Diário da Covid-19: Mortalidade e dinâmica demográfica no Rio e em Petrópolis

Vítima da destruição em Petrópolis observa as ruínas e o trabalho dos bombeiros. Número de mortos na região já passa de 200 (Foto Gabriel Alves / Controluce via AFP)

Coeficiente de mortalidade no Rio de Janeiro e na cidade serrana é maior do que os índices registrados hoje no Brasil e no mundo

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 27 de fevereiro de 2022 - 10:33 • Atualizada em 1 de dezembro de 2023 - 18:20

Vítima da destruição em Petrópolis observa as ruínas e o trabalho dos bombeiros. Número de mortos na região já passa de 200 (Foto Gabriel Alves / Controluce via AFP)

A covid-19 tem afetado a dinâmica demográfica em todo o mundo, com aumento das mortes e diminuição dos nascimentos. Por conseguinte, há uma redução do crescimento vegetativo das diversas populações. O município de Petrópolis tem sido uma das cidades mais atingidas pela pandemia e, lastimavelmente, também tem sofrido com os desastres ambientais. O Rio de Janeiro é o estado brasileiro com maior coeficiente de mortalidade, como mostramos aqui no #Colabora, no Diário da Covid-19 de 13/02/2022.

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O gráfico abaixo, com dados de 25 de fevereiro, mostra que, enquanto o coeficiente de incidência global ficou em 54,9 mil casos por milhão, o coeficiente brasileiro atingiu 136,4 mil casos por milhão, sendo que o estado do Rio de Janeiro e a cidade de Petrópolis ficaram em uma situação intermediária, com cerca de 115 mil casos por milhão.

Mas, em termos de coeficiente de mortalidade, as diferenças são marcantes, com o mundo registrando 754 óbitos por milhão, o Brasil com 3,1 mil óbitos por milhão, o estado do Rio de Janeiro com 4,2 mil óbitos por milhão e Petrópolis com 5,2 mil óbitos por milhão.

Gráfico Rio e Petrópolis

O gráfico abaixo mostra o número de casos diários da covid-19 e a média móvel de 7 dias no estado do Rio de Janeiro entre 01 de abril de 2020 e 25 de fevereiro de 2022. Nota-se que o pico do número de contaminações do novo coronavírus ocorreu em janeiro passado, com grande redução em fevereiro de 2022. Porém, a média de 5,6 mil casos no dia 25/02 é a mais alta da curva epidemiológica de abril de 2020 a agosto de 2021.

O gráfico abaixo mostra o número de óbitos diários da covid-19 e a média móvel de 7 dias no estado do Rio de Janeiro, no mesmo período anterior. Nota-se que o pico do número de mortes ocorreu em abril de 2021 e o aumento ocorrido em janeiro de 2022 ficou bem abaixo dos picos anteriores. No dia 11 de fevereiro a média móvel de mortes estava em 92 óbitos diários e caiu para 61 óbitos em 25 de fevereiro.

Óbitos diários da covid-19 e média móvel de 7 dias no Rio de Janeiro, de 01/04/20 a 25/02/2022

Fonte dos dados: Ministério da Saúde do Brasil

O estado do Rio de Janeiro apresentou um grande crescimento demográfico nos últimos 150 anos, passando de 1,1 milhão de habitantes em 1872 (quando foi feito o primeiro censo demográfico) para 3,6 milhões em 1940 e 17,4 milhões de habitantes em 2020, um crescimento de 16 vezes entre 1872 e 2020 e um crescimento de 5 vezes entre 1940 e 2020. Mas o avanço demográfico já está desacelerando e deve se converter em decrescimento populacional a partir do final da década de 2030.

Sem dúvida, a pandemia afetou a dinâmica demográfica, com aumento dos óbitos, diminuição da natalidade e redução do crescimento vegetativo (nascimentos – mortes e migração zero). Nota-se, no gráfico abaixo, com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que, em 2018, o número de nascimentos no território fluminense foi de 224,9 mil bebês, o número de mortes foi de 143,6 mil óbitos totais e a variação vegetativa de 81,4 mil pessoas. Já em 2021, o número de nascimentos caiu para 192,5 mil, o número de mortes subiu para 188,6 mil e a variação vegetativa de somente 3,9 mil pessoas.

O gráfico abaixo mostra o número de casos diários da covid-19 e a média móvel de 7 dias na cidade de Petrópolis entre 01 de abril de 2020 e 25 de fevereiro de 2022. Nota-se que, assim como no estado do Rio de Janeiro, o pico do número de contaminações do novo coronavírus ocorreu em janeiro passado, com grande redução em fevereiro de 2022.

O gráfico abaixo mostra o número de óbitos diários da covid-19 e a média móvel de 7 dias em Petrópolis. Nota-se que o pico do número de mortes ocorreu em abril de 2021 e o aumento em janeiro de 2022 ficou bem abaixo dos picos anteriores. No dia 11 de fevereiro a média móvel de mortes estava em 3,1 óbitos diários e caiu para 1,3 óbitos em 25 de fevereiro.

A cidade de Petrópolis apresentou um crescimento demográfico significativo, passando de 75,4 mil habitantes em 1940 para 306,7 mil habitantes em 2020, um crescimento de 4 vezes em 80 anos.

O gráfico a seguir mostra que, em 2018, o número de nascimentos em Petrópolis foi de 4.234 bebês, o número de mortes foi de 3.081 óbitos e a variação vegetativa de 1.153 pessoas. Já em 2021, o número de nascimentos caiu para 3.413 bebês, o número de mortes subiu para 4.125 e houve uma variação vegetativa negativa de -712 pessoas. Foi o primeiro decrescimento populacional da história de Petrópolis.

