Energia renovável, um lento progresso

Planta de energia eólica com parque de painéis solares em Aude: crescimento de energia renovável insuficiente para conter crise climática (Foto: Idriss Bigou-Gilles / Hans Lucas / AFP – 18/10/2021)

Estudo mostra que taxa de crescimento da produção de energia solar e eólica é insuficiente para conter a crise climática

Por José Eduardo Mendonça | ODS 7 • Publicada em 6 de dezembro de 2021 - 09:30 • Atualizada em 9 de dezembro de 2021 - 18:39

Planta de energia eólica com parque de painéis solares em Aude: crescimento de energia renovável insuficiente para conter crise climática (Foto: Idriss Bigou-Gilles / Hans Lucas / AFP – 18/10/2021)

Um novo estudo na Nature Energy mostra que a taxa de crescimento da energia solar e eólica é mais baixa do que o exigido para conter a mudança do clima. O trabalho, conduzido pela Universidade Chalmers de Tecnologia, a Universidade de Lund, na Suécia, e a Universidade da Europa Central, na Áustria, descobriu que nenhum país está agindo rápido o bastante para impedir que o aquecimento global suba cima de 1.5C. E que a produção de energia renovável está aumentando a um nível deplorável.

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Os pesquisadores examinaram a produção de energia renovável em 60 países e em quase todos eles o crescimento não era o suficiente. “É a primeira vez em que a taxa máxima de crescimento de países individuais foi medida acuradamente, e ela mostra a escala enorme do desafio de substituir fontes de energia tradicionais, assim como a necessidade de explorar diversas tecnologias e cenários”, diz Jessica Jewell, professora assistente de transição energética na Universidade Chalmers.

A descarbonização requer energia renovável, eletrificação e eficiência energética. É difícil de visualizar, medir, agregar, incentivar ou legislar sobre, mas o impacto seria imenso. Já temos tecnologia disponível para nos ajudar. Agora, precisamos de planejamento.

Ou seja, não é começar do zero e inventar a roda da descarbonização. Se trata de acelerar abordagens e tecnologias, incluindo aquelas cujo potencial é ainda amplamente subapreciado.

Fontes de energia limpa e renovável como solar, eólica, das ondas, biomassa e hidroelétrica ainda respondem por uma fração pequena do mix global de energia. Mas investimentos maciços, progresso tecnológico e políticas próativas em muitos lugares do mundo as tornaram cada vez mais comercialmente competitivas. Fazendas eólicas e painéis solares estão por toda parte, da China à Califórnia.

Todos as montadoras importantes estão se ajustando para produzir veículos movidos a eletricidade, em lugar da velha energia de combustão. Cerca de 700 milhões deles poderão estar nas ruas em 2050. Isto é mais do que metade das vendas globais hoje.

Em edifícios, cidades e estruturas, a chamada internet das coisas pode reduzir significativamente o consumo de energia, como ajustar automaticamente calor, luz e outros sistemas ao número de pessoas presentes em um local a qualquer momento desejável, usando análise de dados em tempo real.

Ninguém duvida que todos nós precisamos fazer mais, e mais rápido para livrar o planeta dos combustíveis fósseis. A boa notícia é que temos tecnologias e ferramentas para fazer isto acontecer.

O governo chinês anunciou planos de acelerar a chegada de seu pico de emissões de dióxido de carbono em 2030, usando taxas muito mais rápidas de crescimento de veículos elétricos na próxima década.

Beijing está planejando ter 40% dos veículos de energia limpa até 2030, o dobro de uma meta anterior de 20% até o final de 2005, de acordo com o plano de ação anunciado recentemente pelo conselho de estado.

No caso da eletricidade eólica em solo, apenas a Alemanha tem conseguido manter o crescimento, comparado a cenários médios de estabilização do clima. Em outras palavras, para alcançar as metas de mudança do clima, todos os países deveriam produzir energia eólica em ritmo tão rápido quanto o alemão.

O investimento global em energia nunca foi tão alto, mas países em desenvolvimento estão perdendo terreno e o capital privado pode ser utilizado para cobrir este déficit, porque os mercados emergentes são fundamentais para a transição energética do mundo, diz um relatório da BloombergNEF e do Climate Investment Funds.

De acordo com o relatório, o investimento na transição chegou a 501 bilhões de dólares em 2020, embora a maior parte dele esteja concentrado em nações mais ricas.

Na verdade, enquanto o investimento em energias renováveis bate recordes, ele diminui em países em desenvolvimento. Em mercados emergentes o investimento caiu para 137 milhões de dólares em 2020, o menor nível desde 2016.

Em setembro, um relatório do Departamento de Energia dos EUA apresentou um modelo que ajudaria a fazer crescer exponencialmente o uso de energia solar no país, com o sol respondendo por quase metade da eletricidade no país. Para chegar a 40% de eletricidade solar em 2035, o departamento disse que a nação teria de instalar 30 gigawatts de capacidade nova a cada ano pelos próximos quatro anos.

De acordo com estudo divulgado recentemente pela Agência Internacional de Energia, para se atingir emissão zero de carbono em 2050, será preciso atender um aumento de seis vezes na demanda do que chama de minerais críticos, incluindo lítio, cobre, cobalto, níquel, cromo, manganês, molibdênio e elementos de terra rara, todos eles ingredientes vitais para a tecnologia de energia limpa.

Isto é um desafio enorme para realização de metas nacionais e globais. Embora não haja falta dos minerais em si, tirá-los do solo em tempo e em quantidades suficientes sem criar outro monstro ambiental poderá atrasar muitos projetos.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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