Crise climática e injustiça ambiental

A jovem ativista Greta Thunberg estará na manifestação convocada pela Cumbre Social por el Clima. Chile será exemplo de fadiga das políticas neoliberais

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 5 de dezembro de 2019 - 10:31 • Atualizada em 7 de abril de 2020 - 11:27

A jovem ativista Greta Thunberg estará na manifestação convocada pela Cumbre Social por el Clima. Chile será exemplo de fadiga das políticas neoliberais

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 5 de dezembro de 2019 - 10:31 • Atualizada em 7 de abril de 2020 - 11:27

Police officers walk beside global environmental movement Extinction Rebellion activists during a protest at the Cibeles square in Madrid, on December 3, 2019. - Spain's Socialist government offered to host this year's UN climate conference, known as COP25, from December 2 to December 13, 2019, after the event's original host Chile withdrew last month due to deadly riots over economic inequality. (Photo by OSCAR DEL POZO / AFP)
Ativista da ONG Extinction Rebellion protesta na praça de Cibeles, uma das mais famosas de Madrid. Foto de Oscar Del Pozo/ AFP

Com a transferência da Conferência do Clima, a COP25, do Chile para a Espanha, perdeu-se uma oportunidade histórica de discutir a crise climática à luz da (in)justiça social. O levante popular que tomou conta das ruas da capital chilena há pouco mais de um mês, levou o presidente Sebastián Piñera a cancelar o encontro. Em poucos dias, a COP25 já estava de casa nova – o terceiro endereço desde que o presidente Bolsonaro anunciara, antes mesmo de tomar posse, que não tinha interesse em sediar o encontro no Brasil.

Ao lamentar “profundamente os problemas e inconvenientes” que sua decisão poderia significar, o anúncio de Piñera elevou a temperatura dos protestos, que, se naquele momento, estavam circunscritos ao Chile; depois do anúncio, tomou novas proporções em Madri.  Em torno da Cumbre Social por el clima, cerca de 300 organizações não governamentais (ONGs) assinaram documento denunciando que “os protestos sociais no Chile e em outros lugares do mundo são uma expressão da crise ecológica“.

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Com o apoio do movimento Fridayforfuture, está sendo convocada uma manifestação para o próximo dia 6. O protesto vai ocorrer simultaneamente em Atocha, bairro central de Madri, e em Santiago do Chile. Mesmo depois de a COP25 ter mudado de endereço, a presidência da Conferência do Clima continua com Piñera — caberá a ele passar o bastão para seu sucessor em Glascow, cidade que vai sediar a COP26, no próximo ano. Não bastasse o troca-troca de endereço, esta será a primeira vez na história das COPs que o encontro não contará com a presença do seu presidente. Piñera avisou que não irá a Madri.

“Não poderia ter sido pior para a sociedade civil da América Latina, que passou quase um ano se preparando para participar da COP25 em solo continental”, lamenta Bruno Toledo, do Instituto ClimaInfa, comentando que “a sociedade civil latino-americana em geral tem poucas oportunidades para participar das COPs  fora do continente, por conta dos custos de viagem. Sempre que a COP vem para a América Latina, ela se torna a grande chance para que muitos grupos e organizações menores possam participar do encontro e contribuir, seja através de estudos e informações técnicas, articulação com contrapartes de outros continentes, ou mobilização local durante a Conferência.”

Não poderia ter sido pior para a sociedade civil da América Latina, que passou quase um ano se preparando para participar da COP25 em solo continental

Os movimentos sociais querem aproveitar o levante chileno, o maior desde a queda do ditador Pinochet, para mostrar ao mundo que o dogma do neoliberalismo é um dos pilares da crise climática e ambiental. Ou seja, a crise seria um dos sintomas de uma doença chamada capitalismo: “Vivemos tempos difíceis de verdadeira emergência ecológica, climática e social. O diagnóstico científico é claro quanto a gravidade e urgência do momento. O crescimento econômico ocorre às custas das pessoas mais vulneráveis: pessoas racializadas, indígenas, camponeses, pobres, migrantes, LGBTs e queer…”, comenta Samuel Marti-Sosa, um dos organizadores da Cumbre Social e membro da ONG Ecologistas em Ação.

Ativista Greta Thunberg em Lisboa. Foto de Pedro Fiuza/NurPhoto/ AFP
Depois de levar 21 dias num veleiro, numa viagem transatlântica, a jovem ativista Greta Thunberg desembarca em Lisboa a tempo de participar da manifestação convocada pela Cumbre Social por el Clima. Foto de Pedro Fiuza/NurPhoto/ AFP

Fruto de uma logística sem precedentes para os movimentos sociais se organizarem e garantirem presença na COP25, a dúvida se a jovem ativista sueca Greta Thunberg chegaria a tempo de participar da manifestação foi dissipada no último dia 3, um dia depois do início da COP25. Depois de iniciar uma travessia transatlântica há 21 dias, Greta aportou em Lisboa, a bordo do veleiro La Vagabonde, do casal de australianos Riley Whitelum e Elayna Carausu.

Desastres relacionados ao clima estão ocorrendo neste momento e crianças estão perdendo suas vidas, sua saúde e seu futuro devido ao caos climático. De ciclones tropicais na África e na Ásia e enchentes e deslizamentos em parte da Europa e do Brasil a incêndios violentos potencializados pelas secas na Califórnia e na Austrália; famílias e comunidades em todos os cantos do mundo estão sendo afetadas. O gelo da Groelândia está derretendo em velocidade nunca vista antes, e o estado de emergência climática está rapidamente se tornando o novo norma

O movimento iniciado pela jovem ativista inspirou pais a fazerem o mesmo. Na quinta, dia 5, véspera da manifestação, um grupo de associações de pais assinou uma petição: “Desastres relacionados ao clima estão ocorrendo neste momento e crianças estão perdendo suas vidas, sua saúde e seu futuro devido ao caos climático. De ciclones tropicais na África e na Ásia e enchentes e deslizamentos em parte da Europa e do Brasil a incêndios violentos potencializados pelas secas na Califórnia e na Austrália; famílias e comunidades em todos os cantos do mundo estão sendo afetadas. O gelo da Groelândia está derretendo em velocidade nunca vista antes, e o estado de emergência climática está rapidamente se tornando o novo norma”.

Ao vincular crise climática com injustiça social, os organizadores da Cumbre Social miram contra a própria estrutura das Nações Unidas: “É necessário desmascarar a hipocrisia dos governos que fracassam durante décadas nas negociações climáticas. O Chile é a expressão do cansaço das políticas neoliberais”.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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