Presidente da SBPC: ‘Sem ciência, não há progresso econômico’

Renato Janine Ribeiro em evento na USP: “o avanço econômico hoje depende da ciência” (Foto: Marcos Santos/Imagens USP)

Filósofo, professor e ex-ministro Renato Janine Ribeiro, recém-eleito, afirma que "momento é de resistência, de luta em defesa da ciência"

Por Oscar Valporto | ODS 4 • Publicada em 8 de julho de 2021 - 10:22 • Atualizada em 13 de julho de 2021 - 09:02

Renato Janine Ribeiro em evento na USP: “o avanço econômico hoje depende da ciência” (Foto: Marcos Santos/Imagens USP)

Eleito, em junho, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o filósofo e professor Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, vai tomar posse no dia 23, durante o Congresso Anual da SBPC, preocupado em unir todos os setores em defesa da ciência. “O papel da SBPC neste momento é de resistência, de luta em defesa da ciência”, afirmou Janine, ao participar, nesta quarta (07/07) de debate promovido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde leciona.

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Neste dia 8 de julho, Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, Renato Janine terá uma maratona de discussões virtuais pregando essa necessidade de união. “Sem ciência, sem inteligência, não há progresso econômico. Não existe essa oposição entre economia e ciência, entre saúde e PIB. Hoje, o avanço econômico depende muito dos assuntos relacionados à ciência”, afirmou o novo presidente da SBPC, que recebeu 1.205 votos (63% do total), em uma eleição que contou com a adesão de 60% dos sócios da entidade.

A incumbência que a comunidade educacional e científica tem agora é dupla. A primeira parte é uma incumbência de resistência, um papel de luta constante para defender o que está ameaçado. A outra é a construção do futuro

Para Janine Ribeiro, a pandemia de covid-19 ajudou a mostrar a força da ciência. Ele fez uma comparação com a gripe espanhola, que pode ter matado 5% da população mundial em 2018. “Se tivéssemos, hoje, a mesma mortalidade da gripe espanhola, perderíamos ter 400 milhões de pessoas mortas pelo novo coronavírus. Temos 4 milhões de mortes: é muita gente, mas salvamos 396 milhões de vidas porque a ciência se desenvolveu. A ciência salva vidas”, enfatizou o ex-ministro da Educação, cargo que ocupou por sete meses de 2015, no governo Dilma. “Tivemos vidas salvas pela ciência e vidas salvas pela sua filha, a tecnologia: houve conversão de parte da economia para o virtual, outro benefício da ciência”, acrescentou.

O presidente eleito da SBPC não tem dúvida de que, se o governo Bolsonaro tivesse seguido a ciência, poderiam ter sido salvas até 400 mil vidas brasileiras. Janine Ribeiro disse ter ficado surpreso com a quantidade de pessoas que não acreditam nas descobertas da ciência e também com a facilidade com que informações falsas, sem qualquer base científica, foram, e ainda estão sendo, difundidos. “Todos nós, pessoas estão comprometidas com a educação, comprometidas com a vida, têm a missão de garantir uma educação científica melhor, garantir que os brasileiros aprendam desde cedo o que nós chamamos de método científico”, disse o ex-ministro no debate ‘Caminhos e descaminhos da Ciência no Brasil’, que teve a presença ainda do reitor da USP, ​​​​Vahan Agopyan, e do professor Marcelo Knobel. ex-reitor da Unicamp e também membro recém-eleito do Conselho da SBPC.

São ações do governo que fazem o filósofo e professor falar em resistência. “Vou dar dois exemplos. O supercomputador Tupã do Inpe pode parar por falta de dinheiro para pagar a conta de luz, sem que ninguém no governo fique alarmado. E fui procurado recentemente pelo professor e ex-ministro da Educação Cristóvam Buarque para ajudar na defesa do Colégio Pedro II, patrimônio histórico e educacional do país, citado na nossa Constituição, que está ameaçado de fechar por falta de recursos”, contou Janine Ribeiro. “Por isso, o momento é de resistência”, acrescentou.

A luta não é apenas em defesa da ciência. “Precisamos defender educação, cultura, saúde, meio ambiente e inclusão social. A SBPC é uma das entidades que têm este papel importante na salvaguarda disso tudo que hoje está ameaçado”, afirmou Renato Janine Ribeiro, destacando ainda o agravamento da crise ambiental no Brasil. “Longe de ser um obstáculo, o meio ambiente é um trunfo importante para a economia. Temos uma biodiversidade única na Amazônia e em outros biomas”, frisou.

Professor de Ética e Política na USP, com 14 livros publicados, Renato Janine Ribeiro, de 71 anos, toma posse durante o Congresso (virtual) da SBPC e vai suceder o físico Ildeu de Castro Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O novo presidente elogiou iniciativas do antecessor. “SBPC tem trabalhado na defesa das universidades federais, dos institutos federais de pesquisa, ações que precisam ter continuidade”, disse.

Desde o ano passado, a SBPC participou da criação da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ictp.br), que pressionou com sucesso, pelo descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A entidade, fundada em 1948, também uniu forças com entidades religiosas, do direito e da comunicação para criar o Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade e formar um Pacto pela Vida.

Janine Ribeiro destacou ainda no debate, transmitido pelo canal da Faculdade de Filosofia no Youtube, que a SBPC também precisa ajudar na construção do futuro. “A ciência e a inteligência têm um papel na construção desse futuro. Há um legado deixado por centenas de cientistas brasileiros que garante uma vida melhor em nosso país. Mas também é necessário incluir todos os brasileiros: nós desperdiçamos os talentos de 70% da população que não tem acesso à educação, saúde, moradia e alimentação de qualidade”, disse o presidente da SBPC

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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