Pantanais: livro mostra as origens de um bioma múltiplo e de seus povos

Labirinto de águas onde o Rio Cuiabá encontra-se com o Paraguai, no Pantanal: livro mostra origens de um bioma de múltiplas facetas (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)

Em 'Pantanal - Origens de um Paraíso', historiadores desvendam a formação de um ecossistema singular e único e a trajetória das ancestrais nações indígenas

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 28 de setembro de 2023 - 08:43 • Atualizada em 21 de novembro de 2023 - 16:48

Labirinto de águas onde o Rio Cuiabá encontra-se com o Paraguai, no Pantanal: livro mostra origens de um bioma de múltiplas facetas (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)

O título do livro é Pantanal – Origens de um Paraíso, mas os autores – os historiadores Maria de Fátima Costa e Pablo Diener – tratam o bioma seguidamente no plural, Pantanais, pela diversidade da região. São 11 Pantanais identificados e delimitados no livro, 11 Pantanais com diferentes características, inclusive com fauna e flora do Cerrado, da Amazônia, da Mata Atlântica. A publicação viaja pela formação geográfica da região com seus característicos e únicos ciclos de enchentes e vazantes. “Tudo nesse espaço possui uma ordem que, dentro de sua dinâmica mutável, precisa ser cuidada com muito bem querer”, escrevem os historiadores.

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Este paraíso – destacado no título e também pelas imagens exuberantes produzidos por 10 fotógrafos – enfrenta constantes ameaças pela ação humana: em 2020, o Pantanal registrou um recorde de queimadas; agora, em 2023, o desmatamento deu um salto. A região – aproximadamente 110 mil km² com o Rio Paraguai como eixo, com seus 1.272 km de extensão e seus afluentes – tem uma formação recente, delineada ao longo dos últimos séculos pelo movimento das águas na planície ligeiramente inclinada, com imensas lagoas temporárias aparecem e desaparecem. “Hoje o Pantanal é conhecido em todo o mundo pela singularidade de seu ecossistema. A região é admirada e reconhecida por seu valor único como uma das maiores áreas alagáveis contínuas do planeta. Por que então ocorrem tremenda agressões ao seu meio ambiente todos os dias?”, questionam os autores.

Vitória-régia, planta amazônica, aos pés da serra do Amolar, no Pantanal: bioma múltiplo e diverso reúne vegetação da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica (Foto: Mike Bueno / Divulgação)
Vitória-régia, planta amazônica, aos pés da serra do Amolar, no Pantanal: bioma múltiplo e diverso reúne vegetação da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica (Foto: Mike Bueno / Divulgação)

A ameaça é generalizada para todos os Pantanais. Em alguns espaços, é a mineração que gera os maiores riscos. Em outras áreas, é a exploração pecuária intensiva, como a introdução de pastagens exóticas

Pablo Diener
Historiador

Na sua viagem pelos Pantanais, o livro – lançado pela Capivara Editora, com apoio da Documenta Pantanal – também reconta a ocupação da região pelos seus povos originários, reproduzindo imagens rupestres e acompanhando a saga das nações indígenas pantaneiras que, a partir do século XVI, foram seguidamente perseguidas por espanhóis, portugueses e luso-brasileiros. “Os habitantes ancestrais do Pantanal descobriram maneiras de manter um convívio equilibrado com o sungular espaço que ocupavam”, destacam. “Os novos aspirantes a exercer domínio sobre a região não tardaram a entrar em conflito aberto com as populações originárias e com o meio ambiente”.

