Quem tem medo do escuro?

Por mais que o aumento no preço da energia elétrica tenha feito os brasileiros repensarem a forma de consumir, ainda estamos entre os campeões de desperdício

Brasileiros desperdiçam energia equivalente a uma hora e meia de luzes acesas por dia

Por Katharina Farina | ODS 7 • Publicada em 11 de maio de 2016 - 08:00 • Atualizada em 11 de maio de 2016 - 11:07

Por mais que o aumento no preço da energia elétrica tenha feito os brasileiros repensarem a forma de consumir, ainda estamos entre os campeões de desperdício
Por mais que o aumento no preço da energia elétrica tenha feito os brasileiros repensarem a forma de consumir, ainda estamos entre os campeões de desperdício
Por mais que o aumento no preço da energia elétrica tenha feito os brasileiros repensarem a forma de consumir, ainda estamos entre os campeões de desperdício

Você apaga a luz quando sai do seu quarto? Um estudo realizado no Brasil, no México e na Colômbia revelou que 60% das pessoas não fazem isso. No entanto, nove em cada dez entrevistados consideram a economia de energia em casa um assunto “de vital importância”. Se o desperdício de energia elétrica fosse um crime, o delito, provavelmente, aconteceria na cozinha ou num quarto, que são os cômodos mais citados na pesquisa. Os suspeitos? Crianças e adolescentes. Além de esquecer de apagar as luzes, eles também usam mais de um aparelho eletrônico ao mesmo tempo, principalmente a televisão e o computador.

Enquanto estou assistindo TV, eu uso um telefone para falar, mas tem sempre alguém querendo falar no whatsapp no outro. A gente acaba comentando o que está passando com quem está dentro de casa por mensagem.

Na casa da diarista Edilza Ramos, o suspeito número um seria seu filho, Igor Oliveira, 20 anos: “Eu apago mais as luzes, porque sou eu que pago as contas dessa casa. Às vezes, quando  chego do trabalho, todas estão acesas, com o som alto e ele no quarto, nos fundos. Já entro reclamando”, conta Edilza. Aos 41 anos, ela se encaixa perfeitamente no perfil dos entrevistados pela Lutron – uma empresa de aparelhos para controle de iluminação -, chefes de família entre 25 e 45 anos.

Quando os filhos respondem sobre os hábitos de consumo de energia, o resultado é outro. Igor diz que a mãe e o padrasto, Gilvan, costumam deixar a televisão ligada enquanto usam o smartphone, e o irmão Lucas, 6 anos, faz o mesmo com o joguinho eletrônico que tem. No bairro vizinho à comunidade onde mora a família de Edilza, outra família passa por uma situação parecida. Os irmãos Pedro, 15 anos, Felipe, 14, e João Senna, 9, contam que o pai, Paulo, costuma usar o tablet e o smartphone ao mesmo tempo. Mas a mãe supera: “Enquanto estou assistindo TV, eu uso um telefone para falar, mas tem sempre alguém querendo falar no whatsapp no outro. A gente acaba comentando o que está passando com quem está dentro de casa por mensagem”, conta Renata Caruso de Mattos, engenheira de sistemas.

Na família da diarista Edilza Ramos, o principal suspeito pelo aumento da conta de luz é filho Igor, de 20 anos
Na família da diarista Edilza Ramos, o principal suspeito pelo aumento da conta de luz é filho Igor, de 20 anos

A conscientização dos filhos não partiu da sala de aula. Embora os meninos se lembrem de ver campanhas sobre reciclagem, uso da água e, principalmente, o combate ao Aedes aegypti na escola, energia não foi um tópico muito abordado. O que não pesa na consciência, no entanto, passou a pesar no bolso, com as bandeiras tarifárias que encareceram a conta de luz em 2015 e no começo de 2016. As duas famílias mudaram alguns hábitos, assim como milhões de brasileiros.

Renata aposentou a máquina de secar e parou de passar as roupas do dia a dia, pendurando no varal e guardando de maneira a deixar as peças menos amassadas possível. Na casa planejada pela família, o que mais gasta energia são as bombas d’água, tanto a da piscina quanto a de abastecimento. O ar-condicionado causa impacto durante o verão, mas assim que as temperaturas ficam mais amenas, paredes inteiras de janelas garantem ventilação e iluminação de graça. “Temos placas solares para aquecer a água do chuveiro, mas tenho o sonho de instalar geradores com placas fotovoltaicas para a casa toda”, afirma Paulo, matemático.

As condições da casa de Edilza permitem e pedem outro tipo de economia. Como ela mora no térreo de um sobrado que dá para uma passagem estreita, luz e ventilação dependem da energia elétrica. O chuveiro elétrico é o que mais consome, mesmo no verão, quando fica no modo “morno”. A família economiza onde pode: fechando o chuveiro enquanto não se enxáguam no banho, passando menos roupas, desligando o ar-condicionado durante a madrugada. Tentam compensar o aumento da conta de R$ 80, em março de 2015, para quase R$ 200 em março de 2016, enquanto o consumo só passou de 327kW para 328kW. Uma pequena parte se deve à taxa da iluminação da rua, R$14, que antes não existia, mas a formalização da energia elétrica na comunidade impactou o modo como a vizinhança consome energia. “Com o fim dos gatos, de um ano para cá, as pessoas estão gastando menos. Você passa pela frente e não vê tanta luz acesa, desligam o ar-condicionado de madrugada. Mas falta menos luz também”, conta Edilza.

Por mais que o aumento no preço da energia elétrica tenha feito os brasileiros repensarem a forma de consumir, ainda há um desperdício equivalente a uma hora e meia de luzes acesas por dia. Estamos no pódio do desperdício, atrás apenas dos mexicanos, que desperdiçam duas horas diárias. O bronze foi para a Colômbia, com uma hora e 12 minutos de luzes acesas sem necessidade. Talvez números como esses sejam a chave para usarmos energia de uma maneira mais responsável, em vez da conta de luz – ou ainda, planejar soluções na hora de construir as casas do futuro.

Para reduzir a conta de luz, Renata aposentou a máquina de secar e deixou de passar a roupa da família todos os dias
Para reduzir a conta de luz, Renata aposentou a máquina de secar e deixou de passar a roupa da família todos os dias

Katharina Farina

Carioca fascinada pelas novas formas de comunicação que surgem a cada dia. Se formou na PUC-Rio, onde descobriu as paixões por infografia e jornalismo científico.

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