Pressões políticas derrubam secretária de Ambiente do Rio

Ana Lúcia Santoro em audiência pública na Assembleia Legislativa: secretário de Ambiente pede demissão por ingerências políticas (Foto: Suellen Lessa/Alerj)

Bióloga Ana Lúcia Santoro deixa cargo após investida de grupo ligado ao deputado Altineu Cortes, que vai assumir o posto

Por Emanuel Alencar | ODS 16 • Publicada em 17 de dezembro de 2019 - 17:56 • Atualizada em 17 de fevereiro de 2020 - 20:07

Ana Lúcia Santoro em audiência pública na Assembleia Legislativa: secretário de Ambiente pede demissão por ingerências políticas (Foto: Suellen Lessa/Alerj)
Ana Lúcia Santoro em audiência pública na Assembleia Legislativa: secretário de Ambiente pede demissão por ingerências políticas (Foto: Suellen Lessa/Alerj)
Ana Lúcia Santoro em audiência pública na Assembleia Legislativa: secretário de Ambiente pede demissão por ingerências políticas (Foto: Suellen Lessa/Alerj)

A tão comemorada nova gestão ambiental do Estado Rio, com recorde de mulheres no primeiro escalão e nomeações técnicas, resistiu menos de um ano. Na última segunda-feira (16), a secretária estadual do Ambiente, Ana Lúcia Santoro, pediu exoneração do cargo. O deputado federal Altineu Cortes (PR-RJ) foi anunciado no mesmo dia como novo titular do órgão ambiental fluminense. Não está descartada também nova mudança no comando do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), hoje a cargo de Carlos Henrique Vaz, indicado pelo secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, Lucas Tristão. 

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Foi acima de tudo um aprendizado enorme. Uma bióloga, doutora em ecologia, com pouquíssima experiencia na máquina pública e muita vontade de fazer a diferença. E fiz

Nesta terça-feira, Ana Lúcia fez um texto de despedida nas redes sociais, no qual não cita o nome do governador Wilson Witzel. “Foi acima de tudo um aprendizado enorme. Uma bióloga, doutora em ecologia, com pouquíssima experiencia na máquina pública e muita vontade de fazer a diferença. E fiz”, escreveu Ana Lúcia. “E a luta continua! Porque a luta na causa ambiental vale a pena”.

Com a saída de Ana Lúcia, o governo Witzel mira as eleições de 2020. Sem a bióloga, ficam fragilizados os nomes técnicos indicados por ela, como o das subsecretárias Renata Bley Oliveira (Recursos Hídricos), Eline Martins (Conservação Ambiental e Clima), e Juliana Velloso (superintendente de Sustentabilidade). Até a tarde desta terça-feira, elas permaneciam nos cargos, mas a situação da equipe é considerada insustentável.

As profundas mudanças na Secretaria do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e no Inea começaram em outubro, quando o então presidente do Inea, Cláudio Dutra, deixou o cargo e retornou ao comando da Rio-Águas, autarquia municipal, a convite de Marcelo Crivella. Em entrevista a ((o))eco na ocasião, Cláudio disse que preferira sair “a aceitar certas condições”.

Como Cláudio havia sido o esteio para a nomeação de Ana Lúcia, a sua queda fragilizou a bióloga, que acabou sem respaldo para tocar uma agenda divorciada das questões político-partidárias. “A saída de Ana Lúcia representa a velha politicagem vencendo a gestão técnica. O governador ficou surpreso (com o pedido de exoneração), mas não bancou sua permanência. É infelizmente um caminho irreversível”, diz um servidor, sob condição de anonimato.

Bióloga e doutora em Ecologia, Ana Lúcia Santoro, de 34 anos, trabalhou na Fundação Rio-Águas e na Secretaria Municipal de Conservação do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, antes de assumir o cargo no governo do estado. Após seu pedido de demissão, apareceu como mais cotado para o cargo o deputado federal Altineu Cortes (PL, ex-PR), logo confirmado. Sua posse será, nesta quarta (18/12). Reeleito no ano passado para a Câmara com 55.367 votos para seu segundo mandato, Altineu foi deputado estadual por três vezes, mas não tem histórico de atuação na área ambiental.

Há um mês, entretanto, o deputado conseguiu emplacar o primo Fabio Dalmasso, como diretor de Licenciamento Ambiental (Dilam), do Inea – um nomeação fora do padrão técnico que vinha sendo mantido na Secretaria de Ambiente. O jornal “O Globo” mostrou que Fabio, morador de Niterói, foi condenado por falsificação de assinatura de documento público, mas teve a prisão convertida em prestação de serviços comunitários e já cumpriu a sentença.

Segundo o site Congresso em Foco, Altineu Cortes, que em base eleitoral no município de São Gonçalo, e outros 13 parlamentares são investigados no STF por terem atuado com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na alteração de medidas provisórias de interesse de empreiteiras investigadas na Lava Jato ou para pressionar empresários por meio de requerimentos. Ele nega a irregularidade e diz que era adversário político de Cunha. Em 2004, foi secretário de Infância e Juventude do governo de Rosinha Garotinho.

 

Emanuel Alencar

Jornalista formado em 2006 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou nos jornais O Fluminense, O Dia e O Globo, no qual ficou por oito anos cobrindo temas ligados ao meio ambiente. Editor de Conteúdo do Museu do Amanhã. Tem pós-graduação em Gestão Ambiental e cursa mestra em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Apaixonado pela profissão, acredita que sempre haverá gente interessada em ouvir boas histórias.

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