UFSC tem eBus movido a energia solar

Veículo, que já rodou 100 mil quilômetros em três anos levando professores e alunos em Florianópolis, ajuda a analisar viabilidade da mobilidade elétrica nas cidades  

Por Letícia Maria Klein | ODS 4ODS 7 • Publicada em 15 de julho de 2019 - 08:06 • Atualizada em 17 de julho de 2019 - 14:34

O eBus da UFSC carregando: 100 mil quilômetros rodados em três anos em Florianópolis para testar veículo elétrico na mobilidade urbana e o uso de energia solar para este fim (Foto: Divulgação/UFSC)
O eBus da UFSC carregando: 100 mil quilômetros rodados em três anos em Florianópolis para testar veículo elétrico na mobilidade urbana e o uso de energia solar para este fim (Foto: Divulgação/UFSC)
O eBus da UFSC carregando: 100 mil quilômetros rodados em três anos em Florianópolis para testar veículo elétrico na mobilidade urbana e o uso de energia solar para este fim (Foto: Divulgação/UFSC)

O eBus está completando o equivalente a duas voltas e meia ao redor do mundo. Já são 100 mil quilômetros rodados em três anos em Florianópolis, capital catarinense, com fonte de energia limpa. O ônibus elétrico atende a comunidade acadêmica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), levando professores e alunos do Campus Trindade, no centro da ilha, para o Laboratório Fotovoltaica da UFSC no Sapiens Park e vice-versa, distantes 26 km um do outro.

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Toda a energia elétrica utilizada para recarregar o veículo é gerada pelo sol, em placas fotovoltaicas instaladas nos telhados do laboratório. A energia é tanta, que supre a demanda de 60 kW/h do ônibus, de 40 kW/h do edifício e ainda sobram 10 kW/h que são enviados para a rede para serem utilizados no campus central. O ônibus faz cinco viagens por dia durante a semana, totalizando cerca de cinco mil quilômetros por mês.

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Além de ser produto e ferramenta de análise de um projeto de pesquisa sobre mobilidade elétrica urbana, o eBus promove um “deslocamento produtivo”, termo inventado pela equipe. A internet sem fio, os monitores e as duas ilhas com mesas de reunião permitem que os passageiros trabalhem durante os trinta minutos de trajeto e carreguem seus celulares nas tomadas USB disponíveis em cada um dos 38 assentos. Diferentemente do transporte coletivo municipal, todos os passageiros devem viajar sentados e o acesso é facilitado devido ao piso baixo. Por ser elétrico, o veículo é silencioso e não emite gases de efeito estufa. Ah, e tem ar-condicionado, claro.

Energia elétrica utilizada para recarregar o ônibus é gerada pelo sol, em placas fotovoltaicas instaladas nos telhados do laboratório da universidade (Foto: Divulgação/UFSC)
Energia elétrica utilizada para recarregar o ônibus é gerada pelo sol, em placas fotovoltaicas instaladas nos telhados do laboratório da universidade (Foto: Divulgação/UFSC)

Mesmo vazio, o ônibus rodava, pois continuava gerando dados para análise. Todas as informações adquiridas em dois anos e três meses de viagens regulares, de março de 2017 a junho deste ano, serão reunidas no relatório final, que será entregue em agosto. O eBus recebeu verba de R$ 1 milhão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para ser construído e avaliado durante esse período. Além de analisar a viabilidade de veículos elétricos na mobilidade urbana, o projeto estudou a produção de energia solar para este fim.

“Provamos que o veículo elétrico funciona e que o espaço que ele ocupa parado, se estacionado sob uma área coberta com placas solares, é o suficiente para gerar a energia que ele precisa para se locomover”, afirma Ricardo Rüther, professor titular da UFSC e coordenador do Laboratório Fotovoltaica e do eBus. Outra vantagem do veículo é a frenagem regenerativa: ao contrário do ônibus a diesel, que consome mais combustível durante o processo de tração, o eBus recupera 30% de sua força nas paradas. Assim, em um engarrafamento, o veículo elétrico é mais eficiente.