Em verdade, restam apenas representantes de três das muitas nações indígenas que viveram no Pantanal durante centenas de anos: os Kadiwéu, que são descendentes da nação dos indígenas Guaikuru; e os Terena e os Kinikinau pertencem à antiga nação dos chanés-guanás

Maria de Fátima Costa
Historiadora

Professores da Universidade Federal de Mato Grosso, a baiana Maria de Fátima Costa, doutora em História pela USP e pesquisadora da Rede Internacional Geopolítica Americana dos séculos XVI–XIX, e o chileno Pablo Diener, radicado no Brasil há mais de 30 anos e doutor em História da Arte pela Universidade de Zurique, responderam por mensagens a perguntas enviadas pelo #Colabora sobre Pantanal – Origens de um paraíso. É do casal a autoria de uma série de livros sobre expedições científicas no Brasil – como Bastidores da Expedição Langsdorff e Martius. A viagem da publicação recém-lançada termina em meados do século passado, mas Costa e Diner estão produzindo mais um livro sobre o Pantanal, para “poder completar esse panorama amplo da história natural e humana dos Pantanais até chegar aos nossos dias”,

Manada de cavalos pantaneiros atravessando área alagada: assoreamento dos rios muda ciclo de alagamentos no Pantanal (Foto: Mário Friedlander / Divulgação)
Manada de cavalos pantaneiros atravessando área alagada: assoreamento dos rios muda ciclo de alagamentos no Pantanal (Foto: Mário Friedlander / Divulgação)

#Colabora – No primeiro semestre de 2023, a área desmatada do Pantanal só em Mato Grosso do Sul aumentou 174%; em 2020, o bioma teve recorde de queimadas: o livro considera que existem 11 Pantanais. Quais os Pantanais que estão mais ameaçados pela ação humana?? Por que??

Pablo Diener – A ameaça é generalizada para todos os Pantanais. Os fatores de ameaça mudam, claro. Em alguns espaços, nomeadamente nas proximidades de Poconé, em Mato Grosso, ou perto do Morro de Urucum, em Mato Grosso do Sul, é a mineração que gera os maiores riscos. Em outras áreas, é a exploração pecuária intensiva, como a introdução de pastagens exóticas. E ainda no território de Mato Grosso do Sul, é a introdução de cultivos que até alguns anos eram praticados no planalto, mas agora também se estendem à planície pantaneira. Esses temas não estão neste Pantanal – Origens de um Paraíso, mas estarão no livro que devemos lançar até o fim do ano.

O Rio Paraguai, eixo central do Pantanal: para historiador Paulo Diener, "a água é a seiva de vida do Pantanal; devido ao excesso ou má distribuição de água, o sistema pode colapsar"
O Rio Paraguai, eixo central do Pantanal: para historiador Paulo Diener, “a água é a seiva de vida do Pantanal; devido ao excesso ou má distribuição de água, o sistema pode colapsar” (Foto: Mike Bueno / Divulgação)

#Colabora – O Pantanal é uma das regiões onde a temperatura mais vem aumentando: como isso pode afetar a paisagem alagada da região? Quais Pantanais podem ser mais atingidos pelas mudanças já em curso nos regimes de chuva? Como região de formação recente, o que pode acontecer com o Pantanal (ou os Pantanais?)

A monocultura no planalto, nas regiões adjacentes à Bacia Pantaneira, vem atuando de forma dramaticamente agressiva sobre o complexo pantaneiro devido ao aumento da erosão provocada pelo desmatamento nas terras da planalto, o que faz com que grandes quantidades de terras acabem nos leitos dos rios. E isso provoca um assoreamentos que literalmente matam o curso fluvial

Pablo Diener
Historiador

Pablo Diener – No Pantanal, Origens de um Paraíso, a gente não tratou dos pormenores referentes ao aumento das temperaturas. Mostramos, sim,  a sensível engrenagem de funcionamento dos fatores climáticos, hídricos e das condições da terra. Explicamos porque qualquer alteração em um ou mais destes fatores causa enormes transtornos. A água é, sem dúvida, um fator decisivo. A água é a seiva de vida do Pantanal. Devido ao excesso ou má distribuição de água, o sistema pode colapsar. É o caso dos Pantanais associados ao Rio Taquari, por exemplo, cujo leito tem se perdido e provoca inundações permanentes ou quase permanentes em grandes extensões, modificando o habitat de plantas e animais que vivem num regime onde as alternâncias (entre áreas alagadas e depois secas) eram, até um passado a recente, a tônica. E a falta de água provocará, no médio prazo, a desertificação da região.

