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Desmatamento e queimada na terra indígena Uru-Eu Wau-Wau, em Rondônia: áreas de preservação ameaçadas por projetos de lei e por invasões (Foto: Marizilda Cruppe – 18/09/2019)

Polícia Federal prende cúpula de associação rural de Campo Novo de Rondônia acusada de grilar terras em área indígena

Por Marizilda Cruppe | ODS 15 • Publicada em 18 de setembro de 2019 - 19:24 • Atualizada em 19 de setembro de 2019 - 12:53

Desmatamento e queimada na terra indígena Uru-Eu Wau-Wau, em Rondônia: áreas de preservação ameaçadas por projetos de lei e por invasões (Foto: Marizilda Cruppe – 18/09/2019)
Imagem de desmatamento e queimada na terra indígena Uru-Eu Wau-Wau, na região conhecida como Grotão, em Campo Novo de Rondônia.Foto Marizilda Cruppe
Imagem de desmatamento e queimada na terra indígena Uru-Eu Wau-Wau, na região conhecida como Grotão, em Campo Novo de Rondônia.Foto Marizilda Cruppe

(Campo Novo, Rondônia) – Dois carros com equipes da polícia federal circulavam ontem desde cedo pelas estradas de terra seca do município de Campo Novo, em Rondônia, para cumprir mandados de prisão preventiva dos principais líderes da Associação de Produtores Rurais de Rio Bonito (ASPRORIB). A ação, que recebeu o nome de “Terra Protegida”, faz parte da operação VerdeBrasil, de combate ao desmatamento, queimadas, ameaças a servidores públicos e invasões no Parque Nacional de Pacaás Novos e na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, nos municípios de Nova Mamoré e Campo Novo.

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Em fiscalizações realizadas nos últimos dois anos, servidores do Instituto Chico Mendes para a Biodiversidade (ICMBio), polícias federal e ambiental, Exército e Funai, encontraram acampamentos de invasores e até uma sede da ASPRORIB construída dentro do Parque Nacional de Pacaás Novos e da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau – as duas áreas federais são sobrepostas em boa parte de seus territórios. Nas operações foram apreendidos aparelhos de GPS, armas, celulares, dezenas de motos e vários mapas que ligavam as cabeceiras dos rios Ouro Preto e Jaci-Paraná. Os mapas indicavam um loteamento em execução pelos grileiros que somava sessenta e cinco mil hectares.

Por meio de um discurso falso de regularização fundiária e a criação de associação de produtores rurais, os líderes do grupo recrutaram pessoas para invadir e demarcar lotes no interior das reservas. Em seguida, os investigados desmataram e queimaram grande parte da vegetação nativa na localidade onde seria instalada uma vila

Os mandados expedidos pela Justiça Federal em Guajará-Mirim resultaram na prisão, entre outros, de Stable de Almeida Favaro Queiroz, conhecido na região como Queiroz, e apontado como um dos grandes desmatadores das áreas protegidas. Em nota, a Polícia Federal diz que “Por meio de um discurso falso de regularização fundiária e a criação de associação de produtores rurais, os líderes do grupo recrutaram pessoas para invadir e demarcar lotes no interior das reservas. Em seguida, os investigados desmataram e queimaram grande parte da vegetação nativa na localidade onde seria instalada uma vila.”

Os mapas, apreendidos com os invasores, indicavam um loteamento em execução pelos grileiros que somava sessenta e cinco mil hectares.Foto Reprodução
Os mapas, apreendidos com os invasores, indicavam um loteamento em execução pelos grileiros que somava sessenta e cinco mil hectares.Foto Reprodução

O roubo de madeira e a caça ilegal sempre ocorreram no Parque e na Terra Indígena. No entanto, desde 2016 foi identificao um esquema organizado de grilagem de terras e roubo de madeira na região. A máfia da tora passou a usar telefones por satélite e a adotar uma comunicação rápida para avisar os invasores sobre as fiscalizações. Mais recentemente, os servidores federais passaram a ser ameaçados com mais frequência, com o registro de alguns confrontos. Em um deles, os invasores chegaram a reunir um grupo de quarenta pessoas para enfrentar servidores e policiais.

Na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em áreas conhecidas como Grotão e Terra Roxa, foram descobertos mais de 30km de estradas usadas para o roubo de madeira entre os anos de 2016 e 2017. Ontem, em um sobrevoo de drone no Grotão, foram vistas áreas de desmatamento e queimadas recentes e muita fumaça suspensa, o que indica que a terra indígena ainda arde em chamas.

Na região do rio Jaci, onde as áreas federais pertencem ao parque e à terra indígena, a situação é ainda mais dramática. Com a atuação forte do grupo da ASPRORIB e de grileiros avulsos centenas de hectares de floresta  foram desmatados, abrindo as portas para a destruição do maior mosaico de conservação de Rondônia. Se os grileiros conseguirem avançar pela região do Jaci conseguirão destruir as últimas unidades de conservação do estado, pois vão passar a atacar as reservas a partir do interior.

O trabalho da Funai para proteção de índios isolados atua com a vigilância e a fiscalização das áreas de invasão da terra indígena no extremo sul, onde têm ocorrido desmates frequentes, como o caso recente das cento e onze toras encontradas na semana passada e noticiado pelo #Colabora.

Hoje, quarta-feira, as equipes de fiscalização acompanhadas de militares da operação VerdeBrasil destruíram mais um barraco escondido na mata que havia sido identificado num sobrevoo de helicóptero. Também constataram que várias derrubadas recentes foram queimadas.

Bom Futuro

Ontem, um grupo que vinha sendo apontado pelas investigações como responsável pela invasão da Floresta Nacional do Bom Futuro, em outubro de 2018, se entregou à polícia. Ele é formado por Dionísio Luiz Gomes de Oliveira, José Reginaldo Alves, Jaqueline dos Santos e Delson Pinto de Souza. Na semana passada, cumprindo determinação judicial, o acampamento Boa Esperança foi destruído e a área reintegrada à unidade de conservação. As cerca de sessenta famílias que ainda permaneciam no local foram removidas para a vila de Rio Pardo e para o município de Alto Paraíso. Os grileiros presos se juntam a Delson Pinto de Souza, preso pela polícia federal na semana passada, acusado de ser um dos líderes da invasão e de ameaçar as famílias que desejavam sair do acampamento, obrigando-as a permanecer no local.

Marizilda Cruppe

​Marizilda Cruppe tentou ser engenheira, piloto de avião e se encontrou mesmo no fotojornalismo. Trabalhou no Jornal O Globo um bom tempo até se tornar fotógrafa independente. Gosta de contar histórias sobre direitos humanos, gênero, desigualdade social, saúde e meio-ambiente. Fotografa para organizações humanitárias e ambientais. Em 2016 deu a partida na criação da YVY Mulheres da Imagem, uma iniciativa que envolve mulheres de todas as regiões do Brasil. Era nômade desde 2015 e agora faz quarentena no oeste do Pará e respeita o distanciamento social.

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