ODS 1
Tragédia causada pelas chuvas no Rio evidencia racismo ambiental
ONGs e ministra apontam que população negra e de baixa renda é sempre a mais afetada pelos temporais; mortos chegam a 12, a maioria por afogamento
A tragédia causada pelas chuvas que atingiram, neste final de semana, a Zona Norte do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense, deixando pelo menos 12 pessoas mortas, evidencia a desigualdade na Região Metropolitana em termos de acesso a serviços como saneamento básico e a moradia digna. O sociólogo e antropólogo Thales Vieira, codiretor-executivo do Observatório da Branquitude, trata-se de uma tragédia anunciada, já que esta época do ano é de temporais e, mesmo assim, medidas efetivas não são tomadas: “Na prática, essa população é deixada para morrer”, afirmou.
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As fortes chuvas no Rio de Janeiro provocaram inundações e deslizamentos de terra em vários municípios do estado: a capital e mais três municípios da Baixada Fluminense – Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João do Meriti – tiveram a situação de emergência reconhecida pelo governo federal. Pessoas perderam as casas, que ficaram alagadas, e todos os pertences. Dos 12 mortos, cinco morreram por afogamento na enchente; “Uma tragédia que toda hora a gente sabe que vai ocorrer com maior ou menor potencial de produzir vítimas fatais, mas a gente sabe que todo ano vai ocorrer essa tragédia, sobretudo na Baixada Fluminense”, acrescentou Vieira à Agência Brasil.
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Veja o que já enviamosVieira ressalta que a tragédia atingiu principalmente um recorte específico da população, a população negra e de baixa renda. “Por isso que a gente fala que o racismo ambiental é produto de uma intenção efetiva de não produção de políticas para essas populações de não participação dessas populações das decisões que são tratadas de políticas que efetivamente são feitas ou não são feitas, que essa também é uma forma de fazer política, a omissão é uma forma também de fazer política, então essas políticas que não são feitas também para benefício dessa população. Então na prática essa população é deixada para morrer, efetivamente”, destacou o sociólogo.
Segundo Vieira, para mudar a situação é preciso garantir, sobretudo às regiões mais pobres, acesso ao saneamento básico e fazer obras para o escoamento efetivo de água, em regiões de alagamento. Para ele, falta vontade política daqueles que acabam se beneficiando com medidas assistencialistas. “Não pode falar que não esperava esse volume de chuva. A gente já sabe que ela vai acontecer. Então essas políticas precisam ser feitas, sobretudo de saneamento básico”, destaca.
O coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, também criticou a atuação dos governos. “Mais uma vez, cenas de destruição se repetem no Rio de Janeiro e ainda precisamos lidar com as mesmas justificativas por parte do governo e das prefeituras, que alegam surpresa para este tipo de evento climático”.
Travassos também ressalta que as vítimas das chuvas são, na grande maioria, pessoas negras e periféricas. “Diante de eventos como esse, fica cada vez mais perceptível que não estamos lidando somente com o despreparo dos governos no enfrentamento à emergência climática, mas com uma escolha política que viola o direito constitucional à vida. O que vemos é a inexistência de ações de prevenção, planos de adaptação às mudanças climáticas ou estrutura do Estado para responder aos eventos extremos. E é justamente por causa disso que hoje assistimos pessoas perdendo tudo, inclusive suas vidas”, diz.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou, através de sua conta no Twitter, que governo federal e poderes locais estão agindo em conjunto pra redução dos danos causados pelas chuvas, mas também ressaltou que a tragédia evidencia o racismo ambiental. “Quando a gente olha os bairros e municípios que foram mais atingidos, como Acari, São João de Meriti, Anchieta, Albuquerque e Nova Iguaçu, a gente vê algo que eles todos têm em comum, que são áreas mais vulneráveis. Qual a cor da maioria das pessoas que vivem nesses lugares? Que mais uma vez estão ali perdendo suas casas, seus comércios, seus empregos, seus sonhos, sua esperança e sua vida com um todo?”, questiona a ministra.
O ministério tem agido, de acordo com Franco, para que isso não volte a acontecer e para que as famílias recebam apoio. Segundo a ministra, a pasta está desde cedo em contato tanto com autoridades locais quanto com outras áreas do governo federal como os Ministérios das Cidades, do Desenvolvimento Regional, e do Desenvolvimento Social. A ministra também convoca a população a ajudar os atingidos pela tragédia. Anielle e representantes de outros ministérios estiveram no Rio nesta terça (16/01) para se reunir com o governador Claudio Castro e com prefeitos para discutir ações conjuntas.
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Agência Brasil
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