Amanhecer no Pantanal com revoada de cabeças-secas: ação humana vem impactando habitat de animais e plantas no bioma (Foto: Mário Friedlander / Divulgação)
Amanhecer no Pantanal com revoada de cabeças-secas: ação humana vem impactando habitat de animais e plantas no bioma (Foto: Mário Friedlander / Divulgação)

#Colabora – Apesar de ser tratado como um bioma, o Pantanal, na verdade, não tem a mesma homogeneidade de vegetação dos outros biomas brasileiros? Essa diversidade vem sendo mantida (ou modificada de alguma forma) ao longo dos últimos séculos quando a presença do homem foi crescendo cada vez mais?

Pablo Diener – O IBGE trata o Pantanal como um bioma sui generis, reconhecendo que a Bacia Pantaneira não cumpre com as características de ter uma fitofisionomia homogênea, quer dizer, uma fisionomia vegetal homogênea, como é no caso dos demais biomas brasileiros. Quem propôs uma solução conceitual a esse impasse foi o ecólogo e biólogo Leopoldo Magno Coutinho. Para ele, o Pantanal, mais do que um bioma, é um complexo, vale dizer, um espaço geográfico definido, mas bastante diversificado quanto aos solos e às fitofisionomias. São múltiplos ambientes com múltiplas condições ecológicas que convivem.

#Colabora – O livro cita o avanço da soja em pelo menos um Pantanal. Qual o impacto da agricultura, particularmente da monocultura da soja, na região? Há Pantanais mais ameaçados? Algum tipo de lavoura pode ser desenvolvida sem afetar o bioma?

A região era habitada por muitas dezenas de diferentes etnias, a maioria formada de povos canoeiros, pescadores e coletores. Esses grupos possuíam distintos costumes, falavam línguas diversas e tinham clareza sobre os limites naturais dos territórios que cada um ocupava.

Maria de Fátima Costa
Historiadora
A Serra do Amolar, no oeste do Pantanal: pecuária e agricultura intensivas ameaçam delicado ecossistema do bioma (Foto: Araquém Alcântara / Divulgação)
A Serra do Amolar, no oeste do Pantanal: pecuária e agricultura intensivas ameaçam delicado ecossistema do bioma (Foto: Araquém Alcântara / Divulgação)

Pablo Diener – A questão da soja é outro assunto que não tratamos em profundidade neste livro, mas abordamos no livro que será lançado até o final deste ano. Nele, apresentamos o problema da exploração descontrolada das terras pantaneiras que, nos últimos 50 anos, ou seja, desde a década de 1970 em especial, tem causado danos ao complexo pantaneiro. Mas a monocultura no planalto, nas regiões adjacentes à Bacia Pantaneira, vem atuando de forma dramaticamente agressiva sobre o complexo pantaneiro devido ao aumento da erosão provocada pelo desmatamento nas terras da planalto, o que faz com que grandes quantidades de terras acabem nos leitos dos rios. E isso provoca um assoreamentos que literalmente matam o curso fluvial. Uma questão fundamental para as práticas pecuárias e, em parte, também agrárias no Pantanal tem a ver com a intensidade dessas práticas. O cultivo e a criação de animais de forma extensiva são sustentáveis e historicamente têm sido praticados, mas, quando essas práticas ganham formas intensivas, o delicado sistema pantaneiro não resiste.

Imagens dos índios Guatós, nação canoeira, no século XIX: apenas cinco nações indígenas - das dezenas que habitavam a região antes da chegada dos invasores - ainda vivem no Pantanal (Desenho de John Henry Elliot / Reprodução / Divulgação)
Imagens dos índios Guatós, nação canoeira, no século XIX: apenas cinco nações indígenas – das dezenas que habitavam a região antes da chegada dos invasores – ainda vivem no Pantanal (Desenho de John Henry Elliot / Reprodução / Divulgação)

#Colabora – Pelo levantamento publicado no mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú da década de 1940, reproduzido no livro, havia, pelo menos, 41 etnias indígenas na região dos Pantanais; hoje, nas sete terras indígenas, há representantes de apenas cinco povos indígenas (Terena, Bororo, Kadiweu, Kinikinau e Guató). Esses outros povos simplesmente foram extintos em menos de um século? Como foi essa redução nesse período (desde o mapa de Nimuendajú) já que desde 1910 existia o serviço de proteção ao índio e, a partir de 1967, a Funai?

