Retrospectiva 2025 do caos climático: de incêndios em janeiro a enchentes em dezembro

No Brasil de secas e tempestades cada vez mais frequentes, tornado no Paraná, com ventos recordes de 250 km/h, foi evento extremo mais excepcional e provocou seis mortes

Por Oscar Valporto | ODS 13
Publicada em 30 de dezembro de 2025 - 07:46
Tempo de leitura: 10 min

Periferia de Colombo, capital do Sri Lanka, submersa após passagem de ciclone: mais de 300 mortos e 20 mil desabrigados, em ano de caos climático (Foto: Unicef – 01/12/2025)

Os últimos três anos foram os mais quentes da história da humanidade e 2025 deve ficar atrás apenas de 2024 nessa escala ascendente de temperatura. Dados do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, mostram que, até novembro, 2025 está atualmente empatado com 2023 como o segundo ano mais quente já registrado. E o ano passou com novos exemplos de caos climático: dos incêndios florestais na Califórnia, em janeiro, os mais devastadores da Costa Oeste dos EUA, a temporada mortal de ciclones tropicais no Sudeste Asiático, que causaram inundações catastróficas e quase mil mortes.

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Foram mais 365 dias de caos climático pelo mundo – desafiando a onda negacionista que ganhou um reforço gigante com a eleição de Donald Trump para um novo mandato na presidência dos Estados Unidos. Enquanto tirava o país – maior emissor histórico de gases de efeito estufa – do Acordo de Paris, o governo Trump 2 desmontava a regulamentação ambiental dos EUA e atacava os órgãos federais ligados às pesquisas ligadas ao clima e ao controle de eventos extremos.

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Por coincidência ou destino, Donald Trump tomou posse em meio a uma violenta temporada de Incêndios florestais que atingiram a Califórnia de 7 a 31 de janeiro. Foram pelo menos 30 mortes e mais de 260 mil pessoas evacuadas de suas casas. Impulsionados por fortes ventos de Santa Ana, em combinação com condições de seca extrema nos meses anteriores, os incêndios de Eaton e Pacific Palisades destruíram mais de 16 mil estruturas (residências, indústrias, estabelecimentos comerciais e outros estruturas, resultando nas maiores perdas econômicas já registradas em um evento de incêndio florestal: US$ 40 bilhões (mais de R$ 200 bilhões de reais)

Chamas na encostas se aproximam de casas no litoral da Califórnia: incêndio em Los Angeles já deixou pelo menos cinco mortos e destruiu mais de 13 mil casas (Foto: CAL FIRE / Divulgação)
Chamas na encostas se aproximam de casas no litoral da Califórnia: incêndio em Los Angeles já deixou pelo menos cinco mortos e destruiu mais de 13 mil casas (Foto: CAL FIRE / Divulgação)

Ainda em janeiro, dois violentos ciclones tropicais atingiram Moçambique, na costa Oriental: o ciclone Dikeledi passou pelo país em janeiro e o ciclone Jude em março; e somaram-se aos efeitos de Chido em dezembro de 2024. Foram mais de 1 milhão de pessoas afetadas, com pelo menos 300 mortos e 490 mil desabrigados ou deslocados e mais de 3,5 milhões de hectares de terras agrícolas impactadas.

Em abril, pelo terceiro ano consecutivo, a República Democrática do Congo (RDC) enfrentou graves temporais e inundações: foram 165 mortes, 60 mil pessoas afetados, centenas de hectares de terras agrícolas inundadas. Os piores impactos ocorreram na região metropolitana da capital Kinshasa, que foi afetada por inundações repentinas, cheias de rios e deslizamentos de terra, com mais de sete mil pessoas deslocadas. Inundações na província de Tanganyika desabrigaram quase 10 mil pessoas. Ainda na África, no final de maio repentinas atingiram o oeste da Nigéria, provocando 207 mortes e deixando centenas de desabrigados

A chegada do verão no Hemisfério Norte trouxe intensas e consecutivas ondas de calor na Europa e no Mediterrâneo Oriental: entre junho a agosto, incêndios florestais queimaram 400 mil hectares queimados. Portugal (46,6 °C) e Espanha (46,0 °C) registraram recordes nacionais de altas temperaturas em junho, enquanto outro nacional de calor (50,5 °C) foi registrado na Turquia em julho. Houve recordes de temperatura também  em partes da França e da Alemanha. Incêndios florestais causaram 29 mil deslocamentos na Espanha, 15 mil na Grécia e 50 mil na Turquia.

As mudanças climáticas intensificaram o calor do verão europeu em 2025 e causaram cerca de 16.500 mortes adicionais em 854 cidades, de acordo com estudo liderado por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM) e do Imperial College London.

O Japão e a República da Coreia tiveram o verão mais quente já registrado, com o Japão observando sua temperatura mais alta já registrada, com 41,8 °C em Isesaki, em 5 de agosto. Novos recordes de calor também foram estabelecidos em muitas áreas da China.

