ODS 1
Menos chuva leva Amazônia a registrar mais doenças respiratórias
Pesquisadores da UFRJ constatam que diminuição das chuvas na Região Amazônica aumenta número de internações por doenças respiratórias
*Juliana Passos
A Região Amazônica está cada vez mais seca, e a diminuição da quantidade de chuvas tem influência direta na saúde da população, com reflexo no aumento de 27% nas internações provocadas por doenças respiratórias. Essa foi a conclusão de um estudo realizado pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) do Departamento de Meteorologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A equipe trabalhou com dados de satélite e da estação em terra coletadas pelo Instituto de Controle do Espaço Aéreo (Icea), ligado ao Ministério da Defesa, cruzados com o número de internações fornecidas pelo Sistema Único da Saúde (SUS) na cidade de Porto Velho.
A pesquisa resultou em artigo na revista Ecological Indicators, publicado na edição de fevereiro. “Os dados reunidos para a pesquisa são de Porto Velho, por ser a cidade de maior densidade populacional da Amazônia legal e a terceira maior em população da Região Norte”, explica Fausto Machado da Silva, um dos coordenadores do estudo. Ele contou com bolsa de pós-doutorado da FAPERJ para o desenvolvimento do trabalho, que também foi financiado pelo Instituto Serrapilheira, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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O biólogo acrescenta que a capital do estado de Rondônia também é a cidade com os dados meteorológicos mais completos da região, lembrando que a mesma sofreu grandes desmatamentos desde a década de 1970. “Percebemos que o período de seca está cada vez mais severo e prolongado. E as internações relacionadas a doenças respiratórias ocorrem principalmente nos períodos de seca, enquanto as queimadas ocorrem ao longo do ano”, diz o pesquisador, fazendo ressalvas sobre o impacto das queimadas no aumento do número de internações. “As alterações dos padrões de seca que geram mais internações pode estar associado ao desmatamento, às queimadas e outros impactos antropogênicos relacionados às mudanças climáticas e globais. As queimadas são prejudiciais ao ecossistema, mas nosso estudo mostrou que elas têm menor impacto no número de internações que as secas, porque houve uma rara dissociação entre as queimadas e as secas no período estudado. Quando ambas são associadas, o efeito pode ser ainda mais intenso”, comenta.
[g1_quote author_name=”Fausto Machado da Silva” author_description=”Pesquisador da Departamento de Meteorologia do Instituto de Geociências” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]As alterações dos padrões de seca que geram mais internações pode estar associado ao desmatamento, às queimadas e outros impactos antropogênicos relacionados às mudanças climáticas e globais. As queimadas são prejudiciais ao ecossistema, mas nosso estudo mostrou que elas têm menor impacto no número de internações que as secas, porque houve uma rara dissociação entre as queimadas e as secas no período estudado. Quando ambas são associadas, o efeito pode ser ainda mais intenso
[/g1_quote]Outro dado que chama a atenção é a diminuição das internações por asma com o aumento da seca. “Nesse caso, a queda da natalidade na região, entendida como um fator de maior planejamento familiar e, consequentemente, do aumento do IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], que aponta melhoria social, também influenciaram na diminuição do número das internações”, disse.
O trabalho também aponta para o impacto das mudanças climáticas para a população mais pobre e a necessidade da manutenção da vegetação para garantir a integridade do ciclo hidrológico para a conservação de corpos d’ água e umidade do ar, regulada pela evapotranspiração das plantas. “A redução do desmatamento e a recuperação de áreas degradadas são importantes e poderiam diminuir os efeitos locais das oscilações climáticas e da intensidade de uma seca local. Também entendemos que os investimentos em áreas sociais são importantes, uma vez que as cidades mais afetadas são cidades com menor IDH”, conclui o pesquisador.
*Da Faperj
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.
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Este texto foi produzido e publicado originalmente no boletim da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro