Diário da Covid-19: Brasil já é o 14º no ranking dos países mais atingidos

Nos EUA, um grafite do Prince Harry usando um casado mostra a inscrição: “Fique calmo e lave as mãos”. Foto Robyn Beck/AFP

No grupo do BRICS, país é atualmente aquele que apresenta as maiores taxas de crescimento do número de pessoas afetadas pelo coronavírus

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 8 de abril de 2020 - 11:06 • Atualizada em 11 de abril de 2020 - 10:03

Nos EUA, um grafite do Prince Harry usando um casado mostra a inscrição: “Fique calmo e lave as mãos”. Foto Robyn Beck/AFP

A terça-feira, dia 07 de abril, não trouxe boas notícias no controle da pandemia, nem no Brasil e nem no mundo. Não está havendo aceleração do surto em relação ao final do mês de março, mas o aumento dos casos e das mortes se mantém elevado e preocupa.

O panorama nacional e do BRICS

Há cerca de 20 dias, o Brasil estava na trigésima colocação no ranking mundial dos países mais afetados pela pandemia da covid-19. Ontem, no dia 07 de abril, o país atingiu 13,7 mil pessoas infectadas e 667 mortes, pulando para o décimo-quarto lugar no ranking dos países mais atingidos pelo novo coronavírus.

O aumento do número de pessoas que apresentam testes positivos bateu o recorde diário, com 1.661 casos e o número absoluto de fatalidades também atingiu o recorde diário com 114 mortes. A taxa de letalidade subiu para 4,9%. A variação relativa também aumentou com uma variação percentual diária de 13,8% para os casos e de 20,6% para as mortes. O flagelo do coronavírus no Brasil segue avançando acima do ritmo global.

Comparando com os demais países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil só fica atrás da China, que teve o pico da pandemia no mês de fevereiro e conseguiu estabilizar o crescimento do surto. Há um mês, o número de pessoas infectadas na China, no dia 07 de março, foi de 80,7 mil, passando para 81,8 mil no dia 07 de abril (um aumento de 1,01 vezes). O Brasil tinha 19 casos e passou para 13,7 mil no mesmo período (um aumento de 721 vezes). A Índia tinha 34 casos e passou para 5,4 mil (aumento de 157 vezes). A Rússia tinha 14 casos e passou para 7,5 mil (um aumento de 536 vezes) e a África do Sul tinha somente 1 caso em 07/03 e passou para 1,75 mil em 07/04 (aumento de 1,7 mil vezes), conforme gráfico abaixo.

Entre os países do grupo BRICS, o Brasil é atualmente aquele que apresenta as maiores taxas de crescimento do número de pessoas doentes pela Covid-19. O Brasil (com 210 milhões de habitantes), a Rússia (com 146 milhões de habitantes) e a Índia (com 1,38 bilhão de habitantes) apresentam taxas de crescimento do número de casos acima do crescimento médio global. Isto quer dizer que estes 3 países devem ultrapassar o número de casos da China no espaço máximo de um mês.

Comparando o número de mortes ocorridas nos países do grupo BRICS, o Brasil também só fica atrás da China, que teve o pico de mortalidade em fevereiro e conseguiu estabilizar o crescimento dos casos vitais. No dia 01 de abril, a China apresentou 3,31 mil mortes, passando para 3,33 mil em 07 de abril (1,01 vezes). O Brasil teve 240 mortes, passando para 667 mortes no mesmo período (2,8 vezes).  A Índia tinha 58 mortes, passando para 160 mortes (2,7 vezes). A Rússia tinha 24 mortes, passando para 58 mortes (2,4 vezes) e a África do Sul tinha somente 5 mortes, passando para 13 mortes (aumento de 2,6 vezes), conforme gráfico abaixo.

Também no caso da mortalidade, o Brasil é o país que apresenta as maiores taxas de crescimento entre as nações do BRICS e mantém um crescimento acima da média mundial. Além disto, considerando o mesmo grupo, o Brasil possui a maior taxa de letalidade (4,9 mortes para cada 100 casos), enquanto a África do Sul apresenta a menor taxa de letalidade (0,7 mortes para cada 100 casos).

O panorama global

O dia 07 de abril encerrou com 1,43 milhão de casos e 82 mil mortes registradas no mundo, com uma taxa de letalidade de 5,7%. O número absoluto de novos casos foi de 84,9 mil (6,3% em relação ao dia anterior) e o número absoluto de novas mortes foi de 7,4 mil (9,9% em relação ao dia anterior).

No mês de março, a Itália e a Espanha estavam na frente do ranking global dos países mais afetados pela pandemia da covid-19. Mas os EUA ultrapassaram todos os países e tiveram uma explosão do número de casos, atingindo a impressionante marca de 400 mil pessoas infectadas no dia 07 de abril (um aumento absoluto de 33,4 mil novos casos ou 9,1% em relação ao dia anterior). Outro destaque do dia 07/04 foi a França que atingiu 109 mil casos (com um aumento absoluto de 11 mil novos casos ou 11,3% em relação ao dia anterior).