Deste lado do Hemisfério Norte, temporais atípicos provocaram uma tragédia no estado norte-americano do Texas, no começo de julho: foram 135 mortes e quase 500 desabrigados – pelo menos, 37 crianças estavam entre as vítimas fatais pois um acampamento para meninas foi totalmente destruído pelas águas. O Texas foi atingido por inundações repentinas severas, com chuvas de até 500mm, grande parte das precipitações em poucas horas. Este foi o desastre de inundação em terra mais significativo nos Estados Unidos em quase 50 anos.

Região do Texas alagada pela chuva: tempestade atípica e enchente provocaram mais de 80 mortes (Foto: Cheyenne Basurto / US Coast Guard)
Região do Texas alagada pela chuva: tempestade atípica e enchente provocaram mais de 80 mortes (Foto: Cheyenne Basurto / US Coast Guard)

Apesar de ter sido menos severa do que em 2023 e 2024, a seca extrema afetou milhares de pessoas Amazônia, principalmente nos meses de agosto e setembro. O fenômeno La Ninã também provocou secas prolongadas na parte mais ao sul do Continente, afetando, principalmente, Argentina, Paraguai e  o Rio Grande do Sul.

Inundações de monção, tradicionais no oeste da Ásia tiveram uma temporada particularmente intensa. Os impactos mais severos ocorreram no Paquistão, onde foram relatadas 881 mortes relacionadas a inundações até setembro: com mais de 1,5 milhão de pessoas afetadas e dois milhões de hectares de terras agrícolas inundadas. Inundações repentinas severas também afetaram o norte da Índia e Bangladesh, com impactos, inclusive, em campos de refugiados.

Em novembro e dezembro, chuvas de monções e ciclones levaram o caos climático ao Sudeste Asiático. O número de mortos na Indonésia devido às inundações ultrapassou 900, com centenas de desaparecidos. Mais de 100 mil casas foram destruídas quando um ciclone raro e poderoso se formou sobre o Estreito de Malaca a partir do último dia de novembro, com chuvas torrenciais e deslizamentos de terra em grande parte do país,

Depois da Indonésia, eventos climáticos extremos atingiram a Ásia, com o número acumulado de mortos no Sri Lanka, Tailândia, Malásia e Vietnã se aproximando de dois mil. O número de mortos devido às devastadoras inundações e deslizamentos de terra no Sri Lanka ultrapassou 330 pessoas, num dos piores desastres climáticos em décadas. Cerca de 20 mil casas foram destruídas, levando mais de 100 mil pessoas para abrigos temporários. Nos últimos dias de dezembro, equipes de resgate ainda procuravam desaparecidos no Sri Lanka.

Rio Bonito do Iguaçu destruída após passagem do tornado: especialistas alertam que mudança climática está aumentando intensidade e frequência dos tornados (Foto: Ari Dias / AEN Paraná)
Rio Bonito do Iguaçu destruída após passagem do tornado: especialistas alertam que mudança climática está aumentando intensidade e frequência dos tornados (Foto: Ari Dias / AEN Paraná)

Tornado leva caos climático ao Paraná

No Brasil, após a tragédia climática do Rio Grande do Sul em 2024, o evento climático mais extremo foi a passagem de um tornado com ventos de mais de 250 km/h – uma velocidade jamais registrada no país – no começo de novembro, na região centro-sul do Paraná, deixou seis pessoas mortas; ao menos, outras 750 ficaram feridas e receberam atendimento médico. Cinco mortes foram registradas em Rio Bonito do Iguaçu, a cidade mais atingida, e uma no município de Guarapuava, a mais de 100 quilômetros de distância.

A Defesa Civil informou, na ocasião, que 80% do município de Rio Bonito do Iguaçu – com cerca de 14 mil habitantes e a 400 km de Curitiba – ficou destruído. Um hospital de campanha foi montado no município para atender a demanda. Mais da metade das residências ficou quase uma semana sem energia elétrica.

Em dezembro, um ciclone extratropical pelo sul do Brasil gerou chuvas intensas e vendavais pelo país, provocando estragos em diversas regiões, principalmente no Centro-Sul. Em São Paulo, 36% dos clientes da Região Metropolitana de São Paulo ficaram sem energia após quase 12 horas de ventos de quase 100 km/h no dia 10 de dezembro: mais de 2,3 milhões de pessoas tiveram o abastecimento interrompido; alguns imóveis ainda estavam sem energia uma semana depois.

Dias depois, três mortes foram registradas na cidade de Palhoça, em Santa Catarina, após a passagem de um ciclone extratropical. “Não é incomum ter um ciclone esta época do ano, o que é incomum é a intensidade que estamos vendo. E os estudos indicam que esse cenário é uma tendência do aquecimento global”, afirmou o climatologista José Marengo, que coordena o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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