Desmatamento na Amazônia Legal cresce 30% em 2020

Desmatamento na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, entre os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, no Pará: estado tem maior percentagem de área desmatada entre os mais de 8 mil quilômetros de floresta derrubados em 2020 (Foto: Agência Pará – 25/08/2019)

Levantamento do Imazon mostra que a floresta perdeu 8.058 km² de área verde: é a maior área desmatada dos últimos dez anos

Por Oscar Valporto | ODS 14ODS 15 • Publicada em 19 de janeiro de 2021 - 10:57 • Atualizada em 28 de janeiro de 2021 - 19:00

Desmatamento na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, entre os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, no Pará: estado tem maior percentagem de área desmatada entre os mais de 8 mil quilômetros de floresta derrubados em 2020 (Foto: Agência Pará – 25/08/2019)

O ano de 2020 registrou um recorde no desmatamento na Amazônia, de acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, divulgados nesta segunda-feira (18/01). Entre janeiro e dezembro, a floresta perdeu 8.058 km² de área verde. É a maior área desmatada dos últimos dez anos. Houve um aumento de 30% em comparação com 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, quando foram derrubados 6.200 km². O SAD, desenvolvido pelo Imazon, é uma ferramenta que utiliza imagens de satélite para monitorar a floresta.

O Pará aparece em primeiro lugar no triste ranking estadual da devastação da Floresta Amazônica, com 42% de todo o desmatamento registrado pelo SAD em doze meses. Em seguida, vem Amazonas (17,2%), Mato Grosso (13,4%), Rondônia (12,9%), Acre (8.5%), Maranhão (2,9%), Roraima (2,5%) e, por último, Amapá (0,3%) e Tocantins (0,3%).

Seis dos dez municípios que mais foram alvos do desmatamento entre janeiro e dezembro de 2020 também estão localizados no Pará, com Altamira (575 km²) e São Félix do Xingu (447 km²) no topo da lista.  As outras quatro cidades paraenses entre as recordistas de derrubada ada floresta são Itaituba, Novo Progresso, Portel e Pacajá. A lista dos municípios com maior desmatamento também inclui Porto Velho, capital de Rondônia, e Labrea, no sudoeste do Amazonas.

De acordo com os dados dos satélites do SAD, a Unidade de Conservação Florex Rio Preto-Jacundá, em Rondônia, foi a UC mais desmatada no ano passado, com 321 km² de área verde derrubada. A terra indígena Apyterewa, no Pará, foi a TI com mais alertas de desmatamento detectados pelo sistema de monitoramento, com 82 km² de área total desmatada.

Operação contra madeireiras ilegais da PM e da Secretaria de Meio Ambiente do Pará: desmatamento cresceu 30% na Amazônia Legal em 2021 (Foto: Agência Pará - 10/08/2020)
Operação contra madeireiras ilegais da PM e da Secretaria de Meio Ambiente do Pará: desmatamento cresceu 30% na Amazônia Legal em 2021 (Foto: Agência Pará – 10/08/2020)

Dezembro de devastação

O Imazon também divulgou o boletim do SAD de dezembro quando os satélites registraram 276 km² de devastação, também um recorde de dez anos. Os 276 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal significam um aumento de 10% em relação a dezembro de 2019, quando o desmatamento somou 251 quilômetros quadrados. Pelo boletim de dezembro de 2020, o ranking estadual de desmatamento é novamente encabeçado pelo Pará (com 46% do total de área de floresta derrubada), seguido por Mato Grosso (19%), Rondônia (16%), Amazonas (8%), Roraima (6%), Maranhão (3%) e Acre (2%).

De acordo com o Imazon, as florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 399 quilômetros quadrados em dezembro de 2020, o que representa um aumento de 5% em relação a dezembro de 2019, quando a degradação detectada foi de 380 quilômetros quadrados. Em dezembro de 2020 a degradação foi detectada no Mato Grosso (75%), Pará (13%), Tocantins (7%), Maranhão (3%), Amazonas (1%) e Rondônia (1%).

