Crescimento das cidades é tema crucial na COP21

Rua 25 de Março em São Paulo

Esforço para mitigar gases de efeito estufa pode ser neutralizado com inchaço das áreas urbanas

Por Suzana Kahn | ArtigoODS 11ODS 7 • Publicada em 5 de dezembro de 2015 - 11:00 • Atualizada em 6 de dezembro de 2015 - 16:31

Rua 25 de Março em São Paulo
ONU estima que 90% da população no Brasil estará vivendo em áreas urbanas em 2020
ONU estima que 90% da população no Brasil estarão vivendo em áreas urbanas em 2020

O aumento populacional associado a uma elevada taxa de urbanização fará com que as cidades se tornem os principais vetores do aumento das emissões de gases de efeito estufa. A UN-Habitat – Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos – estima que o Brasil terá 90% de sua população vivendo em áreas urbanas em 2020. Isto significa a criação massiva de infraestrutura urbana com elevado consumo de energia. Em termos globais, só a produção dos materiais necessários para essas construções vai resultar, até meados do século, na metade das emissões permitidas de carbono, ou seja,  cerca de 10 bilhões de toneladas, caso se pretenda atender a meta de aumento máximo de temperatura média do planeta de 2 C° em 2100.

Assim, os esforços na mitigação das emissões de gases de efeito estufa precisam contemplar o potencial das cidades e, em especial, o uso mais eficiente da energia e sua geração de forma distribuída, usando principalmente as fontes renováveis disponíveis. A energia solar fotovoltaica distribuída, por exemplo, não traz apenas benefícios ambientais, uma vez que reduz a pressão pela energia gerada de forma centralizada, cada vez mais dependente de fontes fósseis. Traz também potenciais benefícios econômicos já que seu custo de geração decresce rapidamente, tornando-a competitiva. O que muito encarece a energia renovável, como o caso da energia solar, é a armazenagem pois baterias ainda são extremamente dispendiosas. No entanto, quando se está conectado à rede de energia urbana, esse problema inexiste, pois na ausência da fonte renovável, a energia vem da própria rede elétrica. A isso soma-se o potencial de redução de consumo de energia que é imenso nas edificações urbanas e iluminação pública.

O setor de transporte é outro que tem uma enorme contribuição nas emissões urbanas por conta do uso excessivo de veículos particulares no transporte. O aumento da infraestrutura para oferta de transporte público e a melhoria de sua qualidade, induziria a população a deixar de usar o carro em seus deslocamentos. Transporte é um dos setores que mais contribuem para as emissões de gases de efeito estufa nas cidades. No caso do Rio de Janeiro, este setor representou 42% de todas as emissões de gases de estufa da cidade no ano de 2012.

Com este potencial de mitigação e os elevados custos de adaptação urbana, prefeitos de várias cidades ao redor do mundo estão se destacando na COP21, mais do que em qualquer outra anterior. Eventos sobre cidades na prefeitura de Paris foram muito concorridos e, posteriormente, citados por Ban Ki Moon, secretário-geral da ONU, no fechamento da primeira semana da conferência.

Assim, há uma expectativa de que as cidades usem sua capacidade de liderança e influência política para pressionar um acordo o mais ambicioso possível, até porque os impactos da mudança climática irão afetá-las enormemente.

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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