Seca extrema na Amazônia: Rio Negro atinge mínima histórica

Estiagem no Amazonas já impacta a vida de 747.642 pessoas em todo o estado; pelo menos, outros cinco rios já chegaram ao menor nível da história

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 4 de outubro de 2024 - 09:44 • Atualizada em 4 de outubro de 2024 - 16:09

Embarcações encalhadas no leito seco do Rio Negro: trecho que banha Manaus registrou a maior seca desde 1902, ano em que se iniciaram as medições no local (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace)

O Rio Negro alcançou 12,68 metros às 18h desta quinta-feira (3), registrando o nível mais baixo e a maior seca desde 1902, ano em que se iniciaram as medições em Manaus, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB). O menor nível já registrado no Rio Negro, na região da capital amazonense, havia de 12,7 m em 26 de outubro de 2023: são dois anos consecutivos de seca extrema na Amazônia. Desde 1º de outubro, ele tem secado 14 cm por dia, mas chegou a secar mais de 25 cm por dia na primeira semana de setembro. Isso significa que o rio continuará secando nos próximos dias.

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O Rio Negro percorre mais de 1,3 mil km do território brasileiro e é o maior afluente da margem esquerda do Rio Amazonas, o maior rio em vazão do mundo. “A seca chegou mais cedo em várias regiões da Amazônia em 2024. Ela também está mais severa e mais extensa este ano. Importantes rios da região sequer tinham se recuperado da seca histórica do ano passado quando foram atingidos pelo atual estiagem. De maneira geral, quase todas as bacias da Amazônia enfrentam recorde de estiagem em algum trecho”, afirmou o geógrafo Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil – a organização sobrevoou o leito do Rio Negro para mostrar a estiagem.

Bancos de areia avançam pelo leito do Rio Negro: mais de 700 mil pessoas afetadas pela seca extrema no Amazonas (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace)
Bancos de areia avançam pelo leito do Rio Negro: mais de 700 mil pessoas afetadas pela seca extrema no Amazonas (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace)

A seca histórica que atinge o estado do Amazonas já impacta a vida de 747.642 pessoas em todo o estado, segundo o boletim sobre a estiagem divulgado pela Defesa Civil na segunda-feira, dia 30 de setembro de 2024. Todos os municípios do estado estão em situação de emergência. “Depois de sofrer com queimadas e muita fumaça, agora Manaus passa pela maior seca da sua história, com o menor nível já registrado no Rio Negro. Todos sofrem com este cenário de evento climático extremo, mas principalmente as populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas e periurbanas de Manaus. É urgente garantir o acesso dessa população à água, alimentação, saúde, transporte, educação e acesso às zonas eleitorais no próximo final de semana, quando ocorrem as eleições municipais”, acrescentou Batista.

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Em setembro, devido à estiagem extrema, a Prefeitura de Manaus declarou situação de emergência por 180 dias e interditou a Praia da Ponta Negra, após o Rio Negro ultrapassar a cota mínima de segurança de 16 metros. Além da capital, os 61 municípios do Amazonas também enfrentam uma situação de emergência devido à seca. Segundo a Defesa Civil, todas as calhas de rios do estado estão em estado crítico de vazante. A seca levou 29 escolas da zona rural, localizadas ao longo do Rio Negro, a suspender as aulas no fim de setembro.

Segundo dados levantados pelo Greenpeace Brasil, pelo menos outros cinco rios da Amazônia atingiram mínimas históricas com a seca extrema de 2024: Rio Solimões, em Tabatinga, Boa Fé e Coari Amazonas; Rio Madeira, na região de Porto Velho e Humaitá, Rondônia; Rio Tapajós, na região de Itaituba, no Pará; Rio Xingu, em Pedra do Ó, Pará; e Rio Acre, no Acre.

Nível do Rio Negro em baixa histórica em Manaus: impacto na vida da capital (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace)
Nível do Rio Negro em baixa histórica em Manaus: impacto na vida da capital (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Em toda orla de Manaus, o cenário repete 2023. Além do Rio Negro, afluentes e lagos que cortam a capital amazonense também secaram. Na Marina do Davi, ponto de partida de pequenas embarcações para as comunidades que ficam no entorno de Manaus, um trajeto de barco que durava, em média, 10 minutos, está levando mais de duas horas para ser concluído. No Porto da Capital, bancos de areia surgiram no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem e ficando cada vez mais longe do local onde costumavam atracar, próximo à pista.

Boletim divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil no fim da semana passada, aponta que o Rio Negro pode ficar abaixo dos 12 metros na vazante histórica deste ano.”As descidas estão muito acentuadas em Manaus e, se continuar com essa média de descida de 19 cm por dia, em uma semana poderemos ultrapassar a marca histórica – que é de 12,7 m registrada em 2013 – e, nas próximas semanas, o Rio Negro pode ficar abaixo dos 12 m”, alertou o pesquisador em geociências Artur Matos, coordenador nacional dos Sistemas de Alerta Hidrológico do SGB.

Matos disse ao G1 que o Rio Negro pode ficar abaixo da cota de 16 metros em Manaus por mais dois meses, com base nas observações do ano passado, que se assemelham ao cenário atual. Conforme o SGB, na maior parte da Bacia do Amazonas, os rios estão abaixo da normalidade para a época, e em algumas áreas, as cotas já atingiram os níveis mais baixos da história.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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