.

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