Auxílio emergencial anoréxico

Vivian da Silva Borges, 23 anos. Foto João Roberto Ripper. Fevereiro/2021

Mais de 29 milhões de pessoas foram cortadas do pacote de apoio financeiro do governo Federal, calcula o movimento Renda Básica que Queremos

Por Liana Melo | ODS 1 • Publicada em 13 de maio de 2021 - 10:03 • Atualizada em 16 de maio de 2021 - 15:38

Vivian da Silva Borges, 23 anos. Foto João Roberto Ripper. Fevereiro/2021

O governo Bolsonaro cortou literalmente na carne e excluiu do auxílio emergencial 29 milhões de brasileiros – justamente, os mais vulneráveis, mais ameaçados pelo agravamento da fome e da extrema pobreza. O número supera a previsão inicial de que 17 milhões ficariam fora da nova rodada. Levantamento feito pelo movimento Renda Básica que Queremos constatou que em Minas Gerais o corte foi ainda mais profundo: atingiu pouco mais da metade do público de 2020, com uma redução de 52% na base de beneficiados. Em São Paulo, foram retirados da lista 5,7 milhões de pessoas. No Rio de Janeiro, ficaram fora do programa 857,8 mil pessoas.

Este ano, estão sendo contemplados 39 milhões de brasileiros contra os 68 milhões de pessoas incluídas no programa em 2020. O  movimento fez os cálculos com a base nos dados divulgados pelo Ministério da Cidadania. A primeira parcela do auxílio emergencial ocorreu no dia 6 de abril e a segunda começa a ser paga no dia 16 de maio para o público em geral. Além da quantidade menor  de brasileiros que terão acesso ao auxílio emergencial, os valores também foram drasticamente reduzidos. Atualmente, são três faixas: R$ 150, R$ 250 e R$ 375.

Não temos vacina em quantidade suficiente e temos pesquisas que mostram o agravamento da fome no país. E  o que o governo faz? Reduz a base de beneficiários, quando sabemos que não está cortando ‘gordura’,  mas tirando quem mais precisa de proteção social neste momento

Segundo Paola Carvalho, diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, uma das 300 organizações que participam da campanha, é muito cruel, neste momento de agravamento da pandemia e no qual as pessoas precisam ficar em casa para preservar a sua saúde, deixar de prestar socorro aos mais vulneráveis.

“Não temos vacina em quantidade suficiente e temos pesquisas que mostram o agravamento da fome no país. E  o que o governo faz? Reduz a base de beneficiários, quando sabemos que não está cortando ‘gordura’,  mas tirando quem mais precisa de proteção social neste momento”, critica Paola.

O Brasil que havia saído do Mapa da Fome 2014, voltou a figurar na geopolítica da miséria desde o ano passado. Com cortes orçamentários promovidos antes mesmo da pandemia associados ao recrudescimento da Covid-19 no país, a situação de vulnerabilidade de uma parcela da população piorou ainda mais.  O atual valor do auxílio emergência não é suficiente, segundo cálculos do movimento Renda Básica que Queremos para comprar sequer 25% dos itens que compõem a cesta básica. Sem falar no fato de o número de beneficiários do Bolsa Família também ter sido reduzido.

Com o fim do benefício, em dezembro do ano passado, quase 27 milhões de pessoas voltaram à pobreza extrema no país, sem conseguir garantir o sustento de suas famílias. Agora, sem emprego e sem o auxílio, Paola teme que mais pessoas atravessem a linha da miséria, pois ainda não há trabalho nem perspectivas a médio prazo. Atualmente, o Brasil convive com o recorde de mais de 14 milhões de desempregados e 417 mil mortos pela Covid-19.

O movimento Renda Básica que Queremos lançou a campanha #auxílioateofimdapandemia vem pressionando, via consulta pública, para a criação da Renda Básica Permanente. O projeto já foi entregue aos presidente da Câmara dos Deputados e do Senado e a sugestão é o valor de R$ 600 por mês seja distribuído até o fim da pandemia, podendo chegar a R$ 1,2 mi em caso de famílias chefiadas por mulheres, com filhos. A campanha recebeu mais de 20 mil assinaturas

No ano passado, o auxílio emergencial injetou R$ 294 bilhões na economia, creditados para mais de 68,2 milhões de pessoas que receberam ao menos uma parcela.  Pesquisas indicam que 53% desse total foram destinados à compra de mantimentos. Os mais impactados serão os trabalhadores informais, MEI e desempregados.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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