Pesquisa alerta para ameaças à saúde embutidas nos cosméticos

Mulher testa delineador em loja de produtos de beleza: pesquisa aponta uso de substância perigosas para a saúde na fabricação de cosméticos: Binnur Ege Gurun / Anadolu Agency / AFP – 05/09/2018)

Cientistas testaram mais de 200 produtos e constataram alto nível de substâncias químicas associadas a doenças como hipertensão e tipos de câncer

Por José Eduardo Mendonça | ODS 3 • Publicada em 1 de novembro de 2021 - 08:51 • Atualizada em 3 de novembro de 2021 - 08:39

Mulher testa delineador em loja de produtos de beleza: pesquisa aponta uso de substância perigosas para a saúde na fabricação de cosméticos: Binnur Ege Gurun / Anadolu Agency / AFP – 05/09/2018)

Muitos dos cosméticos vendidos nos Estados Unidos e Canadá provavelmente contém altos níveis de polifluoroalquil (PFAS), uma classe de produtos químicos, que combinam flúor e carbono, ligados a um número de problemas sérios de saúde, de acordo com um novo estudo da Universidade Notre Dame, dos EUA. E muitos deles são exportados para o Brasil e vendidos por altos preços.

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de cosméticos. Existe pouca regulação para estes produtos (uma atribuição da Anvisa) e os funcionários destinados à verificação e aplicação das normas são pouquíssimos perante o tamanho do mercado.

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Estes resultados são particularmente preocupantes quando se considera o risco de exposição ao consumidor combinado ao tamanho e escala multibilionária que fornece estes produtos ao consumidor diariamente

Na pesquisa da universidade americana, cientistas testaram mais de 200 produtos cosméticos, incluindo bases, produtos para os olhos e sobrancelhas e diversos para os lábios. De acordo com o estudo, 56% por cento das bases e 48% de produtos para os lábios testados continham altos níveis de fluorinas, o que é um indicador de uso de PFAS. O estudo foi publicado no Environmental Science and Technology.

Estudos ligaram os PFAS ao câncer de rins, câncer testicular, hipertensão, doenças da tireoide, peso baixo no nascimento e imunotixicidade em crianças.

O governo de Joe Biden anunciou novas leis para proteger os americanos destas substâncias químicas tóxicas. Até o final deste ano a Agência de Proteção Ambiental vai exigir que os fabricantes de PFAS que testem e reportem publicamente a quantidade deles encontrados encontrados em produtos de beleza, embalagens de alimentos e móveis resistentes a manchas – e, ainda, em água engarrafada. Mas pesquisadores e ativistas ambientais dizem que isto não vai resolver o problema, e que é hora de o governo simplesmente proibir o uso destas substâncias.

“Estes resultados são particularmente preocupantes quando se considera o risco de exposição ao consumidor combinado ao tamanho e escala multibilionária que fornece estes produtos ao consumidor diariamente”, afirma Graham Peaslee, professor de física na Notre Dame e principal investigador do estudo. “Há o risco individual. São produtos que são aplicados em torno dos olhos e bocas com o potencial de absorção pela pele ou pelo canal lacrimal, assim como pela possível inalação ou ingestão.”

O que é mais preocupante é que os pesquisadores encontraram, em 29 produtos cosméticos, altas concentração de fluorina e, numa investigação posterior, descobriu-se que continham entre quatro e treze PFAS, e apenas um deles a mencionava como ingrediente em seus rótulos.

Mas o que são os PFAS? Se referem a mais de mil produtos químicos encontrados em uma ampla gama de produtos de consumo por poderem aumentar a resistência ao calor, manchas, água e graxa. Não se dissolvem no meio ambiente e a exposição humana a eles pode causar câncer, diminuir a imunidade e levar a outros problemas de saúde. Em meio à pandemia, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças informam que podem reduzir a resposta de anticorpos a vacinas, o que quer dizer que podem diminuir sua eficácia.

“Uma vez fabricados, nada pode dissolvê-los,” diz David Bond, professor do Bennington College. “Se acumulam em plantas, animais e humanos, levando nossos sistemas essenciais ao desarranjo, mesmo em exposições tremendamente baixas.

Os fabricantes de PFAS fizeram lobby junto ao governo, argumentando que nem todas as milhares destas substâncias são igualmente ruins e que, portanto, têm de ser analisadas caso a caso. É basicamente uma tática para atrasar a regulamentação.

“Estas empresas sabiam que seus produtos eram tóxicos no momento em que começaram a produzi-los”, diz Bond. “Tinham uma extensa documentação sobre seus efeitos mortais em seus funcionários ou em comunidades próximas desde os anos 60, mas enterraram esta documentação enquanto integravam estas substâncias a uma gama de produtos de consumo.” Lembra o que fizeram com os cigarros e fazem hoje com os combustíveis fósseis.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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