Maria de Fátima Costa – O mapa de Curt Nimuendajú, na verdade, compila dados de múltiplas fontes, materiais produzido por diversos autores desde o século XIV até o início do século XX. Foram a partir dessas informações, que ele extraiu aquelas que foram compor o seu mapa. O que fizemos no livro foi comparar esses dados com os que foram levantados recentemente pela Funai e, a partir disso, ter uma clara ideia do processo de população pelo qual passou o Pantanal desde o século XVI até o século XX. E sim, pela comparação dos dados de Nimuendajú com a situação atual, temos realmente apenas cinco povos – Bororo, Guató, Kadiwéu, Terena e Kinikinau. Mas, em verdade, restam apenas representantes de três das muitas nações indígenas que viveram no Pantanal durante centenas de anos: os Kadiwéu, que são descendentes da nação dos indígenas Guaikuru; e os Terena e os Kinikinau pertencem à antiga nação dos chanés-guanás.

Imensa área alagada fez com que a região fosse batizada inicialmente como Lagoa dos Xarayes, o nome da maior nação indígena do lugar 500 anos atrás: os Xaraés, como conhecidos no Brasil, acabaram dizimados pelos colonizadores espanhóis e portugueses (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)
Imensa área alagada fez com que a região fosse batizada inicialmente como Lagoa dos Xarayes, o nome da maior nação indígena do lugar 500 anos atrás: os Xaraés, como conhecidos no Brasil, acabaram dizimados pelos colonizadores espanhóis e portugueses (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)

#Colabora – O mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú registra a presença de um povo Xaray que, imagino, seja o mesmo Xarayes, que batizava a grande lagoa que, em realidade, identificava toda a região há 500 anos. Os Xarayes (ou Xaraés) eram o mais populoso povo indígena antes da chegada de espanhóis e portugueses? Como foi o processo de extinção dessa etnia? O mapa é o último registro desse povo?

Esses povos guardam a memória da sua territorialidade ancestral e da sua cosmovisão e  elas são expressadas ainda hoje através dos seus mitos, lendas e nas diferentes formas de linguagens que ainda usam, sejam através dos rituais, da língua falada, dos desenhos que tatuam nos seus rostos e corpos, das músicas e dos objetos de sua cultura material

Maria de Fátima Costa
Historiadora

Maria de Fátima Costa – Sim, os Xaray são os Xaraés, nação que durante mais de dois séculos emprestou seu nome à região que hoje denominamos Pantanal. Pela descrição deixada pelos conquistadores espanhóis, os Xaraés formavam uma grande populosa nação que habitava em grandes aldeias localizadas em ambas as margens do rio Paraguai. Seus domínios territoriais se estendiam de uma forma geral, grosso modo e em termos atuais, da região que vai da desembocadura do Rio Cuiabá até a desembocadura do Rio Jauru. Os Xaraés eram agricultores e foram considerados pelos conquistadores como gente policia, ou seja, gente pacífica. E, por isso mesmo, eles foram rapidamente incorporados ao processo de colonização e submetidos através da prática de pacificação  entre aspas, claro – e que se constituía reunir esses indígenas e dividi-los em encomendas dando-os aos conquistadores. A última notícia segura que temos dos Xaraés foi deixada em 1557, quando se descreve o último processo de pacificação e encomenda que os espanhóis impetraram contra esses indígenas.

Cavalos pantaneiros atravessam área alagada: trazidos pelos europeus, cavalos foram incorporados pelos indígenas da região que eram canoeiros, pescadores e coletores (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)
Cavalos pantaneiros atravessam área alagada: trazidos pelos europeus, cavalos foram incorporados pelos indígenas da região que eram canoeiros, pescadores e coletores (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)

#Colabora – Esses cinco povos indígenas que ocupam as sete TIs nos Pantanais são todos originários da região ou vieram de outras partes? Como foram os processos migratórios dos indígenas acossados por espanhóis, portugueses e luso-brasileiros?

