Diário da Covid-19: ritmo de casos no Brasil supera a média mundial

Um casal conversa em frente ao “Muro de Lennon”, em Praga, que, em tempos de Covid-19, também usa a sua máscara. Foto Michal Cizek/AFP

Medidas de isolamento social começam a fazer efeito no mundo todo. Itália e Espanha entram em uma nova fase

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 7 de abril de 2020 - 08:57 • Atualizada em 8 de abril de 2020 - 11:22

Um casal conversa em frente ao “Muro de Lennon”, em Praga, que, em tempos de Covid-19, também usa a sua máscara. Foto Michal Cizek/AFP

A pandemia do novo coronavírus se espalha pelo mundo e, com um certo atraso temporal, avança aceleradamente no Brasil. O crescimento do número de casos e de mortes assustou a população mundial, tornando real o que parecia impossível, já que houve uma paralisação da economia internacional diante da dramática crise da saúde pública planetária. A população brasileira e mundial está sentindo uma insegurança sem precedentes.

O panorama nacional

O dia 06 de abril foi um dia de muita incerteza no Brasil em relação à política pública de combate à pandemia do novo coronavírus, já que houve a possibilidade de demissão do ministro da saúde e um eventual relaxamento do processo de isolamento social. Sem dúvida, o enfraquecimento das instituições e a fratura na governança governamental dificulta a luta para salvar vidas.

Não é hora divergir, nem de relaxar. O Brasil encerrou o dia 06/04 com 12.056 casos notificados e 553 mortes pela Covid-19. Uma taxa de letalidade de 4,6%.

O país está em pleno surto do novo coronavírus. No dia primeiro de março havia apenas dois casos de Covid-19 notificados no Brasil e a primeira morte ocorreu em 17 de março. Mas o número de novos casos atingiu, no dia 04 de abril, a cifra de 1.222 casos e de 72 mortes na variação absoluta diária. O ritmo de crescimento relativo dos casos ficou, em média, em 25% ao dia e o ritmo de crescimento relativo das mortes ficou em 50,4% ao dia. Portanto, a pandemia começou defasada no tempo no Brasil, mas apresentou um ritmo mais acelerado do que a média mundial.

A boa notícia é que tanto o número absoluto, quanto relativo de casos e mortes no país apresentou, na comparação diária em relação aos valores do dia 04/04, uma pequena redução nos dias 05 e 06 de abril, como se pode ver nos gráficos abaixo. Não se sabe se esta tendência vai prevalecer ao longo do mês, ou se reflete apenas uma subnotificação dos casos e das mortes por falta de insumos para realizar os testes. Tudo indica que o país tem um longo caminho pela frente. Os próximos dias e semanas, certamente, vão trazer luzes sobre as tendências na medida em que houver maiores informações dos pontos da série histórica.

O panorama global

O dia 06 de abril encerrou com 1,35 milhão de casos e 75 mil mortes registradas no mundo, com uma taxa de letalidade de 5,5%.

No dia 01 de março houve um aumento absoluto de 1.997 casos no mundo, com uma variação percentual de 2,3% ao dia. Estes números foram crescendo ao longo das semanas seguintes e atingiram um pico de aumento absoluto no dia 03 de abril, com 101,6 mil novos casos e uma variação percentual de 10% em relação ao dia anterior. O número de mortes foi de 3,1 mil fatalidades com variação de 2,5% no dia 01/03, atingindo o pico de 6 mil mortes no dia 03 de abril, com variação de 11,3%.

No dia 05/04 a variação absoluta foi de 71,4 mil novos casos, representando uma variação percentual de 6% em relação ao dia anterior e de 4,7 mil mortes com variação de 7,3%. No dia 06/04 os números foram 73,1 mil de aumento absoluto e de 5,7% de variação relativa e de 5,2 mil mortes com variação de 7,5% no dia.

Portanto, o mundo apresentou uma pequena redução no ritmo da pandemia, nos últimos dois dias, indicando uma estabilização ou até uma possível desaceleração global do surto provocado pelo minúsculo, mas devastador coronavírus.

Os gráficos abaixo confirmam que o pico da variação absoluta (gráfico da esquerda) ocorreu no dia 03 de abril tanto para os novos casos de infecção, quanto para as mortes. Já o da variação percentual (gráfico da direita) ocorreu no dia 24 de março para os registros das mortes e no dia 26 de março para os registros de novos casos. Portanto, parece que as medidas de isolamento social estão começando a surtir efeito e os dados sugerem que pode estar havendo uma tendência global de redução do ritmo da pandemia em abril. Mas tudo depende do sucesso das medidas preventivas adotadas.

America First!

Os Estados Unidos da América (EUA), que possuíam apenas 75 casos confirmados da Covid-19 no dia primeiro de março e estavam em décimo lugar no ranking dos países mais impactados pela pandemia, assumiram a liderança internacional e registraram 367 mil casos no dia 06/04 (ultrapassando 1 pessoa infectada para cada 1 mil habitantes). O número de casos nos EUA é 4 vezes maior do que os casos da China e 2,5 vezes maior do que os casos da Espanha, que está em segundo lugar neste triste campeonato. O número de mortes alcançou a cifra de 10,9 mil, no dia 06 de abril (atrás apenas da Espanha e da Itália).

A Itália e a Espanha já estão em nova fase

A Itália e a Espanha que estavam no epicentro da epidemia no mês de março, atingiram o zênite e já estão na fase de reversão da curva. O pico diário de casos na Itália foi no dia 21/03 (com 6.557 casos) e o pico diário de mortes foi no dia 27/03 (com 919 fatalidades). Na Espanha, o pico de casos foi no dia 26/03 (com 8271 casos) e o pico das mortes foi no dia 02/04 (com 961 fatalidades). Nos dois países as variações percentuais têm caído consistentemente e se encontram com as menores taxas percentuais dos últimos 34 dias. Parece que o pior já passou e ambos os países estão entrando na etapa do achatamento das curvas.

A África do Sul é o país mais atingido pela pandemia no continente africano

A África é o continente menos impactado pela pandemia, pelo menos até o momento. A África do Sul é o país africano que apresenta a maior incidência do surto. No dia 06 de abril, foram registrados 1.686 casos e 12 mortes.

San Marino

A República de San Marino – encravada no norte da Itália, perto do mar Adriático – se orgulha de ser considerado o Estado nacional mais antigo do mundo. Este minúsculo país, com apenas 33 mil habitantes, tão rico em história e com uma das maiores rendas per capita da Europa, está prestes a entrar nas estatísticas da atual pandemia como o primeiro país a ter 1% da sua população infectada pela Covid-19.

Dia da Terra

O Dia da Terra, criado em dia 22 de abril de 1970, comemora 50 anos em 2020. Estavam programadas grandes mobilizações de rua em todo o mundo em uma enorme demonstração de luta contra a emergência climática e ambiental. Contudo, a emergência da Covid-19 mudou os planos e o isolamento físico entre as pessoas inviabilizou as grandes aglomerações. Mas a crise ecológica continua e a luta ambiental também. No próximo dia 22/04 haverá uma enorme mobilização digital global, com conversas, apelos à ação, performances, ensinamentos em vídeo e muito mais.

*O demógrafo e pesquisador José Eustáquio Diniz publicará este diário com as tendências e os números da doença enquanto durar a pandemia da Covid-19.

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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