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O eBus presta um serviço à sociedade, contribui para a formação de pesquisadores por meio de treinamento e capacitação e gera benefícios ambientais devido à ausência de ruído e de emissão de poluentes. Também mostramos que a energia solar pode dar autonomia para a mobilidade elétrica

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A ideia do ônibus surgiu depois que o novo laboratório Fotovoltaica foi construído em Sapiens Park, tanto para ser um projeto de pesquisa quanto uma ponte entre as duas unidades da universidade. Assim como o próprio laboratório, os projetos do eBus e do Barco Amazônia, também movido a energia solar, foram criados com a finalidade de desenvolver tecnologia para atender comunidades carentes e a população em geral. A comunidade acadêmica e os parceiros do Sapiens Park que podem ser atendidos pelo eBus totalizam 50 mil pessoas, o que representa cerca de 10% da população de Florianópolis.

Para usar o serviço, basta se cadastrar pelo site ou e-mail. A partir de agora, porém, será preciso um pouco mais. A continuidade do projeto depende da contribuição das pessoas com uma campanha de financiamento coletivo, na plataforma Catarse, para viabilizar a andança do eBus por mais um ano, inicialmente. Os custos cobrem a manutenção e os salários dos motoristas. “Estamos confiantes em atingir a meta, pois temos um feedback bastante positivo da comunidade, tanto de quem usa o eBus quanto quem conhece o projeto e reconhece que a iniciativa é realmente importante. Com o financiamento coletivo, vamos divulgar o eBus mais ainda e esperamos que mais pessoas acreditem nessa ideia”, afirma Aline Kirsten Vidal de Oliveira, pesquisadora e doutoranda do Fotovoltaica UFSC e uma das coordenadoras da campanha.

Quem também precisa voltar a contribuir é o governo, mas não com dinheiro dessa vez. “São necessárias políticas públicas que estabeleçam que uma fração do transporte público seja elétrica, para gerar escala e assim reduzir custos. As próximas licitações precisam prever essa demanda”, afirma Ricardo. Investir em escala é a única forma de baratear o valor de produção do ônibus elétrico. Apesar do custo de operação ser 75% mais econômico do que o de um ônibus a diesel, a fabricação do ônibus elétrico é três vezes mais cara, conta o coordenador.

Interior do ônibus com 38 lugares para sentar, internet wifi e espaço para reunião: financiamento coletivo para prolongar projeto (Foto: Divulgação/UFSC
Interior do ônibus com 38 lugares para sentar, internet wifi e espaço para reunião: financiamento coletivo para prolongar projeto (Foto: Divulgação/UFSC)

No caso do eBus, o tempo de retorno do investimento é maior do que a vida útil dele. “Ele é experimental, feito sob medida. É caro porque só fizemos um e só fizemos um porque é caro. É um problema de escala, esse é o grande dilema. O incentivo do governo leva a iniciativa privada a apostar no negócio e na fabricação. Se a produção é de milhares, o preço cai e o veículo elétrico se torna competitivo”, explica. Foi o que aconteceu na Alemanha, com a própria produção de energia solar. Em 1999, o professor diz que o governo alemão começou a investir em escala para incentivar as pessoas a instalarem sistemas fotovoltaicos em casa, que eram caros na época. Hoje, a energia elétrica lá é mais barata do que a brasileira. Em relação a carros elétricos, o Estado alemão também ajuda, cobrindo a diferença de valor em relação a um carro a combustão.

Mesmo com a fabricação custosa, o uso do ônibus elétrico é melhor em qualquer situação, afirma Ricardo. “O eBus presta um serviço à sociedade, contribui para a formação de pesquisadores por meio de treinamento e capacitação e gera benefícios ambientais devido à ausência de ruído e de emissão de poluentes. O projeto funciona e resolvemos todas as questões técnicas. Também vimos que a energia solar pode dar autonomia para a mobilidade elétrica. Agora, o governo precisa utilizar essas informações da melhor forma. Se os resultados não forem revertidos para o bem comum, os recursos do Ministério terão tido alcance limitado”, conclui.

Com o passar do tempo, a equipe espera conseguir outras parcerias para sustentar o projeto, conta Aline, pois “o ônibus não pode parar”. Independentemente do resultado, o eBus já engatilhou mais dois projetos: a recuperação de baterias de carros elétricos em outros sistemas e a disponibilização do ônibus para visitas técnicas com objetivo de implantar a tecnologia em outros locais. O aeroporto de Belo Horizonte já está na fila para analisar a viabilidade de trocar os ônibus a diesel que levam passageiros por versões elétricas. Um exemplo de como a pesquisa da Universidade está contribuindo para mudanças sustentáveis na sociedade.

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Letícia Maria Klein

Jornalista formada, mora em Blumenau, Santa Catarina. É colaboradora do Um Só Planeta.

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