Maria de Fátima Costa – Destes cinco povos indígenas, apenas os Guató são ancestralmente pantaneiros. Os Kadiwéu, como comentei há pouco, pertencem à antiga família guerreira da nação Guaikuru, e os Terena e os Kinikinau aos Chané-Guaná. Tanto os Guaikuru como os Chané-Guaná são nações oriundas do Grande Chaco, que emigraram para a região da Bacia do Alto Rio Paraguai em meado do século XVII. Já os Bororo, até onde se sabe, viviam na parte mais ao norte da Bacia Pantaneira, com registro de sua presença há pelo menos sete mil anos.

Sobre os processos migratórios e de acossamentos postos em prática pelos espanhóis, portugueses e brasileiros, a questão é muito mais complexa. Há de se considerar a política inter-étnica posta em prática pelos próprios indígenas, e, principalmente, as múltiplas formas de guerras impostas pelos conquistadores ibéricos, e, mais recentemente, pelos brasileiros. Guerras que foram realizadas de diversas maneiras, como a guerra bacteriológica, essa que, de forma silenciosa, introduz os vírus desconhecidos, que levam a grande mortandade. A guerra de extermínio explícito, antigamente chamada de guerra justa, que tinha o fim de realmente exterminar um povo, uma nação. As guerras levadas a cabo para escravizar indígenas, e levá-los como mão de obra, ou como encomenda. E não podemos deixar de considerar o contínuo genocídio que se pratica ao longo dos séculos. Essas questões não estão tratadas de uma maneira clara nesse livro, porque estão no próximo livro que Pablo já citou, que fizemos sobre o Pantanal e que também vai sair pela Editora Capivara.

O casal de historiadores Maria de Fátima Costa e Pablo Diener: após Pantanal - Origens de um Paraíso, novo livro sobre a região deve ser lançado no fim do ano (Foto: Divulgação)
O casal de historiadores Maria de Fátima Costa e Pablo Diener: após Pantanal – Origens de um Paraíso, novo livro sobre a região deve ser lançado no fim do ano (Foto: Divulgação)

#Colabora – Hoje vivem nessas sete TIs cerca de 12 mil indígenas: é possível fazer algum tipo de cálculo da população indígena na região quando chegaram as primeiras expedições de espanhóis e portugueses? Quais os principais traços que os indígenas dos pantanais do século 21 guardam de seus ancestrais que habitavam a região 500 anos?

Maria de Fátima Costa – Como mostramos no livro, ainda desconhecemos qual é a totalidade de nações e povos indígenas que viviam na área inundável da bacia do alto rio Paraguai quando os primeiros europeus ali chegaram no início do século XVI e dificilmente um dia vamos ter um conhecimento mais seguro sobre isso. Porém, as informações deixadas por esses ibéricos permitem atestar que a região era habitada por muitas dezenas de diferentes etnias, a maioria formada de povos canoeiros, pescadores e coletores. Esses grupos possuíam distintos costumes, falavam línguas diversas e tinham clareza sobre os limites naturais dos territórios que cada um ocupava. Sobre os principais traços, cabe observar que as culturas indígenas, como todas as demais, são dinâmicas e estão sempre se ressignificando.

Mas, pensando em termos gerais, a primeira questão é o seu autorreconhecimento como indígena, como pertencente a um povo ou nação que tem sua própria língua, história, costumes e religiosidades. Além do que, esses povos guardam a memória da sua territorialidade ancestral e da sua cosmovisão e  elas são expressadas ainda hoje através dos seus mitos, lendas e nas diferentes formas de linguagens que ainda usam, sejam através dos rituais, da língua falada, dos desenhos que tatuam nos seus rostos e corpos, das músicas e dos objetos de sua cultura material.

O morro Chané nas margens do rio Paraguai: bioma de múltiplas facetas leva historiadores a identificar 11 Pantanais no livro (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)
O morro Chané nas margens do rio Paraguai: bioma de múltiplas facetas leva historiadores a identificar 11 Pantanais no livro (Foto: Mario Friedlander / Divulgação)

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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