Protesto indígena bloqueia entrada da COP30 em Belém

Mundurukus lideraram manifestação contra grandes empreendimentos em seus territórios e pela demarcação das terras indígenas

Por Liana Melo | ODS 13
Publicada em 14 de novembro de 2025 - 12:24  -  Atualizada em 14 de novembro de 2025 - 12:44
Tempo de leitura: 4 min

Indígenas em manifestação em frente ao pavilhão COP30, em Belém: demarcação de terras e veto a grandes empreendimentos (Foto: Divulgação)

(Belém, Pará) – Foi um protesto pacífico em frente à COP30. O povo Munduruku bloqueou, desde o início da manhã, por volta das 6 horas, a entrada principal da Zona Azul, onde os negociadores estão reunidos.  Avisaram que só sairiam se fossem recebidos pelo presidente Lula. Na impossibilidade de a reunião acontecer já que Lula nem estava em Belém, a negociação com os indígenas foi conduzida pelo presidente da COP, André Corrêa do Lago.

Ao chegar ao bloqueio, acompanhado de Ana Toni, diretora-executiva da Conferência do Clima, Corrêa do Lago foi recebido pelas lideranças do movimento: o quarteto de mulheres formado por Alessandra Munduruku, Ediene Munduruku, Maria Leusa Munduruku e Anapaxu Munduruku.

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Depois de pegar uma criança indígena no colo, Corrêa do Lago, ladeada pelas lideranças, foi se reunir a portas fechadas. As ministras Sônia Guajajara (dos Povos Indígenas) e Marina Silva (do Meio Ambiente) foram convocadas. Chamados pelas lideranças indígenas, estavam presentes também o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública e outras entidades que apoiam a causa indígena.

Ninguém vai entrar”, berrava em alto e bom som Alessandra, debaixo de um sol escaldante em frente a entrada da COP30.  “Ninguém mais vai usar nossa imagem para dizer que é sustentável. Ficar falando de bioeconomia, enquanto matam nossa floresta. Chega de usar nossa imagem.”

Desde o início da semana, os povos indígenas vêm avisando que não aceitam serem excluídos do processo decisório da COP30. Assim como também, no caso dos Mundurukus, não aceitam que seu território continue sendo palco de grandes empreendimentos.

As ministras Sônia Guajajara e Marina Silva e o embaixador André Corrêa do Lago em reunião com líderes mundurukus (Foto: Divulgação)
As ministras Sônia Guajajara e Marina Silva e o embaixador André Corrêa do Lago em reunião com líderes mundurukus (Foto: Divulgação)

O decreto 12.600/ 2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias, acirra ainda mais a disputa pela água dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins. “Querem privatizar o Tapajós”, denuncia Alessandra.

Durante a reunião, o Movimento Ipereg Ayu, que liderou o movimento, entregou um documento a Corrêa do Lago. Os Mundurukus estão em mais de sete terras indígenas no sudoeste do Pará, Amazonas e Mato Grosso. As principais frentes de batalha são a luta contra o garimpo ilegal, contra portas de soja, ferrovias, hidrelétricas e hidrovias, ou seja, um conjunto de megaempreendimento.

“Lutamos contra a ganância dos pariwat (não indígenas) e lutamos pela demarcação de nossas terras Sawre Muybu e Sawre Ba pin”, diz um trecho da carta entrega ao presidente da COP30.

Em outra parte da carta, denunciam: “Nosso território não é laboratório, nem mercadoria”.

Para Marcos Apolo, advogado do Movimento Sem Terra e da coordenação da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), que participou da reunião de negociação, o protesto foi a única forma dos indígenas serem ouvidos: “Só foram ouvidos porque fizeram esse movimento.”

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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