O SAD utiliza atualmente os satélites Landsat 7 (sensor ETM+), Landsat 8 (OLI), Sentinel 1A e 1B e Sentinel 2A e 2b (MSI) para monitorar o desmatamento da floresta nos nove estados da Amazônia Legal. Com a combinação das imagens desses satélites, é possível voltar a enxergar a mesma área a cada cinco a oito dias e, assim, acompanhar mensalmente o ritmo do desmatamento e da degradação florestal na região. O desmatamento consiste na conversão total da floresta para outra cobertura e uso do solo, enquanto a degradação é um distúrbio parcial na floresta causado pela extração de madeira e/ou por queimadas florestais.

Em dezembro de 2020, de acordo com os dados do SAD, a maioria (56%) do desmatamento ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante do desmatamento foi registrado em Assentamentos (29%), Unidades de Conservação (11%) e Terras Indígenas (4%). No mês, as áreas de conservação mais atingidas foram a APA (Área de Preservação Ambiental) Triunfo do Xingu, no Pará, e a UC Florex Rio Preto-Jacundá, em Rondônia.

Preservação sob pressão e ameaça

Em dezembro, o Imazon apresentou seu primeiro relatório trimestral (agosto/outubro) de Ameaças e Pressões em Áreas Protegidas (AP) da Amazônia Legal com base em dados de alertas de desmatamento do SAD. Áreas Protegidas representam 46% da extensão da Amazônia, e são estratégicas para a manutenção da biodiversidade, os estoques de carbono e a regulação do clima. O SAD de agosto a outubro de 2020 detectou um total de 3.607km² de desmatamento na Amazônia. Das 6.008 células (áreas de 10 km por 10 km, 100 quilômetros quadrados, que tiveram ocorrência de desmatamento, 3.227 (54%) indicam Ameaça e 2.781 (46%) Pressão em APs. O número de células com ocorrência de desmatamento de agosto a outubro de 2020 é 36% superior ao registrado de agosto a outubro de 2019.

Na metodologia do Imazon, pressão é quando o desmatamento ocorre dentro da AP, levando a perdas de serviços ambientais e até mesmo à
redução ou redefinição dos seus limites – é um processo interno que pode levar a desestabilização legal e ambiental da Área Protegida. Ameaça é a medida do risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma AP: o instituto utiliza uma distância de 10 km para indicar a zona de vizinhança de uma AP na qual a ocorrência de desmatamento indica ameaça. Muitas APs resistem a esse tipo de ameaça não permitindo que o desmatamento avance em seu território.

De acordo com o relatório trimestral, A APA do Tapajós e a APA Triunfo do Xingu, ambas no Pará, foram as áreas protegidas mais pressionadas. O Pará é o estado que tem o maior número de APs no Ranking de Pressão: são cinco entre as 10 primeiras. As Terras Indígenas Apiyterewa, no Pará, Yanomâmi (AM/RR) e Vale do Javari (AM) também estão entre as 10 APs mais pressionadas.

As APs mais ameaçadas foram a Resex Chico Mendes (AC) e a APA do Tapajós (PA). No Ranking da Ameaça, também estão as Terras Indígenas Parakanã e Trincheira Bacajá, ambas no Pará. As Unidades de Conservação Federais que lideram o Ranking de Pressão são a APA do Tapajós (PA) e a Resex Chico Mendes (AC). As unidades estaduais mais pressionadas são a APA Triunfo do Xingu (PA) e a Florex Rio Preto-Jacundá (RO). No Ranking da Ameaça, as unidades federais no topo também são a Resex Chico Mendes (AC) e a APA do Tapajós (PA), em posição invertida em relação ao ranking das mais pressionadas. As unidades estaduais mais ameaçadas são a Floresta Estadual (FES) do Amapá e Área de Preservação Ambiental do Lago de Tucuruí, no Pará.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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