ODS 1
E se trocarmos o carnaval pelas eleições?

Cansados de notícias ruins, desesperados com a situação e fugindo da Ômicron, brasileiros precisam, desesperadamente, de uma saída

A situação no Brasil é tão grave que as prefeituras do país estão transferindo o carnaval para depois da Páscoa. Vai ter coelho vestido de baiana e ovos de chocolate recheados com confete e serpentina. Na verdade, acreditar que a Festa de Momo vai mesmo acontecer em abril é mais um exercício de otimismo irresponsável de um povo que não aguenta mais notícia ruim. Estamos há dois anos sem conseguir botar o nariz para fora da água, é um caixote atrás do outro. Quando tudo parece que vai melhorar vem uma nova onda e derruba todo mundo. Essa última, a Ômicron, está mais para tsunami e ameaça pegar todos pelo caminho. Mas se o carnaval é de fato uma incerteza, por que não o empurrar logo de vez para o fim do ano? Ou melhor, por que não trocar o pandeiro e o tamborim pelo som harmonioso de uma urna eletrônica? Não seria lindo? Eleição no domingo de carnaval: 27 de fevereiro.
Leu essa? Desigualdade mata 21 mil pessoas por dia, afirma relatório da Oxfam
As vantagens são inúmeras, a começar pela redução do horário eleitoral no rádio e na TV. O tempo de agressões gratuitas e informações mentirosas nas redes sociais também diminuiria. Simples e objetivo: registro de chapas até o dia 31 de janeiro, campanhas em fevereiro e votação no domingo de carnaval. A situação é gravíssima e precisamos de soluções urgentes. Vamos direto ao ponto: quem vai cuidar do país nos próximos quatro anos? Essa é a notícia que todos aguardam com ansiedade. Imaginem que ano inesquecível seria este 2022? Em março a gente já poderia sair das trevas. Ou melhor, quer dizer, já conheceríamos o novo presidente. Seria um ano de festas, com o carnaval, propriamente dito, em outubro e a Copa do Mundo em novembro.
Até a torcida do presidente Jair Bolsonaro, cada vez menos numerosa, deve gostar da ideia. Afinal de contas, quem sabe ele não prova logo, para todos, que o seu mandato é um exemplo histórico de coerência e eficiência. Bolsonaro prometeu que ia distribuir mais armas para os brasileiros, cumpriu. Garantiu que não ia ter mais multa para os proprietários de terra que desmatassem a Amazônia, entregou. Disse que nenhuma terra indígena seria demarcada em seu governo, feito. Quase um exemplo de gestão. É verdade que, entre uma coisa e outra, tivemos 630 mil brasileiros mortos pela covid-19, vimos o desemprego aumentar assustadoramente, batemos o recorde de inflação, com quase 11 pontos percentuais e voltamos para o Mapa da Fome… Hoje, segundo a rede Penssan, 55,2% da população vivem em situação de insegurança alimentar. Para completar o cenário, perdemos totalmente o respeito que os outros países do mundo tinham por nós e estamos prestes a enfrentar uma greve do funcionalismo público. Pequenos detalhes. Se a eleição acontecer logo ninguém vai ter muito tempo para lembrar dessas coisas.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosO fato é: o brasileiro está desesperado e precisa de algum fio de esperança, por menor que seja. Um carnaval em abril, meia bomba, não vai resolver o problema. Uma pesquisa recente, feita pela USP, mostrou que o Brasil vem liderando o ranking de casos de depressão e ansiedade durante a pandemia. Segundo o estudo, que entrevistou 13 mil pessoas em diversos países, somos a nação com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%) do mundo. Em segundo lugar está a Irlanda, com 61% das pessoas com ansiedade e 57% com depressão, e os Estados Unidos, com 60% e 55%, respectivamente.
No último réveillon, triste como o momento exige, amigos e parentes tentaram se animar dizendo que 2022 seria melhor, seria diferente, até alguém lembrar que a eleição só aconteceria em outubro. Uma pena. Se não podemos decidir o jogo em um paredão do BBB, por que não antecipar o momento do voto? Pergunte aos seus amigos, duvido que alguém seja contra essa ideia. #EleiçõesJá
Relacionadas

Agostinho Vieira
Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.