Os impactos da crise climática na vida das crianças

Os impactos da crise climática na vida das crianças

Das enchentes no Sul às queimadas no Norte e no Centro-Oeste, tragédias destroem direitos básicos de meninas e meninos em todo o Brasil

Por Camila Saccomori | ODS 13 • Publicada em 22 de outubro de 2024 - 00:14

Terra, fogo, água e ar. Todos nós aprendemos na infância sobre os quatro elementos, todos essenciais à vida. Então crescemos, viramos adultos e agora a nova geração tem outras experiências com cada um deles, muitas vezes tristes e dramáticas. Deslizamentos, queimadas, enchentes, poluição: estes e outros eventos traduzem o que chamamos de crise climática, que afeta diariamente a vida de qualquer ser humano, mas especialmente das crianças. São as crianças que sentem, por mais tempo e com mais intensidade, os impactos das ondas de calor extremo, das secas, das fumaças, das inundações e outros eventos climáticos. Tudo isso tem reflexos diariamente em todas as dimensões da infância, ferindo direitos fundamentais como saúde, bem-estar, moradia e educação.

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O primeiro direito ferido é justamente o de ter direito à própria natureza. Um meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano necessário para que qualquer criança possa se desenvolver plenamente, reconhece o Comitê dos Direitos da Criança da ONU. Na atualização de 2023, o documento reforça a obrigação dos países em lutar contra esses problemas para proteger a infância.

 Os lugares onde as crianças vivem, crescem, aprendem e brincam estão ameaçados. Basta olhar para qualquer uma das cinco regiões do Brasil em qualquer dia para constatar o caos climático. As chuvas torrenciais que inundaram o Rio Grande do Sul, o fogo que queima o Pantanal e a Amazônia e as fumaças decorrentes dos incêndios, o solo ainda mais seco no Nordeste, o ar irrespirável e as temperaturas cada vez mais altas em muitas cidades. É tudo extremo, do Sul ao Norte do país.

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A crise climática causa, portanto, uma crise de direitos da infância. Praticamente todas as crianças do mundo estão expostas a um ou mais riscos conectados à crise ambiental, como alerta o relatório IRCC (Índice de Risco Climático das Crianças) da Unicef. Grávidas também são um grupo de risco, pois os danos ao bebê podem começar ainda no útero, como por exemplo o calor excessivo provocando partos prematuros ou recém-nascidos com baixo peso.

As mudanças climáticas criam problemas ou intensificam os já existentes. Destroem as casas das crianças, reduzem o sustento de suas famílias, fecham as escolas, agravam a insegurança alimentar, dificultam o acesso à água potável. Estes e outros acontecimentos são fontes de estresse. Quando elevados e contínuos, geram o chamado “estresse tóxico”, na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, experiências adversas na infância que prejudicam o desenvolvimento com impactos ao longo de toda a vida.

Este conteúdo foi realizado a partir da bolsa #Colabora de reportagem pela jornalista Camila Saccomori, que convidou 8 fotógrafas (*) e 1 ilustradora das 5 regiões do Brasil para retratar histórias representativas dos impactos do clima na vida das crianças. Por que só mulheres neste projeto? Porque gênero e clima se entrelaçam quando entendemos que os impactos não atingem igualmente a todos. Porque 80% das pessoas forçadas a sair de suas casas pelas mudanças climáticas são mulheres e porque mulheres e crianças têm 14 vezes mais probabilidade de morrer em caso de desastres naturais nos países com mais desigualdades de gênero. Porque as condições históricas e sociais de cada pessoa influenciam diretamente na sua capacidade de adaptação e resiliência. E porque, se as crianças são as mais afetadas, as mulheres — majoritariamente as principais cuidadoras — também são.

Na grande maioria das histórias, encontramos crianças que sofrem o duplo impacto, da pobreza e do alto risco climático. Você vai ler 10 relatos de prejuízos materiais e emocionais que atingem 25% da população brasileira, as crianças e os adolescentes. É este grupo que deve estar em primeiro lugar. Está no artigo 227 da Constituição: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Ou seja, é uma obrigação minha e sua. É um dever nosso. Todas as crianças devem ter a oportunidade de prosperar, de forma justa e sustentável.

(*) Com imagens de Anna Ortega (Porto Alegre e Eldorado do Sul/RS), Suellen Paim de Melo (Rio de Janeiro/RJ), Ina Henrique Dias (São Paulo/SP), Mariana Arndt (Corumbá/MS), Sthefane Felipa (Brasília/DF), Pei Fon (Maceió/AL), Tereza de Quinta (Caucaia/CE), Klysna Almeida (Parintins/AM) e Marcela Bonfim (Porto Velho/RO).

Camila Saccomori

Jornalista gaúcha formada pela Unisinos, mestre em Comunicação pela PUCRS. Atuou por 20 anos no Grupo RBS, onde foi repórter e editora nos veículos Zero Hora, clicRBS, Diário Gaúcho e outros. É freelancer desde 2018, com matérias publicadas em jornais, revistas e sites (Terra, Crescer, Porvir etc). Fellow do Dart Center/Columbia University, especialista em Primeira Infância, e bolsista de reportagem das fundações National Press e Heinrich Boell. É instrutora da rede Instituto Fala, ministrando oficinas da Google News Initiative.

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