A onda de calor que elevou as temperaturas na semana do Natal, no Rio de Janeiro, São Paulo e em outros seis estados ao redor, no Sudeste, Centro-Oeste e Sul, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), deve se estender até a próxima segunda-feira (29). Para essas áreas, o órgão emitiu aviso vermelho, de grande perigo, o que significa temperaturas 5º C acima da média por mais de 5 dias e alta probabilidade de risco à vida, danos e acidentes.
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Neste domingo (28/12), a temperatura na cidade de São Paulo chegou a 37,2ºC, estabelecendo um novo recorde de calor para o mês de dezembro desde o início das medições, em 1943. O restante do estado de São Paulo também sofreu com muito calor neste domingo. A cidade de Pedro de Toleto teve temperatura de 42,1ºC. Miracatu teve 41,6ºC, Registro ficou com 39.8ºC.
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Veja o que já enviamosCom aumento do calor extremo, resultado especialmente das mudanças climáticas induzidas pelo homem, uma série de medidas são necessárias para diminuir o impacto na saúde. De acordo com o clínico geral e coordenador do Pronto Atendimento dos Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Luiz Fernando Penna, esse quadro tem potencial de gerar a falência térmica do corpo. “Essa é uma emergência médica caracterizada pela confusão mental, pele quente e seca e temperatura corporal acima de 40º C”, explicou o médico.
Se o corpo apresentar esses sinais e sintomas, é necessário buscar atendimento médico de imediato, advertiu o médico. Na avaliação do especialista do Sírio, o impacto do calor na saúde é subestimado. “Muitas pessoas acreditam que causa apenas mal-estar, mas estamos falando de riscos reais, que incluem desde quedas de pressão até falência térmica”, alertou.
Quando está muito quente, Penna explica que o corpo humano trabalha no limite. O organismo aumenta a sudorese, o que faz acelerar os batimentos cardíacos e dilata os vasos sanguíneos. “Esses mecanismos, porém, têm limite. E, quando falham, instala-se a falência térmica”, explicou.
O calor extremo também agrava o quadro de quem convive com doenças crônicas, tais como hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica (Dpoc) e doença renal crônica.
Pessoas que fazem uso de diuréticos, anti-hipertensivos, antidepressivos, anticolinérgicos e antipsicóticos também precisam redobrar a atenção. Os medicamentos podem aumentar a dilatação ou descontrolar a regulação térmica natural do corpo. “Para quem já tem uma condição de base, o calor impõe uma sobrecarga perigosa”, acrescentou o médico.
As altas temperaturas interferem ainda no sono, prejudicando o humor, aumentando a irritabilidade e reduzindo a produtividade, já que afetam o tempo de descanso, a memória e a tomada rápida de decisões.
Para essas situações, não basta se hidratar, é preciso se proteger, evitar a exposição entre 10h e 16h, usar roupas leves e claras, priorizar ambientes ventilados e não fazer exercícios físicos. Aqueles trabalhadores que não podem evitar sair no calor extremo, como profissionais da construção civil, de entregas e da coleta de lixo, devem fazer pausas frequentes nas horas mais quentes, recomenda.
“Não existe adaptação completa para ondas de calor extremas e repetidas“, explica Fernando Penna. “Acima de 35°C com alta umidade, o corpo humano simplesmente não consegue funcionar como deveria”. A recomendação do coordenador de pronto-socorro é evitar situações de riscos e reconhecer sinais precoces de falência térmica para evitar o colapso.
No Rio de Janeiro, já foi comprovado por pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, de fevereiro de 2025, que as altas temperaturas estão relacionadas ao aumento da mortalidade. O risco é maior para idosos e pessoas com alguma doença, como diabetes e hipertensão, além de Alzheimer, insuficiência renal e infecções urinárias.
O trabalho da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) analisou mais de 800 mil mortes entre 2012 e 2024. “A maioria dos estudos sobre calor e mortalidade concentra suas análises em doenças cardiovasculares e respiratórias”, disse, em nota, o pesquisador João Henrique de Araujo. “Todavia, há estudos que relatam esses efeitos também para doenças metabólicas, do trato urinário e doenças como Alzheimer, sobre as quais dissertamos”, acrescentou.
Os médicos têm algumas recomendações sobre o que fazer em casos de calor extremo: manter a casa fresca, protegendo a casa da entrada de calor, fechando portas, janelas e cortinas durante as horas mais quentes e abrindo de noite para refrescar, e usando ventiladores e aparelhos de ar-condicionado, se disponíveis, mas sem exagerar na regulagem do frio para não causar choque térmico; proteger-se do calor extremo na rua, não saindo durante os horários mais quentes, usando protetor solar, chapéus e guarda-chuvas quando estiver ao livre e evitando permanecer em ambientes fechados e sem circulação de ar, onde o calor se acumula e pode ser mais intenso do que ao ar livre; e manter-se fresco e hidratado, bebendo mais água, recusando bebidas (o álcool acelera a desidratação), usando tecidos respiráveis e evitando roupas escuras que pesadas retêm calor e dificultam a ventilação; e tendo cuidado com banhos gelados, que provocam efeito rebote e fazem o corpo aumentar a produção de calor.
