Seca recorde no Rio Paraguai dificulta combate a incêndios no Pantanal

Rio Paraguai com nível mais baixo da história em Cáceres: seca ameaça navegação e dificulta combate a incêndios (Foto: Defesa Civil/MT)

Sem chuva há mais de dois meses, nível do rio está mais baixo do que em 2020; número de queimadas teve redução mas estiagem severa preocupa

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 16 de agosto de 2021 - 09:05 • Atualizada em 19 de agosto de 2021 - 11:02

Rio Paraguai com nível mais baixo da história em Cáceres: seca ameaça navegação e dificulta combate a incêndios (Foto: Defesa Civil/MT)

O nível d’água do Rio Paraguai registrado na estação fluviométrica de Cáceres, em Mato Grosso, atingiu nesta sexta-feira, 13/08/2021, a mínima histórica com 48 centímetros. Até então, a mínima histórica desta estação era de 50 cm registrada em 10 de outubro de 2020. O recorde em Cáceres – onde o nível de água médio para o dia é de 161 centímetros – está sendo acompanhado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) que aponta “zona de atenção para mínimas” também nas estações de Bela Vista do Norte, Porto São Francisco, Ladário, Forte Coimbra e Porto Murtinho.

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De acordo com o SGB-CPRM, a seca no Bacia do Paraguai, que abriga o Pantanal, é ainda pior que a do ano passado quando o bioma teve cerca de 30% de sua área queimada: foram 21 mil focos de incêndio. Na semana em que o rio atingia seu nível mais baixo desde 1967 em Cáceres, bombeiros e brigadistas enfrentavam em incêndios nos dois lados do Pantanal. Ao sul, o fogo atingiu o Parque Nacional da Serra da Bodoquena – unidade de conservação abrange os municípios de Bodoquena, Porto Murtinho, Bonito e Jardim, em Mato Grosso do Sul. Especialistas apontam que a área queimada passa de cinco mil hectares. Ao norte, os bombeiros de Mato Grosso precisaram de quase uma semana para controlar o fogo que consumiu dois mil hectares de vegetação, em área próximo à Rodovia Transpantaneira, no município de Poconé.

O boletim semanal de monitoramento da estiagem na Bacia do Rio Paraguai, emitido na sexta-feira à noite, indica que o nível do rio chegou a 65 centímetros na estação de Ladário (MS), uma queda de 30 centímetros em duas semanas. Considerada um termômetro da situação de seca no Pantanal, a estação está registrando sua quinta pior vazante desde 1901 (quando começaram as medições ali) – o nível esperado para esta época do ano é acima de quatro metros (400 cm).

Nas estações de Porto Murtinho e Forte Coimbra, o rio está em níveis negativos. Em Porto Murtinho, de acordo com SGB-CPRM, a seca está entre as 10% piores da série histórica, que data de 1937. Em Forte Coimbra, que registrou -56 cm, bancos de areia aparecem no leito do rio, dificultando cada vez mais a navegação.

Em reunião virtual semana passada na Sala de Crise do Pantanal da Agência Nacional de Águas (ANA), o geólogo Marcus Suassuna, pesquisador do SGB-CPRM alertou que a Bacia do Rio Paraguai caminhava para “o terceiro ano consecutivo com déficit significativo de chuvas”. De acordo com as projeções do órgão, a estação de Ladário deve atingir a mínima de – 44 centímetros por volta de 20 de outubro; no ano passado, a mínima ficou em – 32 centímetros. O SGB-CPRM aponta para riscos no abastecimento de água da região.

Bombeiros de Mato Grosso combatem fogo próximo à Transpantaneira: seca extrema no Pantanal dificulta trabalho (Foto Mayke Toscano/Secom/MT)
Bombeiros de Mato Grosso combatem fogo próximo à Transpantaneira: seca extrema no Pantanal dificulta trabalho (Foto Mayke Toscano/Secom/MT)

Seca no Rio Paraguai, fogo no Pantanal

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), há áreas do Pantanal, tanto no Mato Grosso quanto no Mato Grosso do Sul, onde não chove desde o começo de junho. Esses mais de 60 dias de estiagem dificultam o combate aos incêndios apesar de, em julho de 2021, o Pantanal ter registrado 508 focos de incêndio, de acordo com o Programa Queimadas, do Inpe, menos de um terço dos registrados no mesmo mês, no ano passado.

A seca facilitou que o fogo se espalhasse no entorno do Parque da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul, onde bombeiros e brigadistas enfrentam o incêndio em três frentes. Integrantes da Brigada Nacional Wellington Peres, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), sediada em Brasília, foram deslocados para ajudar no combate ao fogo na unidade de conservação. De acordo com o ICMBio, o incêndio está prestes a ser controlado.

Em Mato Grosso, o maior incêndio florestal registrado em 2021 começou sábado, 07/08, em uma propriedade particular na região da Estrada Parque Transpantaneira, em Poconé (a 104 km de Cuiabá) e foi controlado pelo Corpo de Bombeiros nesta sexta (13/08). Para conter o fogo, que atingiu dois mil hectares, os bombeiros tiveram apoio de duas aeronaves e reforço de moradores e empresas da região que cederam caminhões-pipa, tratores e caminhonetes.

Ambientalistas do Pantanal confiam que, apesar da estiagem mais grave, o desastre causado pelo fogo tende a ser menor em 2021. “Temos um controle bem mais efetivo dos governos estaduais e também uma conscientização muito grande dos atores da região levando em conta o tamanho da catástrofe em 2020”, avaliou Cássio Bernardino, coordenador de projetos do WWF-Brasil, em entrevista à TV Morena.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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