Desemprego entre mulheres negras na pandemia é o dobro do de homens brancos

A mesa “Justiça econômica para mulheres, atalho para a retomada da economia” foi a segunda da série de debates do #Colabora. Foto Reprodução

Em debate do #Colabora, especialistas apontam a falta de políticas públicas como o principal entrave para uma maior justiça econômica no Brasil

Por #Colabora | ODS 5 • Publicada em 29 de novembro de 2021 - 17:30 • Atualizada em 7 de dezembro de 2021 - 08:17

A mesa “Justiça econômica para mulheres, atalho para a retomada da economia” foi a segunda da série de debates do #Colabora. Foto Reprodução

Um estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP, divulgado em setembro, mostrou que nas diferentes fases do Auxílio Emergencial, e em todos os cenários, as mulheres negras foram as que mais sofreram com a pobreza e a extrema pobreza. Quando o benefício foi suspenso, entre janeiro e março de 2021, 41% delas estavam em situação de pobreza e 14,6% em extrema pobreza. Quando se fala em mercado de trabalho, a situação é parecida. Pesquisa do Instituto Locomotiva, com base na PNAD Contínua de 2017 a 2021, verificou que a desocupação de mulheres negras na pandemia tem sido o dobro da desocupação de homens brancos.

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Estes e outros dados, igualmente dramáticos, marcaram o segundo encontro da série “#Colabora 6 anos: 6 debates fundamentais”, realizado pelo Projeto #Colabora. A mesa “Justiça econômica para mulheres, atalho para a retomada da economia” reuniu a vice-presidente do Instituto Omolará, Eliana Custódio; a diretora da ActionAid Brasil, Ana Paula Brandão e a jornalista Flavia Oliveira, da GloboNews, com a mediação da jornalista Fernanda Baldioti, uma das editoras do #Colabora. Ao longo da conversa, as especialistas mostraram exemplos, casos e números que comprovam, mais uma vez, que a desigualdade no mercado de trabalho, e na vida, tem cor, gênero e classe:

“A desigualdade, infelizmente, é um elemento que define a sociedade brasileira, que sempre foi desigual e hierarquizada. Apesar do esforço grande das mulheres, desde os anos 70, por qualificação e inclusão no mercado de trabalho, a situação não mudou muito. Especialmente para as mulheres negras, pobres, das favelas, das periferias. Mulheres que vivem sozinhas, são chefes de família, tem dois ou três filhos, ganham pouco e são mais vulneráveis, ainda mais em plena pandemia”, argumentou Flávia Oliveira.

A jornalista citou o caso emblemático da empregada doméstica Mirtes Renata Santana que, em junho de 2020, perdeu o filho Miguel Otávio Santana que caiu de um prédio de luxo, em Recife, enquanto a mãe passeava com o cachorro da patroa. Ana Paula Brandão, da ActionAid, aproveitou a deixa para lembrar que a primeira morte pela covid-19 no Brasil foi de uma empregada doméstica de 57 anos, em São Paulo: “Não há dúvida, sempre que a situação aperta, como foi na pandemia, a mulher negra e pobre é a mais prejudicada. Hoje, mais de 50% da população brasileira vive em insegurança alimentar. O que significa que estão pulando, pelo menos, uma refeição por dia. Todos os índices pioraram dramaticamente nos últimos 4 ou 5 anos”, explicou a diretora da ActionAid.

Fernanda Baldioti, a mediadora, aproveitou para lembrar da reportagem do #Colabora “Um vírus, duas guerras”, feita em parceria com outras cinco organizações jornalísticas, que mostrava que, durante a pandemia, 1.005 mulheres perderam a vida por conta da violência doméstica.

Eliana Custódio, que é gestora de projetos sociais e trabalha com empreendedorismo de mulheres negras contou que a situação das empreendedoras negras e pardas piorou muito com a covid-19: “Voltar aos patamares que tivemos no passado será praticamente impossível, um desafio enorme. O estrago foi muito grande. Faltam políticas públicas, não há qualquer apoio do Estado. As pessoas estão sem dinheiro para pagar o gás de cozinha. Estão fazendo o jantar, quando ele existe, com forno a lenha, álcool, o que é muito perigoso”, lamentou.

Ao final de pouco mais de uma hora de debate, Flávia Oliveira disse que o Brasil vive um momento de trevas quando se fala em políticas públicas para a redução das desigualdades. Segundo ela, numa mistura de incompreensão e incompetência, como foi no combate à covid-19 e no sepultamento do Bolsa Família. Para Flávia, a boa notícia desse período foi o ressurgimento e a valorização das organizações da sociedade civil, que fizeram um trabalho fundamental para reduzir o sofrimento dessas populações mais vulneráveis:

“Investir na redução da desigualdade não é só justo e correto, pode ser muito rentável também. Essas organizações que atuam nas favelas, nas quebradas, nas periferias, mostraram, mais uma vez, a sua disposição distributiva. Eles dividiram o pão, a comida, a mesa e os remédios. Nada mais natalino do que isso. Esse exemplo precisa ser seguido”, concluiu.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora.

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