O gráfico abaixo mostra as estatísticas vitais para Petrópolis, nos meses de janeiro e fevereiro de 2019 a 2022 (sendo que no corrente ano os dados vão de 01 de janeiro a 25 de fevereiro). Observa-se que o decrescimento demográfico foi ainda maior em 2022. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2019 o número de nascimentos em Petrópolis foi de 755 bebês, o número de mortes foi de 440 óbitos e a variação vegetativa de 315 pessoas. Já em 2022 (mesmo com dados preliminares e incompletos), o número de nascimentos caiu para 559 bebês, o número de mortes subiu para 757 e a variação vegetativa foi negativa, de – 198 pessoas.

Dentre o número de 757 mortes em Petrópolis de 01/01 a 25/02 de 2022 somente 42 foram óbitos registrados como sendo da covid-19. Além de outras causas de morte, o grande peso neste período ocorreu devido às vítimas da tragédia decorrente das chuvas e desastres ambientais de Petrópolis que somam 222 vítimas fatais até o dia 25 de fevereiro.

Mas grande parte das fatalidades poderia ter sido evitada se houvesse mais prevenção e planejamento e menos inércia e ineficiência governamental. Levantamento feito pela MapBiomas (G1, 23/02/2022) com base em imagens de satélite e dados do IBGE, mostra que as áreas ocupadas de forma irregular mais que dobraram em Petrópolis nos últimos 35 anos. Entre 1985 e 2020, houve um crescimento de 109% no espaço ocupado pelos “aglomerados subnormais”, classificação do IBGE para áreas como favelas, invasões e loteamentos irregulares. Evidentemente, ocupações em áreas de risco são vulneráveis a deslizamentos e inundações.

Portanto, a conjugação da emergência sanitária com a emergência climática tem sido fatal para a Cidade Imperial. O decrescimento populacional de Petrópolis de 2021 deve se repetir em 2022, mas o número de mortes pode cair e o número de nascimentos pode aumentar a partir de 2023. Contudo, no longo prazo, o decrescimento populacional no Brasil deve se generalizar para todas as escalas geográficas, pois o aprofundamento da transição demográfica significa o fim do crescimento populacional.

Panorama global e a situação de Rússia e Ucrânia

No dia 25 de fevereiro de 2022 o mundo atingiu 433 milhões de pessoas infectadas; a Europa, 156 milhões; o Brasil, 29 milhões; a Rússia, 16 milhões, e a Ucrânia, 5 milhões. O número de vítimas perdidas atingiu 5,94 milhões no mundo, 1,71 milhão na Europa, 648 mil no Brasil, 342 mil na Rússia e 112 mil na Ucrânia.

Já são mais de dois anos de pandemia e a maior proporção de casos aconteceu em janeiro de 2022, mas, felizmente, os números começaram a cair em fevereiro. O gráfico abaixo mostra que a Europa chegou a 2 mil casos por milhão de habitantes em janeiro e caiu para 1 mil casos em 25 de fevereiro. Na Rússia o número de casos caiu de 1,3 mil para 1 mil. Na Ucrânia caiu de 860 para 600 casos por milhão. No Brasil caiu de 860 para 430 casos por milhão. E no mundo, o número de casos caiu de 440 casos para 200 casos por milhão.

O gráfico abaixo mostra que, no dia 25 de fevereiro, a média de mortes no mundo estava em 1,2 óbito por milhão de habitantes; no Brasil, em 3,7 óbitos por milhão; na Europa, em 4,2 óbitos por milhão, e na Rússia e na Ucrânia, com os maiores coeficientes de mortalidade, com, respectivamente, 5,1 e 5,8 óbitos por milhão de habitantes.

O avanço da vacinação contra a covid-19 é a melhor notícia para garantir a continuidade da queda do número de casos e de óbitos da pandemia. O mundo chegou a 55% da população com imunização completa e 7,2% com vacinação parcial. O Brasil e a Europa apresentam números acima da média global, respectivamente, com 72% e 64% da população com vacinação completa. Já a Rússia e a Ucrânia possuem taxas de vacinação abaixo da média mundial. Na Rússia a vacinação completa está em 49% e a vacinação parcial, em 4,6%, enquanto na Ucrânia os valores são, respectivamente, 35% e 1%.

A Rússia e a Ucrânia estão em um momento crítico da pandemia, com alta proporção de casos e de mortes e baixa taxa de vacinação. Mas a guerra entre as duas nações soberanas, com tantas tradições comuns, é uma ação que está sendo condenada por quase todo o mundo, precisa ter um fim rápido, e a Rússia necessita interromper imediatamente a invasão da Ucrânia, pois o impacto humano e ambiental é dramático.

Além de garantir a paz e evitar vítimas de guerra, os esforços dos dois países devem ser direcionados para impedir a propagação comunitária do SARS-CoV-2 e reduzir o número de vidas perdidas para a covid-19. A movimentação de tropas e o deslocamento espacial da população civil cria um ambiente propício para a propagação do vírus. A conjugação de guerra e pandemia é um perigo para a segurança internacional e uma ameaça à vida e ao bem-estar da população mundial.

Frase do dia 27 de fevereiro de 2022

“Então eu pergunto: porque não dar uma chance para a paz?”

John Lennon (1940-1980)

Referências

ALVES, JED. Diário da Covid-19: A região Nordeste com a menor proporção de casos e óbitos, #Colabora, 13/02/2022

Alessandro Feitosa Jr. Ocupação irregular de áreas em Petrópolis mais do que dobrou entre 1985 e 2020, G1, 23/02/2022

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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