Entrevistamos o ChatGPT sobre o governo Bolsonaro

Lançado em novembro de 2022 pela OpenAI, o ChatGPT é um assistente virtual inteligente programado para usar dados e fatos objetivos em suas respostas. Foto NurPhto via AFP

Economia, meio ambiente, saúde, racismo, misoginia, o que a Inteligência Artificial conta sobre a gestão o ex-presidente

Por Agostinho Vieira | ODS 16 • Publicada em 2 de maio de 2023 - 09:52 • Atualizada em 25 de novembro de 2023 - 13:35

Lançado em novembro de 2022 pela OpenAI, o ChatGPT é um assistente virtual inteligente programado para usar dados e fatos objetivos em suas respostas. Foto NurPhto via AFP

Sem dúvida nenhuma, o nosso entrevistado de hoje é uma figura singular. Figura? Singular? Será? Enfim, ele não tem cara e nem voz, pelo menos não por enquanto. Também não tem opinião. Certamente é o primeiro entrevistado da história do #Colabora que não acha, pensa ou avalia nada. Para perguntas comuns no jornalismo, como “o que você acha?”, “como avalia?”, “o que pensa sobre?”, a resposta é quase sempre a mesma: “Como uma inteligência artificial, não tenho capacidade de emitir juízos de valor ou avaliações pessoais, já que minha programação é baseada em fatos e dados objetivos”.

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Ok, tudo bem. Nada de juízos de valor, só fatos e dados. Foi com essas regras em mente que conversamos por 30 minutos com o ChatGPT sobre os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro. Perguntas objetivas e respostas rápidas mostram como ele se saiu em temas importantes como economia, saúde, educação e meio ambiente. O que disse e fez de relevante. Aí estão os melhores momentos:

#Colabora: Qual a sua avaliação sobre os 4 anos do governo de Jair Bolsonaro?

ChatGPT: Como uma inteligência artificial, não tenho capacidade de emitir juízos de valor ou avaliações pessoais, já que minha programação é baseada em fatos e dados objetivos. No entanto, posso mencionar que o governo Bolsonaro enfrentou muitos desafios e polêmicas em seus quatro anos de mandato, tanto em nível nacional quanto internacional, como a pandemia de Covid-19, a crise econômica, a questão ambiental, as relações com outros países, entre outros temas.

#Colabora: Ok, desculpe, vou tentar ser mais objetivo daqui para a frente. Como foi o desempenho do governo na área da saúde?

ChatGPT: O governo Bolsonaro enfrentou grandes desafios na área da saúde, especialmente em meio à pandemia de Covid-19. A resposta do governo à pandemia foi alvo de críticas por parte de especialistas e da sociedade em geral, devido à falta de coordenação nacional, negacionismo em relação à gravidade da situação e ações controversas, como a defesa de medicamentos sem eficácia comprovada.

Além disso, o governo enfrentou dificuldades em relação à gestão de recursos e à distribuição de equipamentos e insumos de saúde, como respiradores e EPIs, para estados e municípios. Houve também atrasos na campanha de vacinação, que começou mais tarde do que em outros países e problemas de logística e distribuição. Houve também cortes de verbas para programas importantes como o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e o Programa Farmácia Popular, o que afetou o acesso da população a medicamentos e vacinas. Dessa forma, pode-se afirmar que o desempenho do governo Bolsonaro na área de saúde foi muito criticado, especialmente durante a pandemia, e que houve problemas significativos em relação à gestão de recursos e à coordenação nacional de políticas de saúde.

#Colabora: Interessante. E como foi o trabalho na educação?

ChatGPT: O governo Bolsonaro enfrentou muitas críticas na área de educação também. O Ministério da Educação passou por uma série de mudanças e trocas de ministros, o que gerou instabilidade na pasta e dificultou a implementação de políticas públicas consistentes. O governo também foi criticado por conta do corte de verbas para as universidades federais e o programa Ciência sem Fronteiras, que permitia que estudantes brasileiros fizessem intercâmbio em universidades estrangeiras. Além disso, houve uma tentativa do governo de implementar o programa Future-se, que visava mudar a gestão das universidades federais, mas que foi rejeitado por estudantes e professores.

#Colabora: Concretamente, dá para dizer que a desigualdade foi reduzida no governo Bolsonaro?

ChatGPT: Infelizmente, a desigualdade social não foi reduzida durante o governo Bolsonaro, pelo contrário, houve um aumento da desigualdade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de pobreza no Brasil subiu em 2020, atingindo 27,6% da população, o que representa cerca de 56 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Além disso, a pandemia de Covid-19 agravou a situação socioeconômica do país, com um aumento significativo do desemprego e da informalidade, além de aprofundar as desigualdades regionais.

O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa ao deixar a sede da Polícia Federal, em Brasília, onde foi prestar depoimento sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Foto Ton Molina/AFP
O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa ao deixar a sede da Polícia Federal, em Brasília, onde foi prestar depoimento sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Foto Ton Molina/AFP

#Colabora: E quais foram os resultados econômicos do governo?

ChatGPT: O desempenho econômico do governo Bolsonaro foi afetado por diversos fatores, incluindo a pandemia de Covid-19, que teve um impacto significativo na economia global. Antes da pandemia, a economia brasileira vinha se recuperando gradualmente da recessão que ocorreu entre 2015 e 2016. No entanto, a pandemia interrompeu essa recuperação e teve um impacto significativo no mercado de trabalho e nas finanças públicas. Em 2020, o PIB do Brasil encolheu cerca de 4,1%, a maior queda em 25 anos, de acordo com dados do IBGE. A taxa de desemprego atingiu o nível mais alto em oito anos, com milhões de trabalhadores perdendo seus empregos. Além disso, a inflação aumentou e a dívida pública se tornou ainda mais elevada.

