‘Eu achava que Deus poderia me curar’, relata drag queen

No primeiro episódio de 'LGBTs: fora do culto', Rebecca Foxx conta como foi frequentar igreja logo após descoberta da homossexualidade: 'Pensavam que eu era um ex-gay'

Por Alceu Júnior | ODS 16 • Publicada em 27 de agosto de 2019 - 08:27 • Atualizada em 29 de outubro de 2021 - 19:43

No primeiro episódio de 'LGBTs: fora do culto', Rebecca Foxx conta como foi frequentar igreja logo após descoberta da homossexualidade: 'Pensavam que eu era um ex-gay'

Por Alceu Júnior | ODS 16 • Publicada em 27 de agosto de 2019 - 08:27 • Atualizada em 29 de outubro de 2021 - 19:43

André Gomes, atualmente com 29 anos, há cinco dá vida à personagem Rebecca Foxx. São duas horas de preparação até se transformar na drag queen, que agita as noites cariocas como DJ e faz sucesso no YouTube com um canal sobre maquiagem e comportamento. A conta tem quase 80 mil inscritos. Diferentemente da grande maioria dos LGBTs, André começou frequentar os cultos evangélicos quando sua mãe descobriu sua homossexualidade.

Na época, ela acreditava que o menino estava endemoniado. Foi um período difícil, porque vivia um constante conflito entre sua sexualidade e sua fé. Por medo do julgamento dos membros da igreja, escondia sua orientação. “Na minha cabeça, eu achava que Deus poderia me curar. As pessoas pensavam que eu tinha sido liberto, que eu era um ex-gay”, relembrou o artista, protagonista do primeiro episódio da série “LGBTs: fora do culto”.

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Quando Jesus veio à Terra, não ficou trancado dentro de uma igreja. Ele queria espalhar amor pelo mundo

Hoje, André não acredita em religião alguma, mas garante que sua fé continua intacta: “Oro todos os dias. Tenho minha intimidade com Deus e posso dizer que sinto um pouco da presença Dele.”

Ele, que anunciou recentemente a decisão de priorizar a profissão de hair stylist e maquiador, contou como a relação com a sua família mudou com tempo. A mãe, hoje, o ajuda na confecção de seus figurinos. A calça que usava durante esta entrevista foi costurada pela avó: “Eu tenho que agradecer a Deus por hoje a gente viver em paz. Eles entenderam quem eu sou de verdade.”

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'Eu achava que Deus poderia me curar', relata drag queen
“Oro todos os dias. Tenho minha intimidade com Deus”, afirma André Gomes (Foto: Yuri Fernandes)

Assim como muitos LGBTs que passaram por igrejas evangélicas neopentecostais e tiveram sua sexualidade condenada, André percebe uma dissimetria entre o que é pregado nos cultos e a atitude dos fiéis: “A maioria dos evangélicos não frequenta a igreja por amar a Deus, mas para julgar as outras pessoas e dizer quem vai para o céu e quem vai pro inferno.”  Apesar de tudo que sofreu, a drag queen contou que aprendeu muito sobre arte nos projetos de dança, teatro e canto dentro da igreja e até hoje guarda boas recordações do que aprendeu na época.

O lampejo para sair da igreja aconteceu depois que ele se envolveu com um rapaz. Hoje, diz que é 100% feliz, não carrega nenhuma culpa como naquela época e manda seu recado para quem tem medo de se assumir: “Quando Jesus veio à Terra, não ficou trancado dentro de uma igreja. Ele queria espalhar amor pelo mundo.”

Alceu Júnior

Estudante de Jornalismo da Escola de Comunicação da UFRJ, nascido na Zona Leste de São Paulo. Tem interesse por cinema documental e infinita admiração pelas mídias independentes.

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