O veganismo e o clima

Camisetas e produtos veganos expostos durante a Parada Vegan de Paris, em 2018. Foto Michel Stoupak/NurPhoto

Vantagens e desvantagens para o planeta e para a saúde de uma dieta sem produtos de origem animal

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13ODS 3 • Publicada em 11 de fevereiro de 2019 - 08:36 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2019 - 14:19

Camisetas e produtos veganos expostos durante a Parada Vegan de Paris, em 2018. Foto Michel Stoupak/NurPhoto
Camisetas e produtos veganos expostos durante a Parada Vegan de Paris, em 2018. Foto Michel Stoupak/NurPhoto
Camisetas e produtos veganos expostos durante a Parada Vegan de Paris, em 2018. Foto Michel Stoupak/NurPhoto

Cada vez mais gente no mundo está deixando de comer carne e adotando a dieta vegana – que proíbe quaisquer alimentos de origem animal. Por trás desta atitude residem algumas preocupações, todas pertinentes.

Com a prosperidade em países em desenvolvimento, as pessoas consomem cada vez mais carne e laticínios. A produção mundial de carne deverá crescer das 229 milhões de toneladas em 1999/2001 para 465 milhões de toneladas em 2050, e a de leite de 580 milhões para 1,043 bilhão.

Primeiro, a saúde: animais são alimentados com produtos químicos para acelerar seu crescimento ou aumentar seu peso de abate, e muitas destas substâncias não são de consumo seguro por humanos. Além disso, os pastos que utilizam têm comumente a presença de agrotóxicos. E há outro fator importante, a compaixão: eles são mantidos em esquemas brutais de confino e suas mortes são violentas. Mas a preocupação com meio ambiente é cada vez mais a resposta dada por veganos por sua opção. Eles têm razão.

Cada cabeça de gado libera entre e 70 e 120 quilos de metano na atmosfera por ano. O metano é um gás de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), mas seu impacto negativo no ambiente é 23 vezes maior. Ou seja, a liberação de 100 quilos de metano equivale à liberação de 2.300 kg de CO2 por ano. Comparando, isso equivale à queima de 1.000 litros de gasolina.

Em Londres, o protesto de ativistas contra a crueldade feita com os animais. Foto Gail Orenstein/NurPhoto
Em Londres, o protesto de ativistas contra a crueldade feita com os animais. Foto Gail Orenstein/NurPhoto

Os ruminantes, animais que regurgitam seu alimento e os remastigam, produzindo flatulências de metano, são responsáveis globalmente pela emissão de dois bilhões de toneladas cúbicas de CO2 equivalente. Além disso, a derrubada de florestas para o pasto é responsável por outras 2,8 bilhões de toneladas métricas por ano. Quase 70% das florestas da Amazônia já foram derrubadas para este fim – e isto inclui o uso de terra agricultável para o plantio de alimento para o gado, como a soja.

Isto, claro, significa grande impacto no clima e no aquecimento global. A agricultura responde mundialmente por 18% do total de emissões de gases de efeito estufa (mais do que todo o setor de transportes, segundo a FAO. Pode piorar.  Com a prosperidade em países em desenvolvimento, as pessoas consomem cada vez mais carne e laticínios. A produção mundial de carne deverá crescer das 229 milhões de toneladas em 1999/2001 para 465 milhões de toneladas em 2050, e a de leite de 580 milhões para 1,043 bilhão.

As opções individuais são relevantes, mas vai ser difícil resolver o problema globalmente. Em alguns lugares o consumo de carne deveria cair em até 90% para evitar os efeitos danosos sobre o clima. Ela teria de ser substituída por cinco vezes seu peso em grãos, frutas e vegetais. O mesmo teria de acontecer com o consumo de carne de porco e ovos. Especialistas já falam em uma terceira via alimentar: uma dieta “flexitariana” – com a retirada da carne vermelha, mas a manutenção de peixes, galinhas caipiras, leite e ovos.

E sugerem ainda uma taxação da alga marinha dada como alimento ao gado, para que se produza menos metano no processo de digestão. Alguns radicais chegam a defender alternativas pouco palatáveis, como se comer insetos para garantir a ingestão de proteínas.

É justamente o que sugere um relatório do jornal científico britânico The Lancet. Seus autores trabalharam durante três anos para criar recomendações a serem adotadas por governos para lidar com o grande problema da alimentação em um mundo superpovoado.

Os pesquisadores chegaram a suas conclusões levando em conta efeitos colaterais diferentes da produção alimentar, incluindo gases de efeito estufa, uso da água e terra, nitrogênio e fósforo (dos fertilizantes), e o potencial de a biodiversidade ser prejudicada caso sua terra seja convertida em fazendas. Segundo eles, com a administração correta de todos estes fatores, seria possível reduzir em muito as emissões e sobraria terra bastante para alimentar o mundo.

Com tudo isso, há ainda especialistas alertando que os veganos podem ficar sem acesso a nutrientes essenciais, o que levaria à desnutrição e a riscos para sistema nervoso e os ossos, de acordo com Chris Eliott, diretor do Instituto Global de Segurança Alimentar. O veganismo, segundo ele, pode se transformar em grande contribuinte para mascarar a fome.

“A saúde dos ossos é uma preocupação para os veganos que adotam a dieta por longo tempo. Eles consomem menos cálcio e vitamina D, o que resulta em níveis menores de densidade óssea mineral”, diz ele.  Segundo o cientista, os níveis de ômega 3 e vitamina B12 também se mostram mais baixos, e este problema, sem tratamento, pode gerar cansaço e fraqueza, má digestão e questões de desenvolvimento em crianças. No caso da vitamina B12, o resultado pode ser um dano nervoso irreversível.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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