ODS 1
Bolsonaro preso e as ruas vazias: onde foram parar os bolsonaristas?


Poucos apoiadores do ex-presidente em frente à Polícia Federal em Brasília lembram multidão que recebeu Lula preso em Curitiba e iniciou vigília de 580 dias


Uma multidão cercou, neste sábado, a sede da Polícia Federal para onde o ex-presidente foi levado para ficar preso e cumprir a decisão judicial. Os manifestantes, com bandeiras e faixas, protestaram contra a injustiça e a perseguição política que, acreditam, seu líder está sendo vítima. Alguns anunciam uma vigília permanente até a libertação do ex-presidente.
Nada do descrito acima aconteceu, neste sábado (22/11), quando Jair Bolsonaro foi preso preventivamente na sede da Polícia Federal, em Brasília, após tentar violar a tornezeleira eletrônica, com um ferro de soldar, o que foi interpretado por policiais, procuradores e ministros do STF (e também por alguns de seus apoiadores) como uma ação – um tanto estúpida – para a tentativa de fuga. Nada do descrito acima também ocorreu, na terça (25/11), quando ficou determinado que Bolsonaro começará a cumprir a pena na sede da PF, em Brasília. Não há multidão nas ruas: menos de 20 bolsonaristas, vestidos de amarelo e com faixas, estão no local.
Leu essa? Seu Jair, é assim que todos os brasileiros deveriam ser tratados
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A cena descrita nas primeiras frases, entretanto, realmente aconteceu: no dia 7 de abril de 2018, quando o então ex-presidente ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba para cumprir a sentença imposta pelo Judiciário; no caso, uma condenação por 12 anos de prisão da lavra do então juiz – futuro ministro de Bolsonaro e agora senador – Sergio Moro. Era uma multidão de petistas e outros admiradores de Lula, que acompanharam pela TV a prisão do ex-presidente em São Bernardo, e estavam ali com suas bandeiras e faixas, denunciando a injustiça e a perseguição política. Também havia bolsonaristas, em minoria, para festejar.
A vigília anunciada naquela noite se concretizou. A vigília Lula Livre estabeleceu-se em frente a sede da PF em Curitiba: petistas, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, ativistas de outros partidos e militantes de movimentos sociais acamparam com barracas na praça do bairro Santa Cândida e lá se revezaram durante os 580 dias em que o ex-presidente foi mantido preso em Curitiba. Eram sempre dezenas de pessoas a dizer “bom dia, presidente Lula” de manhã e “boa noite, presidente Lula” no fim da tarde.
Era possível esperar vigília semelhante nas imediações da Polícia Federal em Brasília após a prisão de Bolsonaro: policiais admitiram que esquema especial de segurança para evitar tumultos. Não foi necessário. No sábado, houve um momento que chegou a ter mais gente comemorando a cadeia para Jair do que protestando contra a preventiva do ex-presidente. O começo do cumprimento da pena de 27 anos – por golpe de estado, abolição violenta do estado de direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado – não levou duas dezenas de apoiadores de Bolsonaro ao local da prisão.
Onde estão os bolsonaristas? Onde está aquela multidão mobilizada nas duas campanhas eleitorais do condenado como líder da organização criminosa? Onde estão os manifestantes que acamparam na porta dos quartéis para pedir o golpe de estado e a abolição violenta do estado de direito?


Após ser anunciada a decisão do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo criminal no STF, de que Bolsonaro deveria começar a cumprir sua pena na sede da PF em Brasília, o PL, partido do condenado, começou a discutir se deveria mobilizar suas bases para uma vigília semelhante a feita para Lula em Curitiba. Ainda não havia chegado a conclusão definitiva por medo de fracasso e de comparações negativas. A vigília pela saúde de Bolsonaro – convocada pelo senador Flávio, filho mais velho, e vista como suspeita de fazer parte da operação fuga – reuniu pouca gente à frente do condomínio onde o ex-presidente estava morando em Brasília.
A vigília em Curitiba nasceu quase espontaneamente, em meio à comoção que a prisão de Lula causou após ele passar a noite no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo onde uma multidão acompanhou um discurso do ex-presidente. Enquanto os agentes federais levavam Lula preso para Curitiba, petistas paranaenses começaram a mobilização para recebê-lo; o MST convocou seus militantes. Houve confusão no protesto, mas ali mesmo foi decidido começar a vigília – que depois ganhou a organização e o apoio do PT e do próprio MST. O acampamento durou 580 dias até novembro de 2019, quando Lula foi liberado após as evidências do conluio do juiz Moro, já então ministro de Bolsonaro, com promotores para condená-lo.
Será que o bolsonarismo acabou? Não devemos ter essa ilusão democrática. Os bolsonaristas sempre estiveram por aí. São gente – em maioria, brancos; em maioria, homens – com saudades de seus privilégios, gente demofóbica, que tem horror a qualquer ascensão dos mais pobres, que despreza a democracia. A extrema direita sempre esteve por aí: a democracia instalada a partir da Constituição de 1988 os deixou mais envergonhados. Bolsonaro os tirou do armário: viraram bolsonaristas, mas sempre foram assim como o tal mito: demofóbico, amante dos privilégios para os seus, misógino, violento.
Talvez a falta de mobilização tenha um componente de medo: aquela multidão que atacou as sedes dos três poderes com esperança de um golpe de estado estava certa da impunidade. Talvez falte liderança com Bolsonaro preso. Talvez faltem os financiadores dos acampamentos golpistas – muitos agora escondidos com medo da Justiça, depois das condenações dos líderes e dos executores do 8 de janeiro.
Mas, que não se enganem os democratas, basta passar pelas redes sociais para ver que o bolsonarismo está vivo e os bolsonaristas – ou a forma que os extremistas de direita venham a se chamar no futuro – estão prontos para mostrar sua garras a qualquer momento.
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Oscar Valporto
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade











