O gráfico abaixo apresenta as curvas dos casos nos 5 países mais afetados pela pandemia de covid-19. O que se observa é que Itália, Espanha e Alemanha já estão conseguindo “achatar a curva” e desaceleram, em termos percentuais, o crescimento dos novos casos. Os EUA e a França também estão numa fase de desaceleração, porém apresentam ritmos de crescimento maiores em relação aos outros 3 países.

A Itália é o país que apresenta o maior número absoluto de mortes pela covid-19 (17,1 mil mortes no dia 07/04) e também a maior taxa de letalidade (12,6 mortes para cada 100 casos). A Espanha vem em segundo lugar com 14,1 mil mortes e uma taxa de letalidade de 9,9%. Já a Alemanha apresenta o menor número de mortes entre os países do topo do ranking (com 2 mil mortes) e também apresenta a menor taxa de letalidade (apenas 1,9%).

Os EUA estão em primeiro lugar disparado no número de casos, mas em terceiro lugar no número de mortes, com 12,8 mil casos em 07/04 e uma taxa de letalidade de 3,2%. Mas tudo indica que até o final da atual semana os EUA assumirão o primeiro lugar também no número de mortes, pois tiveram a maior variação absoluta diária no dia 07/04 (de 1,97 mil fatalidades).

A França está em quarto lugar no número de mortes, com 10,3 mil óbitos e uma taxa de letalidade de 9,5%. Porém, apresentou no dia 07/04 a segunda maior variação absoluta diária, com 1417 novas mortes. Um recorde para a Europa.

O gráfico abaixo mostra que estes 5 países mais impactados pela pandemia de Covid-19, mesmo que em níveis diferentes, conseguiram achatar a curva e continuam aumento o número de mortes, mas em um ritmo mais lento do que na segunda quinzena de março.

O panorama internacional mostra que os 5 países que estão no topo da tabela, tanto no número de casos, quanto no número de mortes, já apresentam uma certa desaceleração do ritmo do surto, enquanto os países do grupo BRICS (menos a China) e demais países do chamado Terceiro Mundo estão apresentando ritmos de aumento mais acelerados.

O isolamento na Suécia

A Suécia era, praticamente, o único país da Europa Ocidental que não adotou medidas rígidas de isolamento para pessoas e para reduzir o ritmo da economia. As autoridades de saúde suecas consideraram que já existia um certo isolamento vertical no país, pois, grande proporção dos idosos da Suécia moram sozinhos e já praticam, de certa forma, o distanciamento social. Até 31 de março o número diário de pessoas infectadas aumentava no máximo 400 casos por dia e o número de mortes não ultrapassava a casa de 30 óbitos. Mas os números mudaram e a Suécia apresentou 487 casos e 114 mortes no dia 07 de abril. Com uma população de 11 milhões de habitantes, o país nórdico já pensa em adotar medidas mais restritivas para conter a pandemia.

Andorra e Vaticano

A República de San Marino não está sozinha no caminho para ser um país com 1% da sua população infectada pela covid-19. Outros dois países pequenos, ricos e encravados na Itália, não ficam para trás. Andorra, com 6.700 habitantes registrou 550 casos e 22 mortes e o Vaticano, com 800 pessoas, registrou 7 casos e nenhuma morte, segundo o site WorldOmeters.

Egito

Depois da África do Sul, o Egito (com uma população de 102 milhões de habitantes) é o país africano com maior potencial de crescimento do surto do novo coronavírus no continente. O número de pessoas infectadas está em 1.450 casos e o número de mortes em 94. Mas estes números estão crescendo a cerca de 10% ao dia e o Egito – que já foi vítima de tantas pragas bíblicas – pode estar no limiar de expansão descontrolada da atual pandemia.

Emergência Climática e a COP-26

A covid-19 adiou a COP-26. A emergência global de saúde pública adiou o enfrentamento da emergência climática e ambiental.

A 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26), foi adiada para 2021 por causa da pandemia de coronavírus. A conferência deveria ser celebrada na cidade escocesa de Glasgow, em novembro, para lidar com as regras de aplicação do Acordo de Paris, no sentido de reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) para mitigar o grave problema do aquecimento global. Trinta mil pessoas, inclusive 200 líderes mundiais, deveriam comparecer à cúpula da ONU, com dez dias de duração.

As emissões de CO2 precisam cair 45% até 2030, para evitar que a temperatura global ultrapasse 1,5º C. O fato é que a paralisação da economia internacional tem possibilitado a redução das emissões de GEE, reduzido a poluição das cidades e até viabilizado a restauração de muitas áreas que estavam em confronto direto com a vida selvagem. A lição que podemos aprender com a emergência da saúde pública é que é preciso uma ampla mobilização das pessoas, das empresas e dos governos para evitar uma catástrofe. A emergência da covid-19 vai passar. Mas a emergência climática e ambiental vai durar décadas ou até séculos.

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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