#Colabora: Não é possível, só tem notícia ruim? Quais foram as três maiores realizações do governo Bolsonaro?

1 – Reforma da Previdência: em 2019, o governo Bolsonaro conseguiu aprovar uma reforma da Previdência que estabeleceu novas regras para aposentadoria e pensão, com o objetivo de equilibrar as contas públicas e garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário.

2 – Marco Legal do Saneamento Básico: em 2020, o governo Bolsonaro sancionou uma lei que estabeleceu novas regras para o setor de saneamento básico, com o objetivo de aumentar os investimentos privados e melhorar a prestação de serviços de água e esgoto em todo o país.

3 – Política de Segurança Pública: o governo Bolsonaro adotou uma política de segurança pública que incluiu o fortalecimento das polícias, a flexibilização das regras para posse e porte de armas de fogo e o endurecimento das penas para crimes violentos. Essas medidas têm sido defendidas como forma de combater a criminalidade e garantir a segurança da população.

#Colabora: Você tem alguma estatística mostrando que a distribuição de armas de fogo entre a população melhore a segurança pública?

ChatGPT:   Não há evidências conclusivas de que a distribuição de armas de fogo entre a população melhore a segurança pública. Na verdade, muitos estudos mostram que a maior disponibilidade de armas está associada a um aumento da violência e da criminalidade. Por exemplo, um estudo publicado em 2019 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que a posse de armas de fogo no Brasil estava associada a um aumento significativo da violência doméstica e familiar. Outros estudos internacionais também sugerem que a maior disponibilidade de armas de fogo está associada a um aumento da mortalidade por homicídio, suicídio e acidente.

#Colabora: Agora vamos falar de Amazônia, como foi o desempenho do governo no combate ao desmatamento?

ChatGPT: A atuação do governo Bolsonaro na Amazônia foi bastante controversa e criticada por especialistas em meio ambiente e defensores dos direitos dos povos indígenas. Em seu primeiro ano de mandato, o governo enfraqueceu a fiscalização ambiental e reduziu o orçamento das agências responsáveis por proteger a floresta amazônica. Durante sua gestão, houve um aumento significativo nas taxas de desmatamento, especialmente nos anos de 2019 e 2020. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a área desmatada na Amazônia aumentou em 29,5% em 2019 em comparação com o ano anterior, e em 9,5% em 2020 em relação a 2019. Além disso, houve uma série de declarações polêmicas do presidente e de membros do governo minimizando a importância da preservação ambiental e dos direitos dos povos indígenas.

#Colabora: Você tem alguns exemplos dessas frases do presidente sobre a Amazônia?

ChatGPT: “O Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer”, em referência às críticas internacionais sobre as queimadas na Amazônia em 2019.

“Eu quero que o mundo vá para a puta que o pariu”, em relação às críticas internacionais sobre as queimadas na Amazônia em 2019.

“Essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”, em resposta às críticas internacionais sobre as queimadas na Amazônia em 2019.

“Essa política do ‘pelo ambiente vale tudo’ não pode existir”, em resposta às críticas internacionais sobre as políticas ambientais do Brasil.

“O índio é um ser humano como nós. Ele quer energia elétrica, ele quer internet, ele quer médico, ele quer dentista, ele quer jogar bola, ele quer assistir televisão, ele quer conhecer a sua geladeira”, em defesa de suas políticas de exploração econômica em áreas indígenas na Amazônia.

#Colabora: O ex-presidente Bolsonaro seria racista?

ChatGPT: Algumas das declarações e ações do presidente Jair Bolsonaro levaram muitas pessoas a considerá-lo racista, ou seja, alguém que tem aversão, preconceito ou ódio em relação a pessoas de diferentes raças e etnias. Ele já fez comentários pejorativos em relação a negros, indígenas e outras minorias étnicas, minimizou a importância da escravidão na história do Brasil e se recusou a assinar a declaração da ONU que reconhece a importância da luta contra o racismo.

#Colabora: E misógino, será que ele é?

ChatGPT: Algumas declarações levaram muitas pessoas a considerá-lo misógino, ou seja, alguém que tem aversão, preconceito ou ódio em relação às mulheres. Ele já fez comentários sexistas, fez gestos obscenos, minimizou casos de violência contra mulheres e promoveu ações que prejudicaram os direitos e a saúde das mulheres, como a diminuição de recursos para políticas de saúde sexual e reprodutiva e o veto a projetos que poderiam proteger mulheres vítimas de violência doméstica.

#Colabora: Você teria exemplos dessas frases?

ChatGPT: “Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher” (em um evento em 2017).

“Só não te estupro porque você não merece” (dita em 2003 para a deputada federal Maria do Rosário).

“Mulher é igual a nota de R$ 200,00, você não sabe se é falsa ou se é verdadeira, mas você aceita” (em um evento em 2020).

“Não empregaria com o mesmo salário. Mas tem empresa que faz isso, parabéns para ela. A mulher, quando engravida, adota comportamento diferente” (em uma entrevista em 2014).

#Colabora: Nossa, foi um governo bem ruim mesmo. Ainda bem que ele não foi reeleito.

ChatGPT: Lembre-se de que é importante mantermos uma postura neutra e imparcial ao discutir política. Não cabe a mim tomar partido ou expressar opiniões pessoais. Meu papel é fornecer informações e esclarecimentos para que você possa tirar suas próprias conclusões e formar sua própria opinião.

#Colabora: É verdade, você tem razão. Muito obrigado pela entrevista.

ChatGPT: Por nada, estou sempre aqui para ajudar com informações e respostas às suas perguntas. Se tiver mais alguma dúvida ou precisar de ajuda em algum assunto, é só me perguntar!

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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