Arte Claudio Duarte

Os impactos da crise climática na vida das crianças

Os impactos da crise climática na vida das crianças

Por Camila Saccomori ODS 13

Das enchentes no Sul às queimadas no Norte e no Centro-Oeste, tragédias destroem direitos básicos de meninas e meninos em todo o Brasil

Publicada em 22 de outubro de 2024 - 00:14 • Atualizada em 28 de outubro de 2024 - 09:52

Terra, fogo, água e ar. Todos nós aprendemos na infância sobre os quatro elementos, todos essenciais à vida. Então crescemos, viramos adultos e agora a nova geração tem outras experiências com cada um deles, muitas vezes tristes e dramáticas. Deslizamentos, queimadas, enchentes, poluição: estes e outros eventos traduzem o que chamamos de crise climática, que afeta diariamente a vida de qualquer ser humano, mas especialmente das crianças. São as crianças que sentem, por mais tempo e com mais intensidade, os impactos das ondas de calor extremo, das secas, das fumaças, das inundações e outros eventos climáticos. Tudo isso tem reflexos diariamente em todas as dimensões da infância, ferindo direitos fundamentais como saúde, bem-estar, moradia e educação.

Leu essas? Todas as reportagens da série especial As crianças e a crise climática

O primeiro direito ferido é justamente o de ter direito à própria natureza. Um meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano necessário para que qualquer criança possa se desenvolver plenamente, reconhece o Comitê dos Direitos da Criança da ONU. Na atualização de 2023, o documento reforça a obrigação dos países em lutar contra esses problemas para proteger a infância.

 Os lugares onde as crianças vivem, crescem, aprendem e brincam estão ameaçados. Basta olhar para qualquer uma das cinco regiões do Brasil em qualquer dia para constatar o caos climático. As chuvas torrenciais que inundaram o Rio Grande do Sul, o fogo que queima o Pantanal e a Amazônia e as fumaças decorrentes dos incêndios, o solo ainda mais seco no Nordeste, o ar irrespirável e as temperaturas cada vez mais altas em muitas cidades. É tudo extremo, do Sul ao Norte do país.

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Menino observa barcos encalhados no leito seco de rio na Amazônia: crise climática afeta crianças em todas as regiões do país (Foto: Klysna Anayal -Instagram: @klysnaanayal)
Menino observa barcos encalhados no leito seco de rio na Amazônia: crise climática afeta crianças em todas as regiões do país (Foto: Klysna Anayal -Instagram: @klysnaanayal)

A crise climática causa, portanto, uma crise de direitos da infância. Praticamente todas as crianças do mundo estão expostas a um ou mais riscos conectados à crise ambiental, como alerta o relatório IRCC (Índice de Risco Climático das Crianças) da Unicef. Grávidas também são um grupo de risco, pois os danos ao bebê podem começar ainda no útero, como por exemplo o calor excessivo provocando partos prematuros ou recém-nascidos com baixo peso.

As mudanças climáticas criam problemas ou intensificam os já existentes. Destroem as casas das crianças, reduzem o sustento de suas famílias, fecham as escolas, agravam a insegurança alimentar, dificultam o acesso à água potável. Estes e outros acontecimentos são fontes de estresse. Quando elevados e contínuos, geram o chamado “estresse tóxico”, na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, experiências adversas na infância que prejudicam o desenvolvimento com impactos ao longo de toda a vida.

Este conteúdo foi realizado a partir da bolsa #Colabora de reportagem pela jornalista Camila Saccomori, que convidou 8 fotógrafas (*) e 1 ilustradora das 5 regiões do Brasil para retratar histórias representativas dos impactos do clima na vida das crianças. Por que só mulheres neste projeto? Porque gênero e clima se entrelaçam quando entendemos que os impactos não atingem igualmente a todos. Porque 80% das pessoas forçadas a sair de suas casas pelas mudanças climáticas são mulheres e porque mulheres e crianças têm 14 vezes mais probabilidade de morrer em caso de desastres naturais nos países com mais desigualdades de gênero. Porque as condições históricas e sociais de cada pessoa influenciam diretamente na sua capacidade de adaptação e resiliência. E porque, se as crianças são as mais afetadas, as mulheres — majoritariamente as principais cuidadoras — também são.

As crianças e a crise climática
Foto: Klysna Anayal | Arte: Pablo Candeia

Na grande maioria das histórias, encontramos crianças que sofrem o duplo impacto, da pobreza e do alto risco climático. Você vai ler 10 relatos de prejuízos materiais e emocionais que atingem 25% da população brasileira, as crianças e os adolescentes. É este grupo que deve estar em primeiro lugar. Está no artigo 227 da Constituição: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Ou seja, é uma obrigação minha e sua. É um dever nosso. Todas as crianças devem ter a oportunidade de prosperar, de forma justa e sustentável.

* Com imagens de Anna Ortega (Porto Alegre e Eldorado do Sul/RS), Suellen Paim de Melo (Rio de Janeiro/RJ), Ina Henrique Dias (São Paulo/SP), Mariana Arndt (Corumbá/MS), Sthefane Felipa (Brasília/DF), Pei Fon (Maceió/AL), Tereza de Quinta (Caucaia/CE), Klysna Almeida (Parintins/AM) e Marcela Bonfim (Porto Velho/RO).

**A série especial ‘As crianças e a crise climática’ foi uma das vencedoras da Bolsa #Colabora de Reportagem – 8 anos

 

Camila Saccomori

Jornalista gaúcha formada pela Unisinos, mestre em Comunicação pela PUCRS. Atuou por 20 anos no Grupo RBS, onde foi repórter e editora nos veículos Zero Hora, clicRBS, Diário Gaúcho e outros. É freelancer desde 2018, com matérias publicadas em jornais, revistas e sites (Terra, Crescer, Porvir etc). Fellow do Dart Center/Columbia University, especialista em Primeira Infância, e bolsista de reportagem das fundações National Press e Heinrich Boell. É instrutora da rede Instituto Fala, ministrando oficinas da Google News Initiative.

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