Mulheres são as maiores vítimas de catástrofes na África

ADDIS ABABA, ETHIOPIA – MARCH 13: Local residents mourn after a landslide that swept through a massive garbage dump, killing at least 46 people and leaving several missing at Koshe rubbish tip in Kolfe Keranio district of Addis Ababa, Ethiopia on March 13, 2017. Rescue team continue to search missing people since yesterday. Minasse Wondimu Hailu / Anadolu Agency

Desastre em lixões da Etiópia e de Moçambique são exemplos de descaso e de falta de proteção às trabalhadoras

Por The Conversation | ODS 5 • Publicada em 29 de abril de 2018 - 08:00 • Atualizada em 2 de maio de 2018 - 13:40

ADDIS ABABA, ETHIOPIA – MARCH 13: Local residents mourn after a landslide that swept through a massive garbage dump, killing at least 46 people and leaving several missing at Koshe rubbish tip in Kolfe Keranio district of Addis Ababa, Ethiopia on March 13, 2017. Rescue team continue to search missing people since yesterday. Minasse Wondimu Hailu / Anadolu Agency
O desespero de uma mãe após o desabamento do lixão de lixão de Koshe, em Adis Abeba, capital da Etiópia. Foto Minasse Wondimu/Anadolu Agençy
O desespero de uma mãe após o desabamento do lixão de lixão de Koshe, em Adis Abeba, capital da Etiópia. Foto Minasse Wondimu/Anadolu Agençy

(Daniel Moshenberg*) – Os últimos 12 meses foram marcados por duas catástrofes urbanas previsíveis na África: o colapso do lixão Koshe, em 11 de março de 2017, em Adis Abeba, capital da Etiópia, e do lixão Hulene, em 19 de fevereiro de 2018, em Maputo, capital de Moçambique. No primeiro desastre, morreram 115 pessoas, 75 mulheres (65,2%). No segundo, 16, das quais 12 mulheres (75%).  Em ambos os casos, os relatórios das autoridades se concentraram nas condições dos indivíduos e das famílias que viviam na superfície das montanhas de lixo ou nas sombras das torres de lixo. Mas foi dada pouco ou nenhuma atenção à dinâmica de gênero nas tragédias.

É hora de as cidades abordarem a morbidade de gênero em seus programas de desenvolvimento e de os meios de comunicação prestarem maior atenção à fragilidade das mulheres nas tragédias urbanas.

Em 2017, a antropóloga social Caroline Knowles descreveu Koshe como um aterro sanitário gigantesco e enfumaçado, frequentado por aves de rapina e cães selvagens. Em meio a pássaros, cachorros e fumaça, tratores amarelos deslocam e nivelam o lixo que é despejado pelos caminhões municipais e particulares. Os seres humanos também se alimentam no aterro. Os homens juntam o lixo mais valioso; as mulheres juntam artigos de plástico. Mulheres mais jovens catam garrafas plásticas. Mulheres mais velhas coletam sacolas plásticas. Adis Abeba tem mais de 3 milhões de habitantes.

Trabalhadores fazem o trabalho de resgate das vítimas do lixão de Koshe, que deixou 115 mortos. Foto Minasse Wondimu/Anadolu Agençy
Trabalhadores fazem o trabalho de resgate das vítimas do lixão de Koshe, que deixou 115 mortos. Foto Minasse Wondimu/Anadolu Agençy

A situação em Hulene é semelhante. O local está entre os 50 maiores lixões do mundo. Os catadores são predominantemente mulheres, a maioria com idade entre 40 e 50 anos. Os homens trabalham nos caminhões na entrada do lixão, enquanto as mulheres trabalham no lixão. Hulene é o único lixão em Maputo, uma cidade em rápido crescimento, com cerca de 1,2 milhão de habitantes. Em 2017, a capital de Moçambique produziu 1.100 toneladas métricas de lixo todos os dias. Não há tratamento de resíduos. As escavadeiras despejam montanhas de resíduos sólidos, que depois se aglomeram. Essas montanhas de lixo fétido e tóxico frequentemente se auto inflamam. Há muito Hulene ultrapassou sua capacidade e seu fechamento é discutido há anos. Adis Abeba e Maputo são cidades em rápido crescimento e, como tal, Koshe e Hulene são a expressão física das consequências do rápido desenvolvimento urbano e de seu efeito nocivo sobre as mulheres pobres.

É hora de as cidades abordarem a morbidade de gênero em seus programas de desenvolvimento e de os meios de comunicação prestarem maior atenção à fragilidade das mulheres nas tragédias urbanas. Além disso, os catadores devem ser apoiados em sua luta para serem reconhecidos como trabalhadores. Algumas vitórias já foram conquistadas, por exemplo, em cooperativas como a Recicla, em Maputo, gerida por catadoras. Em Adis Abeba, os catadores são representados por vários atores formais e informais, incluindo ONGs internacionais.

É preciso fornecer documentos e regularizar o trabalho dos catadores, bem como assegurar-lhes assistência de saúde e de segurança.  Por outro lado, ambas as cidades devem abordar as condições catastróficas tanto de Hulene quanto de Koshe, tomando medidas para saneá-los ou fechá-los definitivamente.

*Daniel Moshenberg é professor de Estudos  de Gênero e Sexualidade da Universidade George Washington, EUA. (Tradução: Trajano  de Moraes)

The Conversation

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