ODS 1
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Conheça as reportagens do Projeto Colabora guiadas pelo ODS 1.
Veja mais de ODS 1Eleito, em junho, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o filósofo e professor Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, vai tomar posse no dia 23, durante o Congresso Anual da SBPC, preocupado em unir todos os setores em defesa da ciência. “O papel da SBPC neste momento é de resistência, de luta em defesa da ciência”, afirmou Janine, ao participar, nesta quarta (07/07) de debate promovido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde leciona.
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Neste dia 8 de julho, Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, Renato Janine terá uma maratona de discussões virtuais pregando essa necessidade de união. “Sem ciência, sem inteligência, não há progresso econômico. Não existe essa oposição entre economia e ciência, entre saúde e PIB. Hoje, o avanço econômico depende muito dos assuntos relacionados à ciência”, afirmou o novo presidente da SBPC, que recebeu 1.205 votos (63% do total), em uma eleição que contou com a adesão de 60% dos sócios da entidade.
A incumbência que a comunidade educacional e científica tem agora é dupla. A primeira parte é uma incumbência de resistência, um papel de luta constante para defender o que está ameaçado. A outra é a construção do futuro
Para Janine Ribeiro, a pandemia de covid-19 ajudou a mostrar a força da ciência. Ele fez uma comparação com a gripe espanhola, que pode ter matado 5% da população mundial em 2018. “Se tivéssemos, hoje, a mesma mortalidade da gripe espanhola, perderíamos ter 400 milhões de pessoas mortas pelo novo coronavírus. Temos 4 milhões de mortes: é muita gente, mas salvamos 396 milhões de vidas porque a ciência se desenvolveu. A ciência salva vidas”, enfatizou o ex-ministro da Educação, cargo que ocupou por sete meses de 2015, no governo Dilma. “Tivemos vidas salvas pela ciência e vidas salvas pela sua filha, a tecnologia: houve conversão de parte da economia para o virtual, outro benefício da ciência”, acrescentou.
O presidente eleito da SBPC não tem dúvida de que, se o governo Bolsonaro tivesse seguido a ciência, poderiam ter sido salvas até 400 mil vidas brasileiras. Janine Ribeiro disse ter ficado surpreso com a quantidade de pessoas que não acreditam nas descobertas da ciência e também com a facilidade com que informações falsas, sem qualquer base científica, foram, e ainda estão sendo, difundidos. “Todos nós, pessoas estão comprometidas com a educação, comprometidas com a vida, têm a missão de garantir uma educação científica melhor, garantir que os brasileiros aprendam desde cedo o que nós chamamos de método científico”, disse o ex-ministro no debate ‘Caminhos e descaminhos da Ciência no Brasil’, que teve a presença ainda do reitor da USP, Vahan Agopyan, e do professor Marcelo Knobel. ex-reitor da Unicamp e também membro recém-eleito do Conselho da SBPC.
São ações do governo que fazem o filósofo e professor falar em resistência. “Vou dar dois exemplos. O supercomputador Tupã do Inpe pode parar por falta de dinheiro para pagar a conta de luz, sem que ninguém no governo fique alarmado. E fui procurado recentemente pelo professor e ex-ministro da Educação Cristóvam Buarque para ajudar na defesa do Colégio Pedro II, patrimônio histórico e educacional do país, citado na nossa Constituição, que está ameaçado de fechar por falta de recursos”, contou Janine Ribeiro. “Por isso, o momento é de resistência”, acrescentou.
A luta não é apenas em defesa da ciência. “Precisamos defender educação, cultura, saúde, meio ambiente e inclusão social. A SBPC é uma das entidades que têm este papel importante na salvaguarda disso tudo que hoje está ameaçado”, afirmou Renato Janine Ribeiro, destacando ainda o agravamento da crise ambiental no Brasil. “Longe de ser um obstáculo, o meio ambiente é um trunfo importante para a economia. Temos uma biodiversidade única na Amazônia e em outros biomas”, frisou.
Professor de Ética e Política na USP, com 14 livros publicados, Renato Janine Ribeiro, de 71 anos, toma posse durante o Congresso (virtual) da SBPC e vai suceder o físico Ildeu de Castro Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O novo presidente elogiou iniciativas do antecessor. “SBPC tem trabalhado na defesa das universidades federais, dos institutos federais de pesquisa, ações que precisam ter continuidade”, disse.
Desde o ano passado, a SBPC participou da criação da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ictp.br), que pressionou com sucesso, pelo descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A entidade, fundada em 1948, também uniu forças com entidades religiosas, do direito e da comunicação para criar o Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade e formar um Pacto pela Vida.
Janine Ribeiro destacou ainda no debate, transmitido pelo canal da Faculdade de Filosofia no Youtube, que a SBPC também precisa ajudar na construção do futuro. “A ciência e a inteligência têm um papel na construção desse futuro. Há um legado deixado por centenas de cientistas brasileiros que garante uma vida melhor em nosso país. Mas também é necessário incluir todos os brasileiros: nós desperdiçamos os talentos de 70% da população que não tem acesso à educação, saúde, moradia e alimentação de qualidade”, disse o presidente da SBPC
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.